Uma Imagem:
Uma Música:
(Liliana Iciksonas)
Uma Poesia:
Poema
em Linha Reta:
Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos
os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu,
tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu
tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente
sujo.
Eu, que
tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que
tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que
tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que
tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que
tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando
não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que
tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que
tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que
tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu,
que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para
fora da possibilidade do soco;
Eu, que
tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu
verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a
gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca
teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca
foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me
dera ouvir de alguém a voz humana
Que
confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que
contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não,
são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há
neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó
príncipes, meus irmãos,
(…)
Arre,
estou farto de semideuses!
Onde é
que há gente no mundo?
Então
sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão
as mulheres não os terem amado,
Podem
ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu,
que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como
posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que
tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no
sentido mesquinho e infame da vileza.
(Fernando Pessoa - Álvaro de Campos)
Um Matema:
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