Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Trabalho - “O trabalho é o sentido da vida”:



Tormento eterno. – Perambulando por um desses bairros infestados de cortiços para estudantes (essas pensões, porões e outros cubículos que mesmo os ratos sabiamente evitam), deparo-me com a seguinte inscrição, muito simplesmente pintada sobre o portão de uma residência: “O trabalho é o sentido da vida”. Quer pela forma epigráfica, quer pelo conteúdo edificante, essa frase trouxe-me imediatamente à memória duas outras: “Labor omnia vincit” (Virgílio: “o trabalho tudo vence”) e “Arbeit macht frei” (ironia macabra: “o trabalho liberta”), inscritas, respectivamente, à entrada de uma escola numa cidade vizinha e de um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial. O que leva essa moral para burros de carga, expressa de forma concisa nessas inscrições, a ter uma difusão tão ampla e universal? Mera coincidência fortuita? Ou será que o campo de concentração está mais próximo da escola do que se imagina? Seja como for, parece que é só por meio de instituições que infligem medo e disciplina que o homem moderno, (e o pós-moderno também, se quiserem) consegue aceitar sua inevitável condição de escravo (ôpa! Que falta de sutileza – eu quis dizer “trabalhador livre...”): é esse homem que inventa lemas estúpidos para justificar os absurdos que violentam sua existência, seja o trabalho ou o que for. Mesmo na Idade Média, injustamente cognominada “idade das trevas”, não se trabalhava tanto quanto na atualidade, donde não é difícil concluir que o “desenvolvimento tecnológico” em nada contribuiu para livrar o homem da maldição bíblica. Pelo contrário: fala-se hoje, com espantosa naturalidade, em “correr atrás da máquina”. Ora, uma vida que não pode ser simplesmente vivida, mas que precisa ser “ganha” – e sempre mais penosamente –, já não é mais vida: é uma corrida insana, absolutamente destituída de sentido. E é para essa corrida louca que o “sistema” nos convoca com insistência sempre renovada. Basta abrir um jornal ou ligar a televisão e lá está: “Todos devem se modernizar se quiserem sobreviver no mercado de trabalho”, afirma, sem pensar duas vezes, um fedelho favelado de 14 anos num jornal qualquer; “precisamos nos modernizar”, repete uma velhota semicaduca num desses telejornais. Para um ser que se autodenomina “humano”, qualquer “sentido” que possa ser dado pelo trabalho parece-me ainda demasiado inumano e mesquinho; adquirir habilidades para melhor vender-se no bordel globalizado (há quem chame isso de “papel fundamental da educação para o terceiro milênio”), tampouco é índice de alguma dignidade. Sugiro, aliás, que os crentes na “dignidade do trabalho” observem atentamente qualquer trabalhador, seja um vendedor, um professor, um pedreiro ou qualquer outro: verão, freqüentemente, algo de animal espancado em seu olhar... Talvez o mitológico Sísifo tenha algo a nos dizer sobre esse assunto. Afinal, de trabalho ele entende: condenado pelos deuses a empurrar eternamente uma gigantesca pedra montanha acima, a mesma rola montanha abaixo mal Sísifo chega ao topo. E lá vai ele de novo, outra vez, e sempre mais uma vez. Se algum lema orna a morada de Sísifo nos Infernos, só pode ser este: “O trabalho é o sem sentido da vida”.

(Renato Zwick)






Curta de Animação – Emprego:




Café Filosófico - "O Trabalho" Marcos Cavalcanti:









ENTREVISTA DE EMPREGO:




“Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence”.
(Bertolt Brecht)





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