Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Aldous Huxley de Portas Abertas:



“Quando se traça um ideal, pode-se vislumbrar o que se pretende, mas é preciso evitar o impossível”.
(Aristóteles)

Se Aldous Huxley estivesse vivo, provavelmente seria um bebedor de santo daime e, quem sabe, viveria em alguma região da Amazônia. Mas ele não era hippie nem tão pouco tropicalista.

Toda uma geração que contestou velhos costumes adotou Huxley como amuleto de subversão. Foram seus escritos, seu pensamento e seus relatos de experiências que trouxeram importantes reflexões para o mundo científico e para vivências individuais sobre questões que, se perpassam a questão das drogas, em verdade miram a própria existência humana em toda sua complexidade. Huxley acreditou que o Peiote (mescalina) pudesse provocar a abertura da consciência humana (experiências alteradoras ou geradoras de consciência). Portas da Percepção é até hoje exemplar raro de exercício lírico e investigativo sobre a experiência psiconáutica.

Admirável Mundo Novo, publicado em 1932 continua contestando nosso sistema e nossos ideais sociais. Um livro visionário, pois, a sociedade contemporânea perpetua sua fuga do sofrimento e da angústia humana. Se no livro, as pessoas encontraram através do soma uma forma de atingir o gozo pleno, o nosso soma atual parece ser o consumo – consumo de produtos, medicamentos, drogas, alimentos, pessoas, imagens. Consumo de toda e qualquer coisa capaz de nos tirar da angústia da existência. Consumimos a nós mesmos.

A Sociedade imaginada por Huxley utilizou a genética, a clonagem para o condicionamento e o controle dos indivíduos. Nesta sociedade futurista, todas as crianças são concebidas pela gestação de proveta. Estes “novos” indivíduos são geneticamente condicionados para pertencerem a uma das 5 categorias da população. Da mais inteligente a mais estupida: Alpha (a elite), Betas (executantes/trabalhadores), Gammas (empregados subalternos), Deltas e os Ípsilones (destinados aos trabalhos árduos). “Admirável Mundo Novo” ou na melhor das traduções em espanhol “El Mundo Feliz”, descreve de maneira perspicaz o que seria uma ditadura perfeita, que tem a aparência de uma democracia capaz de nos fazer crer na liberdade. Um cárcere sem muros no qual os prisioneiros jamais sonham com a fuga. Um sistema escravo onde, graças ao sistema de consumo e de entretenimento, os escravos tendem a amar sua servidão.

O mais bacana de tudo é encontrar figuras incontestes da história social e científica, como figuras emblemáticas desta sociedade futurista, como a exemplo do Henry Ford, Freud, Marx, Pavlov, além das diversas citações das obras de Shakespeare.

Admirável Mundo Novo é o mundo em que vivemos...

Encontrei algumas coisas do Huxley e vou fixar aqui para compartilhar:


Filme, Admirável Mundo Novo (1980):



 Entrevista com Aldous Huxley, feita pelo jornalista Mike Wallace em 1958:



Aldous Huxley (Película documental):



Palestra de Guilherme Freire no Círculo de Estudos Políticos:




"Para todos aqueles que recusaram a ‘pílula vermelha’"
Aldous Huxley 1958.



Aldous Huxley para Ingerir Oniricamente:

(Doses diárias e generosas para ver tudo colorido ou não...)






Carta escrita por Aldous Huxley para George Orwell:

Wrightwood. Cal.

21 de Outubro de 1949

Caro Sr. Orwell,

Foi muito gentil de sua parte pedir para os seus editores me mandarem uma cópia do seu livro. Chegou quando eu estava no meio de um trabalho que exigia bastante leitura e consultas a referências; e devido a minha visão deficiente é necessário que eu modere a minha leitura. Eu tive que esperar um longo tempo para embarcar na leitura de 1984.

