Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


domingo, 12 de dezembro de 2010

Adolescência e Conflito com a Lei: Material para Download



* Revista da defensoria publica de SP:

Edição Especial Temática sobre Infância e Juventude

A publicação é resultado de esforços da Defensoria Pública de São Paulo, através do Núcleo Especializado da Infância e Juventude.

A presente publicação representa a convergência de ações, na busca de criar e aperfeiçoar estratégias de atuação dos Defensores Públicos com atuação na defesa e promoção dos direitos das crianças e adolescente. Para isto, a revista se propõe a discutir a elaboração de diretrizes sustentáveis no tocante à atuação do Defensor Público dentro do Sistema de Garantia dos Direitos das Crianças e Adolescentes.

Organizadores: Defensoria Pública do Estado de São Paulo
Ano: 2010
Clique aqui para baixar.


* MEDIDA LEGAL – A experiência de 5 Programas de Medidas Sócio-Educativa em Meio Aberto.

Livro traz um diagnóstico da municipalização da liberdade assistida e do perfil socioeconômico e familiar dos adolescentes em cumprimento da medida, por meio de umapesquisa em Guarulhos, Guarujá, Campinas e Jandira.

Durante 7 meses, foram entrevistados 481 adolescentes que cumpriam liberdade assistida ou prestação de serviço à comunidade em programas desenvolvidos nas cidades de Guarulhos, Jandira, Guarujá e Campinas. A partir das percepções dos adolescentes nos programas socioeducativos, foi possível obter uma avaliação do programa em diversos quesitos: atividades desenvolvidas, atendimento, localização, estrutura física, significado da medida na vida dos adolescentes etc.

Organizadores: Ilanud e Fundação Telefônica
Ano: 2008
Clique aqui para baixar.


* EM DEFESA DO ADOLESCENTE: Protagonismo das famílias na defesa dos direitos dos adolescentes em Comprimento de Medidas Sócio-Educativas.

Em defesa do adolescente. Protagonismo das famílias na defesa dos direitos dos adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas

Cartilha fruto um projeto feito pelo Ilanud e pelo Unicef com o intuito de fortalecer o envolvimento das famílias no cumprimento da medida socioeducativa de internação.

Organização: Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco (Amar) e o Cedeca "Mônica Paião Trevisan" - Sapopemba, Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) e Conectas Direitos Humanos.
Ano: 2008
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* Justiça, Adolescente e Ato Infracional:

Esta publicação é um dos produtos do projeto "Atualização e Integração de Operadores do Direito: fortalecendo o eixo da defesa e do controle social na garantia de direitos do adolescente em con¬flito com a lei", mas que cumpre uma dupla função.

A primeira é servir como material de suporte de quatro oficinas do projeto, que contaram com a participação de operadores do direito atuantes no âmbito do sistema de justiça da infância e da juventude. A segunda é oferecer um apanhado bastante representativo das principais discussões levadas a cabo ao longo dos mais de quinze anos de vigência do Estatuto da Criança e do Adoles¬cente, um diploma legal que lançou nova luz sobre o tratamento reser¬vado ao adolescente com conflito com a lei, mas que, infelizmente, ainda não foi inteiramente assimilado por todos aqueles que atuam na área da infância e da juventude.

Organização: Ilanud, Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), Associação Brasileira de Magistrados e Promotores para a Infância e Juventude (ABMP) e Fundo das Nações Unidas para a População (Unfpa).
Ano de publicação: 2006
Clique aqui para baixar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Salmo de Repúdio à Schreber: O Deus dos Nervos.



Enoja-me a arrogância de Schreber.

Sinto nojo de sua loucura e de sua capacidade de loucura.

Vontade de dar na cara desse maluco!

Desespera-me a sua incredulidade e seu poder de Deus.

Porque ele e não eu?

Queria poder sentir os raios divinos percorrendo com ânsia o meu corpo anoréxico e hipocondríaco.

Queria ser homem e sentir-me mulher no momento da cópula.

Schreber, eu te abomino, filho do sol. Filho de um louco, mais louco que tu.

Quisera ter o poder de recomposição para fugir de minhas sombras de pensamentos.

Desgraça! Desgraça!

Náusea-me que Deus, na sua decadente onipotência, o reconstrua novamente.

Rogo-te todos os venenos dos cadáveres de teu pai – apodreça verme! E que em teu estupor alucinatório, aquele Deus de teus delírios, te faça sofrer sem vísceras.

Que ao contrário da ordem das coisas, Miss Schreber, Deus te coma pelo rabo, seu maldito!

Redentor, progenitor ah como te detesto!

Eu quero, na minha agridoce inveja, nem que seja uma pena dos teus pássaros negros. Quem sabe mesmo, que você sinta pena de mim.

Schreber diga, diga alto e em bom tom, para as almas do teu inferno particular, para que elas encontrem a minha alma e, então, possam me dar um nervo de teu Senhor. Pois preciso disto para aliviar as minhas fantasias e os meus pensamentos sem grandeza – esses pensamentos duvidosos que temem demasiadamente o Deus Arimã.

Schreber seu arrogante e narcisista, quem mais poderia dizer dos pássaros miraculosos e dos pássaros falantes? Que outra alma mais infame que a tua?

Teu eu não existe! Ninguém te avisou? Não te avisaram que o veneno da ptomaína é veneno de tua bastarda mãe e untado por teu pai tirano? Coitado! O veneno é teu espelho decadente. Quisera poder sussurrar em teus ouvidos esta frase.

Louco arrogante extraordinário filho do sol, és uma águia. Serias capaz de furar meus olhos e, assim, me cegar por completo até o cair de minha pena e de minha voz?

Eu engulo a seco o meu fraco e franco narcisismo melancólico, pois não sou hábil o suficiente nem para ver o demônio – tenho sim, confesso, uns demônios pobrezinhos, diabinhos dentro de mim – diabinhos do prazer de repetir rituaiszinhos diminutos sem qualquer beleza translúcida.

Meu pobre eu é dominado por uma dívida avulsa, sem preço e impagável. De que me adianta arrancar-me a pele para purificar bactérias, se não sou capaz nem de um leve delírio de grandeza? Os vírus e as bactérias riem de mim, então tenho que amortece-las sob a etílica vontade de morrer.

Meu pai talvez seja filho do coco de teu pai miraculoso, ou seja, um verme. E eu filha deste verme.

Schreber Deus dos Nervos tu és um assassino de almas, de sonhos e de fantasias. Eu te vomito te defeco e te enclausuro na minha dor.

Tu és um veado, louco para dar o rabo!

Deus dos Nervos eu te rumino em eletrochoques dos meus neurônios incandescidos. Enquanto eu pensar, mais te eletrocuto seu ordinariozinho.

Ah! Schreber Semideus espedaçado tenha piedade de mim!


- Luciana Mai -  (07.04.2010)

sábado, 4 de dezembro de 2010

QUERÔ - O FIlme



Pesquisando traças e troços pela net e pela vida me deparei com Querô.

