De ALFREDO JERUSALINSKY
O difundido
até agora pela série dirigida por Drauzio Varella, no programa televisivo
Fantástico, acerca do autismo constitui um ataque público contra os CAPS
(porque de acordo com a lista os CAPS ficam excluídos dos sistemas de
tratamento), contra o SUS (porque ao dizer que nada funciona a proposta oculta
é eliminá-lo), contra as intervenções precoces (porque se é incurável o momento
da intervenção perde valor), contra os autistas que poderiam se curar se
recebessem um tratamento que oferecesse a eles a chance de se constituírem como
sujeitos (porque sendo incuráveis e doentes inatos - segundo o difundido pelo
Drauzio Varella e seus escolhidos - só caberia treiná-los para que se acomodem
às exigências familiares ou institucionais). Tudo isso mostra o caráter
puramente político e anticientífico dessa difusão. É uma exibição de poder
daquelas instituições que escolhem o pior caminho para os autistas: as que se
equivocaram com a Sindrome de Asperger – que não existe mais segundo o DSM V -;
as que produziram uma falsa epidemia de autismo e TDAH usando instrumentos
diagnósticos inspirados no DSM IV; as que levaram a invalidar pesquisas
genéticas potencialmente valiosas porque os métodos de diagnóstico por elas
escolhidos criaram amostras heterogêneas e indefinidas; porque determinam
antecipadamente para os bebês que apresentam riscos de autismo o uso de métodos
“terapêuticos” que elas justificam e fundamentam na suposta incurabilidade
generalizada de todos os autistas com o qual – pelas consequências da aplicação
desses métodos – acabam precipitando o risco na efetivação do quadro autístico
e, por acréscimo, criando condições reativas que conduzem para a
incurabilidade; porque se sustentam no método diagnóstico proposto pelo DSM IV
e pelo DSM V, que o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos de
América deixou de usar pela baixa validade e pelos efeitos negativos de seu
uso.
O abuso de
poder se configura, nesse caso, pela imposição de concepções unilaterais, pela
ignorância e desconhecimento ativo de contribuições clínicas e psicanalíticas
desenvolvidos internacionalmente nos últimos 70 anos (o autismo foi descrito em
1943), pela ostensiva tentativa de deixar fora da demanda e do conhecimento
públicos as instituições (CAPS) que se ocupam comunitariamente das terapias do
autismo nos mais diversos cantos do país e as quais o conjunto da população têm
mais imediato e gratuito acesso.
A dor e o
sofrimento não justificam – nem inconscientemente - o abuso de poder,
simplesmente porque tal abuso somente se torna necessário quando os atos não
estão inspirados pela razão. Nesse caso tais atos somente podem produzir mais
sofrimento.
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