A
ritalina e os riscos de um 'genocídio do futuro':
Para uns, ela
é uma droga perversa. Para outros, a 'tábua de salvação'. Trata-se da ritalina,
o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças
portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Teria o
objetivo de melhorar a concentração, diminuir o cansaço e acumular mais
informação em menos tempo.
Ocorre que
essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de ação
da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um
narcótico. No caso de consumo pela criança, que tem seu organismo ainda em fase
de formação, a ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o
devido rigor no diagnóstico. Tanto que, no momento, o país se desponta na
segunda posição mundial de consumo da droga, figurando apenas atrás dos Estados
Unidos. Como acontece com boa parte dos medicamentos da família das anfetaminas,
a ritalina 'chafurda' a ilegalidade, com jovens procurando a euforia química e
o emagrecimento sem dispor de receita médica. Fala-se muito que, se não fizer o
tratamento com a ritalina, o paciente se tornará um delinquente. "Mas
nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao
contrário: não funciona", critica a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento
de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “A gente corre
o risco de fazer um genocídio do futuro. Mais vale a orientação familiar”,
encoraja a pediatra, que concedeu entrevista, a seguir, ao Portal Unicamp.
"Portal
Unicamp – Quem está sendo medicado?
Cida
Moysés – São as crianças questionadoras (que não se submetem
facilmente às regras) e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que
‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as
utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de 1.000 anos atrás porque muita
gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Quando
impedimos isso quimicamente, segundo a frase de um psiquiatra uruguaio, “a
gente corre o risco de estar fazendo um genocídio do futuro”. Estamos
dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes.
E isso é terrível".
Ler toda
entrevista:
Para colaborar
com o tema da entrevista, podemos, também, assistir dois documentários:
A
Medicalização da Vida (Nau dos Insensatos):
Psiquiatria:
A Indústria da Morte (Completo):
Por garantia,
caso o link seja invalidado, temos estes de reserva:
Primeira parte
de 11: http://youtu.be/c1NF7x-yfuc
* Sugestão
de um livro organizado pela Universidade do Estado de Minas Gerais, que traz o
debate muito interessante sobre o DSM-V:
Este livro faz
parte do Movimento Internacional STOP-DSM. Este movimento foi criado
internacionalmente para debater o Manual diagnóstico. Manifestos que questionaram
validade das categorias diagnósticas do DSM e seu impulso medicalizante. Esses
manifestos visam a apontar para outra prática diagnóstica possível. Infelizmente
o DSM-V foi aprovado em junho de 2013 (se não me engano). Mas, o debate e a
busca de alternativas são contínuos.
Um livro para
leitura (imprescindível) que infelizmente não encontrei na net, mas pode ser
buscado em várias bibliotecas: “O Livro Negro da Psicopatologia Contemporânea”,
Org. Alfredo Jerusalinsky.
Outros
artigos:
Imagens do Filme, "Um Estranho no Ninho" (Eternamente um Clássico). |
“A única vantagem que um psicanalista tem o direito de tirar de sua posição, sendo-lhe esta reconhecida como tal, é a de se lembrar, com Freud, que em sua matéria o artista sempre o precede e, portanto, ele não tem que bancar o psicólogo quando o artista lhe desbrava o caminho”.
(LACAN,
Outros Escritos. 2003 p. 200).
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