O filme Querô vem de encontro ao meu estudo com a temática dos adolescentes em conflito com a lei, dentro da área de psicanálise e psicologia social. Deixo aqui no blog, por hora, os links de acesso à alguns materiais – Por hora, deixo as coisas, só as coisas soltas, avoadas, perdidas, angustiadas... o resto está em construção, em estado de ebulição. Quando tem angústia é sinal de que algo acontece secretamente, não tão secretamente assim, mas uma precipitação de estados, uma procura de um nome, um encontro de uma Coisa que evoca Aquilo que não sei o quê.

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QUERÔ - O FILME:

Querô é um filme brasileiro de 2007 do gênero Drama, dirigido por Carlos Cortez, baseado na obra de Plínio Marcos. É uma produção da Gullane Filmes, com o apoio do Porto de Santos.

O personagem principal - Querô (seu apelido pois sua mãe morreu após se embriagar com uma garrafa de querosene) é um menor abandonado, criado pela vida. Sobrevivendo sozinho na região portuária de Santos, em situação de pobreza e abandono. Querô não se dobra à disciplina opressora da Febem, ao jogo fácil do tráfico de drogas e, muito menos aos policiais corruptos que o perseguem.

* Link Ofícial do Filme:
http://www.queroofilme.com.br/site.htm


* Oficinas Querô: http://www.oficinasquero.org/

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Querô Baixar Assistir:



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Baixar Plínio Marcos:


* A Balada de um Palhaço: http://www.4shared.com/document/bEsJqi2b/balada_de_um_palhao.html
* Navalha na Carne: http://www.4shared.com/file/182737602/aa15d180/Plnio_Marcos_-_Navalha_na_carn.html

* Dois Perdidos Numa Noite Suja: http://www.4shared.com/document/sWxeT5vx/Dois_Perdidos_Numa_Noite_Suja_.html


Da Horda ao Estado


* Luciana V. K. Mai - Psicologia Unijuí.


Freud discorreu, em “Totem e Tabu” sobre a importância da morte do pai da horda primitiva como um evento constitutivo da civilização. Para ele, este ato foi necessário para a transformação da vontade de um único, em uma lei comum, marcada pelo interdito do incesto. Então, a civilização, a cultura e o social são dimensões, instâncias criadas e organizadas pelo homem, de forma política.

Este texto freudiano juntamente com o texto “Mal Estar na Civilização”, são produções indispensáveis para se pensar o social. Em nosso estágio tornaram-se bases sólidas quanto às questões que nos remetem aos temas do vínculo familiar, da violência, da lei simbólica, do Estado e da própria constituição das instituições.

“Totem e Tabu” nos norteou, quanto aos fundamentos dos processos sociais, ou seja, daquilo que circunda a condição humana. A exemplo de nosso estudo, com adolescentes em conflito com a Lei, constantemente somos convocados a questionar o que o social tem haver com o sujeito. Que sujeito é esse? Que cultura é essa? Assim, saímos de um pensamento centrado no indivíduo, para o olhar do sujeito, implicado no social. Destacamos do texto, interpretado por Engène Enriquez, algumas passagens significativas que contribuíram para a construção de alguns pressupostos teóricos.

Enriquez assim enuncia: “A humanidade nasceu de um crime cometido em conjunto. Crime do qual não pode jamais se libertar. Este crime não é senão, o prelúdio de uma série ininterrupta de assassinatos, que parece ser o corolário normal da existência humana em sociedade” (p. 29).

O mito, contemporâneo, da horda primitiva, criado por Freud, chega mesmo a nos assombrar. Se desdobrássemos a frase, diríamos que nos assombra, verdadeiramente, em todos os sentidos, pois, a humanidade carrega e transmite incessantemente a marca deste fantasma. A cultura resumida em uma premissa: ela própria é a constituição psíquica do sujeito. Então, se a humanidade nasceu de um crime, ela mesma se compromete na redenção deste crime, através de uma série de significações expressas na organização da sociedade e na organização psíquica do sujeito – constroem-se objetos para fundar uma subjetividade.


(...) A impotência os torna irmãos (a exclusão), mas não basta; primeiro tem que se estabelecer uma relação de solidariedade, então reconhecer o outro enquanto outro e enquanto semelhantes, daí se reconhecem como irmãos. Eles se descobrem irmãos. Eles se identificam uns com os outros (o desejo é compartilhado). Experimentam a solidariedade e reconhecem o vínculo libidinal que os une no ódio comum contra o pai. (ENRIQUEZ – p. 31)


A “fórmula” da horda primitiva nos leva à compreensão da origem da cultura, pois, sem um ato fundador, o homem seria apenas um bípede, sem penas. Na medida em que este homem reconhece os seus semelhantes e se reconhece enquanto sujeito, ele transforma-se num ser social que passa a estabelecer laços significantes, ou seja, constitui-se a partir da dimensão da linguagem. Algo precisa ser referência para que se faça laço social – “a impotência os torna irmãos” – na luta contra um pai selvagem e violento. Portanto, a identificação é um dos primeiros laços. Posteriormente, estabelecesse-se uma relação de solidariedade para assim, reconhecer o outro e compartilhar um desejo em comum. Matar o pai da horda é fazer um ‘furo’ que adentre numa dimensão simbólica indispensável para criação da cultura.


(...) O parricídio é indispensável para a criação da cultura, ele nos introduz no mundo da culpabilização, da renúncia (tanto da realização do desejo, como ao desejo de realização), da necessidade da referência de uma lei externa transcendente. Tudo isso se manifestará em organização social, restrições morais, e da religião. (ENRIQUEZ – p.34)


Funda-se um pai, funda-se a lei e estabelece-se uma culpa compartilhada por todos e que é paga com constantes renúncias, ou seja, renunciar a um gozo numa dimensão de alteridade, para dizer de uma falta própria. A culpa encontra sua origem no retorno do amor sob a forma do remorso. O amor está, assim, na origem da consciência moral perpassado pelo sentimento de culpa. O símbolo deste ato agressivo de assassinato do pai causou remorso pelo amor que devotavam; aliás, é o próprio ato que cria um pai. Amor e ódio estão assim conjugados na fundação do laço social. Sem a apropriação desses conceitos, parece-nos improvável que um profissional de psicologia possa dialogar com a psicologia social e conjugar sujeito e cultura.

domingo, 7 de novembro de 2010

Existe prazer em matar?



O ser humano é agressivo e a agressividade é a conduta essencial à sobrevivência: seja para caçar, disputar parceiros sexuais ou para sobrepujar outros na conquista de bens escassos. Além disso, no caso do ser humano, a agressividade está relacionada com as atividades de pensamento, imaginação e ação verba/não verbal.

Consequentemente, alguém "muito bonzinho" poderá ter fantasias destrutivas ou até mesmo sua agressividade poderá se manifestar pela sua ironia, tornando-se irreconhecível perante as pessoas com quem convive. A educação e o meio social buscam o controle dessa agressividade. Assim, desde criança o ser humano aprende a reprimi-la e a não expressá-la de modo descontrolado e descontínuo, ao mesmo tempo em que a cultura cria condições de levar esses mesmos impulsos para as artes, esportes etc.

