Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Chomsky fala, em entrevista, sobre Žižek e Lacan:



Reproduzindo...


Há poucas semanas colocaram no youtube declarações de Chomsky sobre Zizek e Lacan. Julie Wark, membro do Conselho Editorial de SinPermiso e amiga pessoal de Chomsky, as transcreveu e traduziu para o Sin Permiso (SP).

Não é nova a hostilidade do grande cientista e veterano ativista político estadounidense a todas as variantes do obscurantismo pós-modernista em geral, e em particular, da “French Theory” e seus múltiplos derivados. Já faz duas décadas, por exemplo, escrevia:

“Os intelectuais de esquerda participaram ativamente da animada vida da cultura operária. Alguns buscaram compensar o caráter de classe das instituições culturais com programas de educação operários ou mediante obras de divulgação – que tiveram um êxito muito grande – sobre matemáticas, ciências e outros temas. É doloroso constatar que hoje em dia seus pretensos herdeiros ao contrário privam os trabalhadores desses instrumentos de emancipação, informando-nos, deste modo, que o ‘projeto dos Enciclopedistas’ está morto, que temos que abandonar as ‘ilusões’ da ciência e da racionalidade.  Será uma mensagem que fará felizes os poderosos, satisfeitos por monopolizar esses instrumentos para seu próprio uso.”

E faz pouco mais de 8 anos, que Chomsky explicava que quando abre uma revista especializada de matemáticas, normalmente não entende muita coisa, mas se tem interesse em compreender algum tema em especial, “sei o que tenho que fazer”. Se dirige a um amigo ou colega com conhecimentos sobre o tema que busca explicação, e lhe pede que o explique. O objetivo se cumpre de forma habitual. Mas, em notabilíssimo contraste, quando trata de ler algo escrito pelos pós-modernos que não entende, não serve de nada. “Os que praticam estas artes não parecem capazes de explicar-me o conteúdo do que se diz”. E acrescenta uma continuação: “é o contrário do que ocorre habitualmente nas ciências, nas matemáticas, na composição musical ou em outros domínios”.

A pequena entrevista que na continuação traduzimos segue esta mesma linha, que expressa com simpática contundência a indignação do homem de ciência e do homem de ação contra o não tão inócuo charlatão de salão.

George Hegel: Em uma de nossas conversas no passado, você disse que não lhe interessava muito a teoria, nem pensa que seja útil ou que tenha aplicações práticas na hora de combater e mudar estes sistemas de poder. Não obstante, em nossos tempos um dos intelectuais esquerdistas mais polivalentes, Slavoj Žižek, tem uma perspectiva quase diametralmente oposta em seu trabalho. Ele se baseia no trabalho de Derrida e Lacan e outros para explicar sua crítica do capitalismo global, a ideologia do império, e assim sucessivamente. Me explique por que você não escreveu mais livros sobre teoria política, econômica ou social e que pensa do trabalho de Slavoj Žižek, na medida que você o leu ou conheça, seu uso do trabalho do psicanalista francês Lacan e, por suposto, de Derrida, o desconstrucionismo e todo seu legado?

O aclamado e “pop” filósofo Slavoj Zizek recebe a crítica de Noam Chomsky.

Noam Chomsly: Você se refere a “Teoria” e quando disse que não me interessava por teoria, o que queria dizer é que não me interessa essa adoção de posturas mediante o uso de termos extravagantes compostos de arquisílabos, nem, menos, a ficção travestida de dispor de uma “teoria”, quando não há nenhuma teoria em absoluto. Não nada de teoria em todo este rolo, não, não, desde logo, no sentido de “teoria” de quem esteja minimamente familiarizado com as ciências, ou com qualquer outro campo sério. Tente você buscar em todo o trabalho que mencionei alguns princípios dos quais seria possível deduzir conclusões ou proposições empiricamente verificáveis e a um nível um pouco mais alto do que se possa explicar a um menino de doze anos em cinco minutos. Veja se você pode encontrar algo assim, uma vez decodificadas todas as palavras extravagantes. Eu, não posso. Carece, pois, de interesse para mim este tipo de pavoneio presunçoso.

Žižek representa um exemplo extremo do mesmo. Não vejo o menor conteúdo no que diz. Respeito Jacques Lacan, decerto é que cheguei a conhecê-lo pessoalmente. E nesse plano, me agradava bastante. Nos reuníamos de vez em quando em Paris. Mas, para dizer a verdade, sempre pensei que era um charlatão integral. Não fazia senão floreios ante as câmeras de televisão, à maneira típica de tantos intelectuais de Paris. Não tenho a menor ideia de que por que tudo isto lhe parece a você tão influente. Eu não vejo nada que mereça ter essa influência. Quiçá você me possa explicar por que pensa que é influente; se há algo importante, eu, sou incapaz de vê-lo. Não me interessam os falsários intelectuais vazios de conteúdo.

George Hegel: Creio que lhe interessa a muita gente…, sobretudo porque este trabalho é cada vez mais popular em ambientes contestatórios… recordo que ouvi o nome de Žižek há poucos anos, e agora quando vou a diferentes círculos organizadores de acontecimentos, protestos, reuniões ou assembleias, ouço todavia seu nome ou comentários sobre seu trabalho… e me parece que você, há pouco, teve uma reunião com Angela Davis, uma conversa em Boston moderada por Vijay Prashad. Eu gostaria de ver mais conversas desse tipo, até entre gente com diferentes perspectivas, por exemplo você mesmo com Slavoj Žižek, o trabalho do qual é cada vez mais influente… Você pensa que seria útil fazer esse tipo de debate, como mínimas conversações com outras pessoas da esquerda que oferecem trabalhos a gente que sim, que os encontrem interessantes? Acredita que temos que pensar nisso?

Noam Chomsky: Disse que seu trabalho é cada vez mais influente… Permita-me que duvide. Creio que suas poses e posturas são cada vez mais influentes. Mas você pode dizer a que trabalho se refere? Porque o que é, eu não o encontro. É um bom ator. Faz blefes em cena e que as coisas pareçam apaixonantes, mais você encontra algum conteúdo? Eu, não. Não tenho o menor interesse em ter uma conversa com ele, e suponho que ele tampouco gostaria de conversar comigo. Ao contrário, a conversa com Angela Davis foi boa. É uma pessoa intelectualmente estimável, pensa seriamente e tem coisas a dizer, e algumas, interessantes.

Traduzido do Espanhol ao português por Rafael V. da Silva em 09/07/2013.
Tradução ao português publicada originalmente em:


Mais aqui na #BoiTempo.



Um duelo de gigantes em 1971 Chomsky vs Foucault:

Debate by Noam Chomsky and Michel Foucault on the question of Human Nature. (Legenda Pt):



ORIGINAL:






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