Concordando com todas as críticas escritas sobre ele, não preciso dizer a você, mais uma vez, o quão bom e profundamente importante o seu livro é. Deixe-me então falar sobre o assunto que o livro aborda – a revolução final? Os primeiros sinais de uma filosofia da revolução final – a revolução que vai além da politica e economia, que visa à subversão total da psicologia e fisiologia do indivíduo – serão achados no Marquês de Sade, que se considerava o continuador, o consumador, de Robespierre e Babeuf. A filosofia da minoria dominante em 1984 é um sadismo que foi levado para sua conclusão lógica, além do sexo e da negação dele. Mesmo que na realidade a política “bota-na-cara” (boot-on-the-face) possa seguir indefinidamente, parece improvável. Acredito que a minoria oligárquica encontrará métodos menos árduos e sem desperdícios de governar e satisfazer seu desejo de poder, e esses métodos vão lembrar aqueles que eu descrevi em Admirável Mundo Novo. Eu tive recentemente a oportunidade de examinar a história do magnetismo e hipnotismo animal, e fiquei impressionado pela maneira como, durante 150 anos, o mundo se recusou a conhecer seriamente as descobertas de Mesmer, Braid, Esdaile e o resto.

Em parte por causa do materialismo vigente e em parte por causa da respeitabilidade, filósofos do século 19 e homens da ciência não estavam dispostos a investigar os fatos mais estranhos da psicologia para os homens práticos, como os políticos, soldados e policiais, para aplicar no campo do governo. Graças à ignorância voluntária de nossos pais, o acontecimento da revolução final foi adiado em cinco ou seis gerações. Outro acidente de sorte, foi à inabilidade de Freud para hipnotizar com sucesso e sua consequente descredibilidade do hipnotismo. Isso atrasou a aplicação do hipnotismo na psiquiatria por pelo menos 40 anos. Mas agora a psicanálise esta sendo combinada à hipnose; e a hipnose se tornou mais fácil e indefinidamente expansível com o uso de barbitúricos [soníferos, calmantes], que induzem a hipnose e estados sugestíveis mesmo nos assuntos mais recalcitrantes.

Na próxima geração eu acredito que os governantes do mundo vão descobrir que condicionamento infantil e narco-hipnose são mais eficientes, como instrumentos de governo, do que clubes e prisões, e que o desejo de poder pode ser completamente satisfeito sugerindo às pessoas o amor pela servidão assim como por punições até torna-los obedientes. Em outras palavras, eu sinto que o pesadelo de 1984 é destinado a modular, se integrar ao pesadelo de um mundo mais parecido com aquele que imaginei em Admirável Mundo Novo.  A mudança será trazida como resultado de um necessário aumento na eficiência. Enquanto isso, é claro, talvez ocorra uma grande guerra biológica ou atômica – nesse caso nós teremos tipos inimagináveis de pesadelos.

Obrigado mais uma vez pelo livro.

Sinceramente,

Aldous Huxley




Discurso de Aldous Huxley em 1962, pouco antes de sua morte, sobre a ditadura científica do futuro retratada em seu livro "Admirável Mundo Novo", escrito em 1932:



Livros de Huxley em português:

(Façam uma caçada pela net, bibliotecas, sebos e digitalizem para bebermos e perpetuarmos os sonhos. A internet está encolhendo): 

  • Geração Devassa
  • A Eminência Parda
  • A feira de Crone
  • Admirável Mundo Novo (Ouvindo Livros)
  • Adônis e o Alfabeto
  • As Despedidas Estéreis
  • Contos Escolhidos - Aldous Huxley
  • Demônios da Loucura
  • Felizmente Sempre
  • Fogo-Fátuo
  • Folhas Inúteis
  • Geração Perdida
  • Huxley e Deus
  • O Despertar do Mundo Novo
  • Satânicos e Visionários
  • Visionários e Precursores
  • Também o Cisne Morre (Leitura online)




Ahhh podemos cantar:



“O mal da ficção (…) é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido. (…) A ficção tem unidade, a ficção tem estilo. A realidade não possui nem uma coisa nem outra. Em seu estado bruto, a existência é sempre um infernal emaranhado de coisas (…) O critério da realidade é a sua incongruência intrínseca.”

(Huxley – O Gênio e a Deusa.)


Coragem! Vocês precisam lembrar que a tristeza e a angústia fazem parte da história da humanidade.


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