Para a Psicanálise, a agressividade é constitutiva do ser humano, é a ruptura do pacto social na própria sociedade, é a perfeita anomia representada pelo sujeito. E esse rompimento social pode implicar do ponto de vista inconsciente, a ruptura com o pacto edípico, desencadeando comportamentos delinquentes. Esse esvaziamento do real valor simbólico da lei, introjetada por Freud, é o verdadeiro sentido psicanalítico desta ausência de regras. Freud, como psicanalista, construiu sua teoria permeando nas evidências da constituição do sujeito a implicação da relação com o outro.

Essa função controladora ocorre no processo de socialização, no qual se espera que, a partir de vínculos significativos que o indivíduo estabelece com os outros, ele passe a internalizar os controles. Aí deixa de ser necessário o controle externo, porque o controle interno já se encontra dentro do indivíduo. Em todos os grupos sociais há mecanismos de controle e/ou punição dos comportamentos agressivos que não são valorizados pelo próprio grupo. E a sociedade também apresenta seus mecanismos, que se apresentam nas leis.

A estrutura social define o status e os papéis dos sujeitos e a estrutura cultural define as metas a serem alcançadas por parte dos membros da sociedade, assim como normas que devem seguir para que alcancem metas estabelecidas. A fragmentação do mundo social se revela quando somos incapazes de impedir que a violência se desencadeie como alternativa à solução de carências e conflitos, uma forma de reação pretextada pela luta pela sobrevivência, alimentando cada vez mais violência num processo social desenfreado e competitivo. As causas deste processo são multifatoriais e suas facetas são múltiplas.

A Psicologia Criminal, juntamente com a Psicanálise, verifica o estudo das relações entre o fenômeno exercido ou vivido do crime e a personalidade de seu autor e também da própria vítima, permitindo uma compreensão apurada dos acontecimentos da ação e do sofrimento alheio, associando a tudo isso um estado de "perturbação mental", alterando com desvios de comportamento quando o indivíduo alterna desempenhos na sua capacidade pensante.

Este transtorno está ligado a um estado de afetividade que se manifesta em violência, com requintes de crueldade e motivação momentânea. Pela motivação para a prática do ato violento pode-se considerar a existência de basicamente dois tipos de homicidas: o homicida emocional age com violenta emoção, por perceber a ocorrência de provocação injusta (causando indignação) por parte da vítima, produzindo uma ira que conduz à prática do delito, sem intervalo entre a provocação e reação. Já o homicida passional possui a incerteza do enigma de ser ou não amado (impotência para o desejo do outro) e assim vive uma experiência de privação, cuja incerteza o leva à prática delituosa. O que ele deseja é apenas a morte, símbolo imaginário que se caracteriza com seus desejos íntimos, ritualizados por prazer sádico. Esse desejo se revela no ato de destruir o outro "ruim", cuja dor sofrida é vista pela ação agressiva como uma compensação ritualizada do prazer.

Visão Freudiana

Um dos princípios que rege o funcionamento mental é o prazer: a atividade psíquica no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer.

Sigmund Freud considera o complexo da violência como algo decorrente de possuir o homem um instinto natural agressivo. Ao se aplicar a teoria freudiana à criminalidade, há indicações de um conflito entre o superego, id e ego, favorecendo o surgimento de um egoísmo ilimitado, um forte impulso destruidor, uma ausência total de amor e uma falta de avaliação emocional dos seres humanos vistos como objetos, com um sentimento de culpabilidade que se busca sufocar por vários tipos de racionalização.

Freud explorou o conceito de que existe um conflito dentro das pessoas. O conflito seria de um instinto animal, recusado pela sociedade, causando então uma resistência do sujeito ao instinto. O sujeito reprime o instinto para o inconsciente e procura substituí-lo por outros métodos de compensação.

Texto completo:  REVISTA PSÍQUE (Artigo de Cláudia Maria França Pádua - Psicóloga e Criminóloga)

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Sugestões de Leituras e Filmes:
 
*  Prazer, Meu Nome é Morte (ARTIGO MT BOM)

* Considerações Acerca do Fenômeno dos Assassinos em Série (Artigo)

Abaixa os Filme:

* Filme: O Talentoso Ripley

* Filme: Hannibal - A Origem do Mal

* Filme: Perfume - A História de um Assassino

* Filme: Instinto Secreto

* Filme: Encontro Marcado (Para Pensarmos as Pulsões)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mal Estar na Cultura: Freud



* Luciana V. K. Mai - Psicologia Unijuí.


Quando da escritura do texto “Mal Estar na Cultura”, Freud teceu as seguintes considerações:

“Em nenhum de meus trabalhos anteriores tive, tão forte como agora, a impressão de que o que estou descrevendo pertence ao conhecimento comum e de que estou desperdiçando papel e tinta.... para expor coisas que, na realidade, são evidentemente por si mesmas”.

“O que eu haveria de fazer? Não se pode fumar o dia inteiro e jogar cartas; não tenho mais firmeza para andar, e a maior parte do que se pode ler não me interessa mais. Eu escrevi, e passei muito agradavelmente o tempo com isso”.

As reflexões de Freud suscitam a sua dúvida, como também, uma necessidade teórica da psicanálise em consonância com uma leitura mais sociológica da civilização para que se possa dar conta daquilo que vem dos homens pelo social. Em carta para Lou Andréas-Salomé, ele diz: “Este livro trata da civilização, do sentimento de culpa, da felicidade e de outras coisas nobres do mesmo gênero....” Mas segue dizendo que, “(...) Enquanto me dedicava a este trabalho, descobri as verdades mais banais”.

Quando Freud se refere às verdades banais, nos reportamos ao Capítulo II, onde ele nos ilustra varias formas de se obter a felicidade. Ora, existiria coisa mais banal do que a chamada felicidade? Na seqüência do Capítulo III, a sua premissa nos leva a crer que sim: “(...) A nossa investigação sobre a felicidade não nos ensinou quase nada, que já não pertença ao conhecimento comum”. No entanto, esta coisa chamada felicidade é o que o homem mais persegue e, para compreender este percurso da civilização humana, a grande questão não é propriamente o que o faz feliz, mas o que o homem faz, no sentido da ação, da atividade na cultura, para evitar o sofrimento.

Quais seriam as fontes do sofrimento humano? Freud nos indicou três elementos:
- O poder superior da natureza;
- A fragilidade de nossos próprios corpos.
- A inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade.

Quanto aos dois primeiros elementos, não há como discordar: “Nunca dominaremos completamente a natureza, e o nosso organismo corporal, ele mesmo parte dessa natureza, permanecerá sempre como uma estrutura passageira, com limitada capacidade de adaptação e de realização”.

Mesmo que o homem domine toda tecnologia, ciência, arte e intelectualidade, o que permanece, transforma-se em processo da civilização – um processo sócio-histórico; seu corpo propriamente se desintegra; sua matéria é incorporada ao grande todo da natureza. Como em poesia de Augusto dos Anjos: “Eu filho do carbono e do amoníaco, digerido e carcomido pelos abomináveis vermes da morte que fazem parte da terra”. No entanto, nada disso paralisa o homem, pelo contrario, ele se serve de seus conhecimentos para aprimorar aquilo que lhe traga momentânea parcela de prazer e felicidade. O saber da morte e sentimento de sofrimento move a civilização, a impulsiona na criatividade das próteses da vida. A contemporaneidade nos prova isto de maneira muito clara, se pensarmos nos elixires, cremes, cirurgias estéticas e toda gama de ciência e tecnologia médica e estética a procura da longevidade. Afora as logosofias, espiritualismos, religiões e auto-ajuda para o homem melhor desfrutar aquilo que chama de vida. Desta forma, o movimento da vida procura, de todas as formas, evitar o movimento da morte. Aquilo que Freud, lá no texto das Pulsões e no texto Além do Princípio do prazer, já antecipava, uma luta constante de EROS e Thanatos.

A terceira fonte do sofrimento humano, poderíamos dizer que é o próprio homem em ação sobre si mesmo. Freud chama de “A Fonte Social do Sofrimento Humano” e acrescenta dizendo que esta fonte é uma parcela de nossa própria constituição psíquica. Ou seja, não há como fugir, ela faz parte de nós. Então, nossa fuga é fuga de nós mesmos. “Todas as coisas que o homem busca a fim de se proteger contra ameaças oriundas das fontes de sofrimento, fazem parte da cultura”. Freud usa o seguinte argumento: “O que chamamos de nossa civilização é em grande parte responsável por nossa desgraça e que seríamos muito felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas”.

A cultura humana é algo superficial, não faz parte da natureza. As regras, a família, o Estado, a religião, a sociedade, são criações do homem civilizado numa tentativa de conter os efeitos devastadores daquilo que ele mais anseia – o prazer de um gozo ilimitado, a plena e desconhecida felicidade que tanto o homem almeja para sair de uma condição de prótese artificial. Pois se a natureza goza, então, o homem se sente, também, no direito de desfrutar o impossível, sendo que ele é uma extensão da natureza, mesmo numa condição de artificialidade.

Freud afirma: “Não nos sentimos confortáveis na civilização atual”. E ainda, “a felicidade é algo essencialmente subjetivo”. Então, cada homem, por sua vez, procura da melhor forma e de acordo com sua época, produzir o que lhe traga prazer e alivio do sofrimento. Pois não existe um estado pleno e geral de felicidade e prazer, isto seria o Caos, um estado primordial de origem. Mas se ele existiu, o homem procura ainda este efeito de estado nas coisas e na vida. Diríamos que é uma constante e, então, voltamos às vicissitudes da pulsão. Neste processo de cultura o homem aprendeu a se proteger e criou mecanismos para tolerar as suas frustrações numa sociedade que lhe impõe limites, por isso, doravante, a proteção se faz por meio de um sintoma social, onde o mesmo é fonte e alivio do sofrimento. Freud nos traz como exemplo a religião, ou como ele mesmo nos diz “a vitória do cristianismo sobre o paganismo”, ao qual supomos a neurose – a estrutura ou enfermidade neurótica como uma forma de fuga da sociedade que faz o homem sofrer. Na impossibilidade de tolerar a frustração cultural ele retorna para aquilo que, supostamente, o realizaria na felicidade – viver na fantasia os ideais culturais.

Freud nos provoca a pensar na natureza da civilização. Então, o que é a civilização? “... a palavra civilização descreve a soma integral de realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber, o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos”.

Na história da civilização o homem dominou a língua, o fogo; atravessou o oceano e conquistou novos mundos e povos; aprendeu a escrita e, assim, representou o mundo. A aquisição cultural do homem o transformou num semi-deus – uma concepção de onipotência e onisciência; Freud o chamou de Deus de Prótese. No entanto, o homem com seus ideais culturais e em seu papel de semelhante a deus, não se sentiu feliz. Não basta ser deus é preciso ser belo. Talvez possamos pensar que a civilização realmente começa quando o objetivo primário de satisfação de necessidades é abandonado. O homem civilizado reverencia a beleza, a cultura e passa a ter preocupações para além do valor prático.

O homem se serviu de toda uma gama de criações culturais para regulamentar e ordenar os relacionamentos mútuos, pois, substituiu o poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade. Saiu da barbárie para se civilizar. “A liberdade do indivíduo não constitui um dom da civilização”. Isto quer dizer que o homem cria o Estado e as Leis para servirem de exemplo e regra a um todo maior; essas Leias passam a ser inseridas de forma natural na convivência entre os homens, com o objetivo de conter as pulsões primitivas que ainda o habitam. De qualquer forma, a ordem sempre está por um fio tênue; então, a cultura exige sublimação contínua. A limpeza, a beleza e a ordem são os primeiros indicativos da cultura civilizada. Freud, inclusive ironiza, citando o sabão como um símbolo da real civilização. Ora, a profilaxia, a higienização são movimentos de prazer e que podem reverter-se em sofrimento. A natureza conserva o estado primordial, então, consequentemente, conserva o principio de prazer, que por ora nos aventuramos a comparar com a estética e com o estado de liberdade. Nada que lembre a sujeira da morte faz o homem ser livre. A ordem estética, em nome do belo, produz um efeito de liberdade.

O homem é um ser protético e a sua liberdade também é uma prótese ou, na melhor das hipóteses, uma garantia de ilusão, pois a humanidade só entrou em relações humanas civilizadas por meio de um contrato social que conferiu ao Estado o poder de coerção. A justiça é feita exclusivamente pela comunidade dos homens, só a ela cabe fazer o que é justo, nenhum indivíduo está autorizado a fazer justiça com as próprias mãos sem a devida punição da comunidade. Liberdade, então, é uma ilusão.

Em suma, as instituições sociais são, sobre tudo, barreiras contra o assassinato, o estupro e o incesto. A vida em sociedade é como uma imposição; tais barreiras funcionam para proteger a sobrevivência da humanidade, apesar de que também geram seu mal estar... Cabe à cultura interferir no desejo dos indivíduos, suprimindo, reprimindo as necessidades pulsionais primitivas, que continuam a supurar no inconsciente e buscam constantemente uma vazão de força ilimitada.

Referências:

FREUD, Sigmund. O Mal Estar na Civilização – (1929 [1930]) v. XXI. In: ____ Edição Eletrônica das Obras Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
GAY, Peter. Freud: Uma Vida Para Nosso Tempo. Tradução de Denise Bottmanns. SP: Companhia das Letras – 1989.
HENRIQUEZ, Eugène. Da Horda ao Estado: psicanálise do vínculo social. Tradução de Teresa Cristina Carreteiro e Jacyara Nasciutti. RJ: Jorge Zahar Editor – 1996.
MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Tradução de Álvaro Cabral. RJ: LTC Editora, [199?] – 8º Edição.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A campanha eleitoral assumiu um tom fascistóide, diz Maria Rita Kehl



Celso Marcondes 15 de outubro de 2010 às 16:02h


Em entrevista a CartaCapital, a psicanalista responsabiliza Serra pelo nível do debate eleitoral, fala de aborto e corrupção.

O fim da coluna da psicanalista Maria Rita Kehl no O Estado de S.Paulo foi um dos assuntos da semana, em particular na internet. Seu artigo “Dois Pesos” foi pesado demais para os donos do diário paulista. Neste espaço, publicamos vários artigos a respeito. A repercussão enorme gerou até um abaixo-assinado que corre pela rede em sua defesa. Passado o impacto, Rita Kehl conversou com CartaCapital a respeito das eleições presidenciais, que ela acompanha de perto, com o olhar da profissional conceituada em sua área e também com a visão de cidadã e jornalista, carreira que seguiu nos tempos da ditadura. Ela se diz escandalizada com os temas que tomaram conta do debate eleitoral e responsabilizou a campanha do PSDB por isso.

*

CartaCapital: Teu artigo no Estadão discutia a disseminação de um grave preconceito através da rede. Essa parece ter sido uma característica do uso do veículo nestas eleições, em particular entre a chamada classe média.Você acredita que a internet, pelas suas especificidades, ajuda a este tipo de comportamento?

Maria Rita Kehl: Ajuda de fato. A internet, pela facilidade de acesso, pelas características que só ela tem, apresenta este potencial terrível de ser lugar da fofoca, de blábláblá. Mesmo quando não é um uso irresponsável, como são os casos destes tuites para dizer ”olha, eu estou aqui”, “eu existo”, “olha a foto do meu filho”, “do aniversário do fulano”. Mas tem também um potencial incrível, como a possibilidade de convocar uma passeata da manhã para a tarde, como aconteceu antes da guerra do Iraque, em vários países do mundo, e reunir milhões de pessoas. Então, eu não condenaria a internet, ela tem grande potencial, é um veiculo que dá justamente a possibilidade de você se incluir, de você escrever, pelo menos para quem é da classe média ou que tem acesso a uma lan house. Ela serve a essas duas coisas. Talvez com o tempo os leitores comecem a criar sua própria capacidade de discriminar.

CC: O preconceito que você identifica no teu artigo, este incomodo com a ascensão dos mais pobres, e por consequência com um governo mais identificado com eles, não é uma marca das nossas elites que aparece muito na rede?

MRK: Veja, a internet divulgou essas correntes preconceituosas, apócrifas, que sempre começavam assim: “uma prima minha”, “um parente meu”, “um amigo da minha empregada”, sempre assim. Mas por outro lado, o que tem de legal, é que, por exemplo, este meu artigo foi mais lido que qualquer outra coisa que eu jamais tenha escrito. Se ele tivesse ficado apenas no Estadão, ele teria sido lido, mas jamais deste jeito. Isso é uma coisa muito legal.

CC: Falemos de ética: você acha que o caso Erenice atingiu eleitoralmente esta classe média?

MRK: Eu acho que sim. Eu li um artigo dizendo que o caso Erenice foi mais decisivo para exigir o segundo turno que essa “fofocaiada” toda sobre o aborto. E, infelizmente, está certo. O governo para o qual eu voto e continuo votando tem uma leniência com a questão da corrupção, que deixa até difícil um petista defender, tenho que dizer isso. Lula naturalizou a corrupção, como sendo parte do jogo político. E aí, está bom, quando fica mais escandaloso, demite. Mas “deixa acontecer”, entendeu? Renan Calheiros, Sarney, são vergonhas que a gente tem que engolir, fica parecendo que é culpa da oposição agitar isso. Claro que ela vai agitar. Nós agitaríamos isso se aparecesse uma coisa tão escandalosa na outra campanha. A diferença aí – que é a favor da atitude do governo Lula, mas que ao mesmo tempo não o torna vítima – é que o governo Lula não consegue blindar a imprensa como o governo do PSDB consegue, porque tem a imprensa na mão. Então, quando surge alguma coisa, surge como fofoca que desaparece no dia seguinte. Como a coisa do Paulo Preto, que o Serra não respondeu no debate e ficou por isso mesmo. A gente sabe que é um governo que blinda. O Alckmin, como a candidatura dele estava bem, teve a campanha toda em céu de brigadeiro, do começo ao fim, não tinha ninguém que pudesse pegar alguma coisa e contestar. E se pegasse, não ia sair na imprensa. De fato, a grande imprensa se encarrega de censurar quaisquer denúncias sobre os governos que ela apoia. Mas mesmo que a imprensa seja parcial ao denunciar um caso como o da Erenice, o caso em si está errado, não poderia aparecer.

CC: O governo não poderia ficar surpreso com a “escandalização” feita pela grande imprensa, certo?

MRK: Claro! Ele sabe qual é o jogo e não era para ter corrupção deste jeito. Uma coisa ou outra você não controla, uma coisa pequena, mas para mim é difícil responder quando as pessoas dizem: “mas, como? Estava no nariz dela! Era uma coisa que estava a família inteira metendo a mão”. Coloca os petistas numa situação difícil.

CC: Esta eleição está sendo marcada também pela discussão de temas no campo da moral: aborto, religião. O que te parece isso?

MRK: Eu acho que isso mostra o atraso da sociedade brasileira. Porque, claro, nenhum candidato vai ser eleito se estiver em descompasso com a maioria da sociedade. O Plínio foi um exemplo ótimo, de um cara que falava tudo o que tinha na cabeça, tudo o que ele pensa de verdade, de uma forma consistente, porque ele não tinha compromisso de se eleger. O que me espanta é o atraso da sociedade brasileira. E a ignorância aí é apoiada pelo Serra de misturar questões religiosas com questões políticas. Como é que as igrejas começam a pautar a lei agora? Uma coisa é eles decidirem o que é pecado e o que não é, outra coisa é eles decidirem o que é ilegal e o que não é.

CC: E isso acabou virando pauta de campanha presidencial, não é?

MRK: Vira pauta e vira motivo de constrangimento. A campanha do PSDB tem responsabilidades sim, de acirrar esta intolerância religiosa neste momento da campanha. A Dilma respondeu duas vezes no debate da Band que neste País não tem intolerância religiosa. Fica esta irresponsabilidade feia do PSDB estar acirrando isso, mas ao mesmo tempo a sociedade mostra neste ponto como é atrasada. Aparecem comentários de que a Dilma é a favor do aborto como se ela tivesse o poder de decidir, se ela apoia o aborto, vai ter aborto. Como se isso não tivesse que passar pelo Congresso. Além de tudo joga muito com a ignorância do povo.

CC: E os candidatos chegam a “endireitar”, fazer campanha nas igrejas e citarem Deus à exaustão. Não acha que isso tem um papel deseducador, em particular para crianças e adolescentes?

MRK: Isso é o pior. Por um lado, eu acho que o problema da corrupção não é da responsabilidade do PSDB, eles vão extrair o máximo de vantagens que puderem arrancar deste caso da Casa Civil. Por outro lado, é responsabilidade sim, do PSDB e da campanha Serra o tom fascistóide que estas coisas estão adquirindo. É horrível que os candidatos tenham que aparecer ajoelhados comungando, dizendo que são a favor da vida…claro que são a favor da vida, quem é que não é?Agora, é a Igreja que não é a favor da vida. Aí é uma opinião minha. A ONG Católicas pelo Direito de Decidir me convidou para debater e elas pensam assim: a criminalização do aborto é uma questão contra a liberdade sexual da mulher, ponto.Não pode usar camisinha, porque a Igreja também é contra. Então é uma questão de dizer: sexo só dentro do casamento e só para ter filho. É isso, que não está escrito assim, mas é o que está dito. Se não pode usar preservativo, não pode evitar filho, não pode nem evitar infecções, epidemias como o HIV que mata milhões na África, que “a favor da vida” é esse?

CC: O Dafolha divulgou uma pesquisa que diz que a posição contra o aborto na sociedade aumentou depois destas semanas de discussão na campanha, veja o efeito nocivo.

MRK: Claro, porque o que circula é uma desinformação, “coitadinha da criancinha”, “eu poderia ter sido abortado” e “porque eu não fui abortado eu estou aqui”, não é neste grau. E a Marina tem responsabilidade nisso. Mesmo que a Dilma ganhe, a sociedade retrocedeu muito e isso é responsabilidade da campanha. É terrível.


* MARIA RITA KEHL (Site)

*****

(Abaixo-Assinado (#7204): Dois pesos e a medida do Estadão: manifesto de perplexidade diante do afastamento de Maria Rita Kehl:  (Assine este abaixo assinado): MANIFESTO 

É com espanto, tristeza e indignação que recebemos a notícia de que a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl foi afastada de O Estado de S.Paulo, devido ao texto “Dois pesos...”, publicado em sua coluna no último sábado, 02/10/10. 
(clique http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php  para ver o texto completo).

Consideramos perigoso e estarrecedor que um órgão de imprensa importante como o Estadão, com 135 anos de lutas em prol da liberdade democrática (como ele próprio assinalou em seu editorial de 26/09), um jornal avesso à censura por história e tradição (como ficou demonstrado nos anos da ditadura militar), que este mesmo jornal se sinta hoje à vontade para afastar um de seus colaboradores apenas por manifestar opiniões que desagradam à sua direção.

Com essa atitude, O Estado de S. Paulo vai contra a sua política de praticar a diversidade de opinião e viola os valores básicos que fundamentaram a sua criação.

O que será colocado no lugar do texto da colunista? Os Lusíadas? Receitas de bolo?

Pedimos aos diretores de O Estado de S.Paulo que reflitam sobre essa atitude autoritária, que nega a seus leitores o livre-arbítrio de decidir se concordam ou não com as ideias contidas num artigo assinado, como acontece com frequencia com os de Maria Rita Kehl...

Com o afastamento da colunista, perdem os leitores, o Estadão, a democracia e o país.

Para aderir a esse pronunciamento, clique no link acima do texto.

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Para saber mais:




sábado, 16 de outubro de 2010

Adolescência e Violência:

Recentemente escrevi este textinho que vou postar aqui. A sua escritura se deu por conta do meu estágio em Ênfase Social no curso de psicologia. O projeto de estágio trabalha com o tema dos adolescentes em conflito com a lei. No mês de setembro tivemos um triste episódio com um dos adolescentes do projeto, o que me deixou, particularmente, tomada por algumas questões, como também, ávida pela pesquisa e o desenvolvimento teórico. A dor nos faz escrever, não tenho vergonha de dizer isso. Um sofrimento reconhecido é uma motivação, parafraseando Calligaris.

***

    “É preciso conviver com os homens.
É preciso não assassiná-los!”

- Carlos Drummond de Andrade –


A nossa surdez e a indiferença frente ao outro, denunciam o potencial destrutivo que habita em cada um de nós. Partindo desta reflexão, queremos conjugar adolescência e violência, dois termos que agregam em si mesmos, infinitas e diferentes abordagens de estudo e discussão. Para nos guiar neste texto fizemos a seguinte interrogação: Por que os jovens são apontados como os representantes dos maiores índices de violência, se os dados de 2002 apontam que apenas 10% do total de crimes ocorridos no Brasil são praticados por eles, e desses, cerca de 90% são delitos contra o patrimônio? Em contra partida os adolescentes são as principais vítimas deste fenômeno social, dados da UNICEF de final de 2009 apontam que aproximadamente 16 crianças e adolescentes morrem assassinados no Brasil por dia.

A partir da escuta dos adolescentes em conflito com a lei e dos seus respectivos familiares parece-nos muito ingênuo querer responder de forma direta, apontando aqui ou ali os problemas dos adolescentes e da violência, pois são questões singulares e sociais, que se mesclam e interagem. O social é feito de nossas singularidades, portanto, o social do qual falamos aqui é uma configuração humana que passa a ter sentido pela ordem do discurso. Ou seja, é um Outro que me dá a condição de existência subjetiva, singular e, consequentemente, social.

Quais seriam os agentes potencializadores que levariam os adolescentes a desafiar a Lei, depredando o patrimônio público, violando o semelhante através de agressões físicas, furtos e roubos? Uma das questões que devemos levar em consideração é o processo de subjetivação da adolescência na contemporaneidade como um agente potencial para a produção da violência. O desafio constante dos limites da Lei, e os atos agressivos e destrutivos evidenciam a fragilidade dos adolescentes seja do vínculo familiar, seja da vulnerabilidade social – o que aparece é uma posição de angustia frente aos seus desamparos.

Diante disso, podemos afirmar que, “ninguém nasce mau, ninguém nasce bandido, é tudo uma questão de subjetividade, transmissão e oportunidade”. Há poucos dias a mídia noticiou a morte de um jovem de 17 anos, assassinado. Para muitos ele não passava de um delinqüente, um marginal, porém era um jovem, um adolescente jogado na solitária e individualista rede da contemporaneidade, mais um número para os índices da violência. Ele era um sujeito – um sujeito de angústia e de desejo. Na busca desesperada por uma lei que lhe dê suporte desde a infância, muitos adolescentes transgridem, fazem uma busca desesperada por um olhar que lhe diga algo, em outras palavras, buscam que o Outro lhe reconheça e se faça ver.

Esse ato violento, da morte desse jovem, que testemunhamos em nossos jornais, não deve ser vista como um exemplo a outros jovens, pois, violência nenhuma deverá servir como método pedagógico ou coercitivo. Devemos, sim, sermos solícitos e oferecermos a nossa alteridade. Pensar a violência e a adolescência não é matéria fácil e muito menos de uma página, mas deixaremos três questões para serem pensadas: “violência enquanto resposta aos impasses da condição de adolescer; a fragilidade da função paterna e os ideais sociais contemporâneos”. Sem estas conjugações, é improvável que se possa falar deste tema de forma plausível.


* Luciana Valquíria Kremin Mai - Acadêmica de Psicologia Unijuí.


# Sugestão de Leitura:

BAIXE AQUI: Correio da APPOA nº 189 de abril de 2010 (Associação Psicanálitica de Porto Alegre)
Tema: Ato e Transgressão.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Pierre Rivière:



O jovem camponês francês, chamado Pierre Rivière, nasceu na comuna de Courvaudon e habitou em Aunay, preencheu as notícias de jornais e folhetins de 1835, causando repulsa e julgamento da opinião pública, aflorando a associação entre o trabalho jurídico e o psiquiátrico: Pierre Rivière que em 3 de junho de 1835, aos vinte anos, assassinou a golpes de foice sua mãe grávida de sete meses, Marie Anne Victorie; sua irmã de 18 anos Victorie Rivière, e seu irmão de sete anos, Jules Rivière.

Na busca pela motivação e justificação de tal crime de parricídio e fratricídio, um mosaico de interpretações e verdades foram se construindo à margem do texto e do ato do sujeito confesso. O livro intitulado Moi Pierre Rivière, ayant egorgé na mère, ma soeur et mon frère (1982) foi produzido pelo trabalho de uma equipe de pesquisadores, no Collège de France, sob a coordenação de Michel Foucault em 1973. O livro apresenta um conjunto notícias de jornais, testemunhos, interrogatórios, laudos médicos e uma gama de diferentes discursos que “permitem decifrar às relações de poder, de dominação e de luta dentro das quais os discursos se estabelecem e funcionam.

Assim começava o relato, por Pierre Rivière, do sucedido a 3 de Junho de 1835:

"Eu, Pierre Rivière, que degolei a minha mãe, a minha irmã e o meu irmão, e querendo dar a conhecer quais são os motivos que me levaram a cometer este acto, escrevi toda a vida que o meu pai e a minha mãe viveram juntos durante o seu casamento. Fui testemunha da maior parte dos factos, e que estão escritos no fim desta história (…)"

"Tomei pois essa decisão terrível, resolvi-me a matar os três; as duas primeiras porque estavam de acordo em fazer sofrer o meu pai, para o menino tinha duas razões, uma porque ele gostava da minha mãe e da minha irmã e outra porque eu receava que se matasse apenas as duas, o meu pai apesar de ficar horrorizado me lamentasse quando soubesse que eu morrera por ele, eu sabia que ele gostava desse filho que era inteligente, e pensava que ele ficaria de tal modo horrorizado comigo que exultaria com a minha morte e que assim, livre de remorsos, viveria mais feliz".
 
Mesmo recebendo o perdão do Rei (contra a pena de morte), o jovem Pierre se suicida na prisão.
 
***
 
BAIXAR LIVRO:
Eu, Pierre Rivière, que degolei a minha Mãe, a minha Irmã e o meu Irmão - Michel Foucault.

***

BAIXAR FILME:

Moi, Pierre Rivière, ayant égorgé ma mère, ma soeur et mon frère... (1976)

http://www27.zippyshare.com/v/12168723/file.html

http://www.watchthisfree.com/movies/1976/moi-pierre-riviere-ayant-egorge-ma-mere-ma-soeur-et-mon-frere/download/




(Pierre inventava palavras, fabricava objetos, queria construir uma charrete automática, queria aprender italiano e alemão, sabia passagens completas da Bíblia, sabia escrever de modo razoável e, até, poético), sofrido (a relação conturbada entre sua mãe – perversa –  e seu pai – frágil fazia a família viver em constante conflito; ele atribui sua ação a uma tentativa de libertar seu pai das loucuras de sua mãe). Pierre cometia ações que traduziam certo desequilíbrio (ria e conversava sozinho nos campos, maltratava animais por prazer, corria atrás das crianças da vila com uma foice dizendo que ia cortar seus joelhos, jogá-las no poço,  dizia ver o diabo e fadas, dizia que Deus conversava com ele).

O julgamento de Pierre Rivière representou a primeira vez em que a ciência médica e a Lei se cruzaram. Mais ainda: de um lado, havia a sociedade que, para aceitar a monstruosidade do crime, quis explicá-lo através da loucura, da alienação mental e da imbecilidade do assassino. De outro, Pierre Riviére, cujas memórias fogem completamente das explicações racionais em voga.


Assistir online:





domingo, 19 de setembro de 2010

Camille Claudel


Nos últimos meses Camille não sai do meu pensamento, então resolvi sublima-lá, postando coisas, lendo e falando sem compromisso.

Algumas coisas para usufruir:

* BAIXAR: REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGRE N° 17 - Novembro – 1999 - NEUROSE OBSESSIVA.

* BAIXAR:  Filme Camille Claudel:


*************

Segue um resumo Biográfico:

Camille Claudel, Aisne, 8 de dezembro de 1864 — Paris, 19 de outubro de 1943).

Camille Claudel nasceu um ano e três meses após a morte prematura, com 15 dias, de seu irmão mais velho Charles Henri. Sua mãe Louise permanece enlutada para o resto de seus dias e “nunca beijou um de seus outros três filhos.” A última carta de Camille escrita depois de vinte e cinco anos de internação e dirigida ao irmão Paul Claudel é ainda um apelo a um lugar no desejo da mãe, eterna enlutada. Ela escreve: “eu penso sempre em nossa querida mamãe. Nunca mais a vi depois que vocês tomaram a funesta decisão de me enviar a um asilo de alienados. Eu penso no bonito retrato que fiz dela em nosso jardim. Os grandes olhos onde se lia a dor secreta, o espírito de resignação... suas mãos cruzadas sobre os joelhos em abnegação completa: tudo indicava a modéstia e o sentimento de dever em excesso, era bem a nossa pobre mãe.” Louise, a própria mãe de Camille destruiu este retrato após internar a filha, cujos endereçamentos lhe eram insuportáveis.

Desde o seu nascimento Camille foi mal acolhida por sua mãe que esperava um menino para repor a perda do filho. Camille, a menina decepciona e é batizada com um nome que atende aos dois sexos. Para a mãe, ela sempre foi “uma criatura estranha e selvagem” com uma carreira que não era edificante para uma mulher. Aos doze anos Camille já trabalhava a argila, e aos quinze já havia esculpido David e Goliath e Napoleão. Seu primeiro mestre Alfred Boucher, a apresenta a Paul Dubois, diretor da escola Nacional de Belas Artes, que reconhece seu talento.

Camille através da arte de fazer surgir seres novos, cujos traços são marcados para sempre, fixados, congelados na frieza da pedra denuncia sua posição fantasmática diante do Outro.

Em 1881, com dezessete anos convence o pai a estabelecer a família em Paris para que ela e os irmãos pudessem aperfeiçoar seus estudos. No entanto Louis Prosper é obrigado a trabalhar em outra cidade, e só ia para casa aos domingos. A família nunca perdoou mais este “egoísmo” de Camille. O afastamento do pai é descrito por seu irmão, o escritor Paul Claudel como um cataclisma.

Em Paris no ateliê de Rodin, Camille logo se sobressai, tornando-se sua aluna, modelo predileta e amante. O mestre a mantém à parte, ele a privilegia. Ela trabalha de forma incansável, dedica-se às suas orientações e lhe serve sendo responsável pelos pés e mãos das suas obras e nessa época os dois produzem “a porta do inferno”. Até 1888 continua morando com os pais que ignoravam esta relação. Anos depois, sua mãe, escreverá que não quer mais vê-la, “pois ela tem todos os vícios”, e a acusa de tê-la exposto levando Rodin e a mulher, para jantar em sua casa, quando na verdade já viviam como amantes. Sua filha era uma prostituta que fazia o pai sofrer. Paul que tomou conhecimento do romance com Rodin antes da família, sente-se traído, reprova a irmã. As referências de Paul à sua irmã possuem um tom enciumado e de exaltação à sua beleza e genialidade.

Em 1888 Camille e Rodin passam a viver publicamente como amantes em uma velha mansão que se torna seu novo atelier. A família indignada recusa o contato público com ela. No entanto Rodin jamais abandona Rose Beuret.

A crítica a reconhece como uma artista de estilo próprio e genial, a sociedade, porém a condenava, e isso impedia que ela concorresse aos concursos para obras públicas. Camille engravida e Rodin a envia de férias para o interior, aos cuidados das chamadas fazedoras de anjo. Cria aí uma obra belíssima a pequena castelã, rosto de uma menina dirigindo para cima um olhar morto. Este aborto a “torna impura e suja” no dizer de Paul.

Por volta de 1893 Camille escreve a Rodin: “eu estava ausente quando o senhor veio, pois meu pai chegou ontem e fui jantar e dormir em casa(....) A senhorita Vaissiers me contou toda sorte de fábulas forjadas sobre mim em Islette. Parece que saio à noite pela janela de minha torre , suspensa numa sombrinha vermelha com a qual ponho fogo na floresta!!!”

Em 1892, rompe pela primeira vez o romance com Rodin e monta seu próprio ateliê na ilha de Saint Louis. Durante os sete anos que se seguem desafia o mestre, negando sua ajuda e desesperadamente tenta conseguir encomendas. Torna-se alcoólatra e é protagonista de vários escândalos. Expõe ainda duas vezes, mas não comparece em público, alegando que está feia e acabada para se expor. Em uma das cartas justifica a recusa em participar do Salão de Outono, por não poder apresentar-se em público com as roupas que tem no momento: “sou como pele de asno ou Cinderela, condenada a cuidar da lareira sem esperança de ver chegar a fada ou o Príncipe encantado que deve mudar minha roupa de pele ou cinzas em vestidos cor do tempo”. Pele de asno é outra forma metafórica de referir-se a posição feminina, a da mulher que espera o príncipe guardando sob as vestes as insígnias paternas.

Trancada em seu atelier, repete incessantemente “o canalha do Rodin” frase que é escutada pelos vizinhos. O meio artístico antes tido como ideal, passa a pertencer ao bando de Rodin que a todos seduz e convence contra ela. Suas idéias e seus desenhos serão roubados, executados, terão sucesso e seu nome será excluído. “Eu serei perseguida por toda minha vida pela vingança deste monstro, o perseguidor Auguste Rodin”. Até a morte, Camille mantém inalterada a certeza delirante de que Rodin a persegue. Em uma manhã só abre a porta para Henri Asselin que viria posar, após longa conversa. Ela estava desfeita, tremendo de medo, armada de vassoura em riste e lhe diz: “esta noite dois indivíduos tentaram forçar a minha janela. Eu os reconheci, são dois modelos italianos de Rodin. Ele lhes ordenou que me matassem. Eu o incomodo. Ele quer me fazer desaparecer.” A partir daí Camille todos os anos, no mês de julho, destrói a marteladas suas esculturas e depois some por algum tempo.

O pai que continua até o fim da vida mantendo-a financeiramente, insiste com Paul para que interceda junto à mãe a fim de que esta consinta em se aproximar de Camille “talvez esta louca varrida melhore”. Mas Louise é irredutível e assim se manterá até a morte. Em março de 1913, Louis Claudel morre aos 87 anos. Informada por carta pelo primo Charles Thierry ela responde “O pobre papai nunca me viu como eu sou; sempre lhe fizeram crer que eu era uma criatura odiosa, ingrata e má. Era necessário para que o outro pudesse tudo usurpar” e afirma que a família vai logo interná-la em uma casa de loucos, por acreditarem que ela é nociva ao sobrinho quando reclama seus bens “por mais que eu me encolha em meu pequeno canto, ainda sou demais”.

A internação de Camille em Paris ocorreu uma semana após a morte do pai. Louise estava livre e conseguiu um atestado com médico amigo da família e vizinho de Camille .O laudo de internação certifica que a senhorita Camille Claudel sofre de perturbações intelectuais muito sérias; tem hábitos miseráveis, é absolutamente suja, nunca se lava, vendeu todos os seus móveis, passa sua vida completamente fechada, só sai à noite, e tem sempre o terror do bando de Rodin, e que seria necessário sua internação em uma Casa de Saúde.

Camille vive a desordem absoluta, procura deseperadamente o reconhecimento. Preterida pela mãe e pelo amante, ela não tem lugar no desejo do Outro. Camille trai o pai na medida em que se apaixona por Rodin em detrimento de sua própria obra. Ela fracassa em superar o mestre e sustentar o nome do pai – sustentar o nome Claudel para o pai. Assim já não pode pertencer ao clã Claudel. Em uma de suas cartas escreve “teria feito melhor comprando belos vestidos e belos chapéus que realçassem minhas qualidades naturais do que me entregar à minha paixão pelas construções duvidosas e os grupos mais ou menos ásperos”, ou ainda “esta arte está mais de acordo com as grandes barbas e caras feias do que com uma mulher relativamente bem dotada pela natureza”.

Camille Claudel nos trinta anos em que passa prisioneira em um asilo escreve constantemente à mãe. Suas cartas eram repetidos apelos desesperados para que esta a tirasse do asilo, mas a resposta era implacável. As cartas da mãe de Camille para o diretor do asilo, proíbem que ela se corresponda com quem quer que seja, “pois suas cartas poderiam servir àqueles que faziam campanha contra a família Claudel devido a permanência da escultora no asilo. Segundo sua mãe Camille tem idéias as mais extravagantes, suas intenções são sob o ponto de vista das família sempre muito más, ela nos detesta, e está sempre pronta a nos fazer todo mal que puder” Aos pedidos endereçados à família , tanto por Camille quanto pelo diretor do asilo , sua mãe oferece uma soma maior em dinheiro para que ela permaneça internada. Sua mãe tinha horror de qualquer aproximação com esta filha que só trazia a vergonha e desonra.

Em 1930 uma última carta, esta dirigida a Paul “ hoje 3 de março é o aniversário de minha internação! Faz 17 anos que Rodin e os marchand de objetos de arte me enviaram para fazer penitência nos asilos. Eles é que mereciam estar nesta prisão, pois eles apoderaram-se da obra de toda minha vida através de B. que conta com sua credulidade e a de mamãe e de Louise. Eles diziam: nós nos servimos de uma alucinada para encontrar nossos temas! É a exploração da mulher o esmagamento da artista de quem se quer expremer sangue! Tudo isto no fundo sai da cabeça diabólica de Rodin. ...

Em outra reclama da comida e solicita que a mãe lhe envie os seus pedidos e que não gaste dinheiro pagando pelo que ela não consome no asilo. “Tem novidades de Paul? De que lado ele está agora? Ainda tem a intenção de me deixar morrer em um asilo de alienados? É bem cruel para mim. Isto não é lugar para mim”.

Camille Claudel morreu em 19 de outubro de 1943, após trinta anos de internação, aos 79 anos incompletos.

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