Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Videoteca do Cinema Argentino:

Caramba... que baita projeto jogado na rede para usufruirmos da melhor forma possível. A Videoteca do Cinema Argentino é uma iniciativa que contou com a colaboração de entidades públicas e privadas. 
Segue o link; na página podemos assistir vários filmes completos, via streaming, de maneira gratuita. Tem raridades e atualidades maravilhosas de filmes.







domingo, 7 de dezembro de 2014

Mídias e Suicídio (só uma nota):

Promover a divulgação de um ato de suicídio nos meios de comunicação (Jornais, sites, tv) é o mesmo que puxar um gatilho. Suicídio não se divulga de modo inconsequente e irresponsável. A justificativa para esse procedimento se baseia na hipótese de que qualquer notícia sobre o assunto pode vir a ser o estopim de uma série de outros atos semelhantes. "As notícias sobre suicídios a não ser em casos excepcionais não devem ser divulgadas ou destacadas. (É fato comprovado que a divulgação de suicídios estimula a morte de suicidas potenciais)".

As mídias que divulgam notícias sobre suicídio, principalmente de jovens adolescentes, promovem um desserviço a sociedade e a saúde pública. Deveriam ser punidas por crime contra a sociedade, contra a vida.

Em pesquisa recente divulgada pela FIOCRUZ, no mês de setembro deste ano, chama a atenção dos setores da saúde sobre uma onda epidêmica de suicídio que vem crescendo nos últimos 5 anos. A Organização Mundial de Saúde nos convoca para promovermos iniciativas que possam frear essa onda de suicídios.
 
O Brasil é o oitavo país, nas Américas, em número de suicídios. “Tem havido um crescimento expressivo do suicídio no mundo inteiro. No Brasil, a taxa é alarmante.

Neste link pode-se encontrar os dados da pesquisa: http://portal.fiocruz.br/…/suicidio-brasil-e-8o-pais-das-am…



quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Kabaré de Rosa Negra:

Benvindos ao Kabaré de Rosa Negra
Konheça as meninas metasokráticas
Os filósofos desertores
E os terroristas iluminados

Entre e eskolha um qarto:
A Biblioteka Nômade Alexandrya
A Ilha pirata de Syrakuza
A Cidadela Zionx
Ou os portais para o MultiUniverso!

Literatura & Libertinagem
Filosofia de Kaos
Terrorismo poetiko & Teorias paralelas
Trafiko de informações
Tome uma dose de tekila qantika
E esteja disposto á vadiagem!

Antes de se sentar nalguma mesa
Lembre-se:
Nada está sob controle
Existir é um jogo
Todo vinho tem um propósito
O Universo é só um holograma
Rabiscado por um punhado de eletróns bêbados!

Para entrar aqi é preciso estar bem armado
Entender o amor dos bárbaros
Saber travar o Mental Kombat
E ter olhoskaleidoscópios...

E ao sair
Acenda uma vela pros jagunços santos!

Eu sou Magdalena Volveryne
A kafetina

(Catia Cernov)

http://catiacernov9.blogspot.com.br/




sábado, 29 de novembro de 2014

Documentários sobre violência policial:

 

“O que se apresenta na violência é o horror despido de qualquer revestimento simbólico, é o fascínio pelo objeto que preencheria toda a necessidade. Há uma dimensão na atualidade que diz respeito ao caráter público, midiático, televisivo, globalizado da violência cotidianamente mostrada, como fatos que fazem parte dos noticiários diários, nacionais e internacionais, que se conclui pela banalização da violência e pela redução da dimensão subjetiva do humano à imagem. Enfim, a violência virou espetáculo televisivo, cinematográfico e jornalístico, cujas imagens globalizadas imprimem simultaneamente o efeito de horror e fascínio”.

Seguem alguns documentários (curtas) sobre violência policial. Nestes documentários é essencial compreender o “discurso” da violência por parte do estado – daquele que hipoteticamente nos deveria servir de escudo protetor, no entanto, ele reflete o momento de crise do laço social, uma crise da palavra como símbolo mediador; o que provoca, consequentemente, uma passagem ao ato – brutal passagem ao ato que reafirma a ruptura do laço social ou de qualquer outro sentido protetivo.

 

 

 

 

 

 

 

PAZ… a paz só encontra sentido na palavra – palavras são ações de paz. As possibilidades de intervenção sobre a violência, bem como sobre o discurso que produz a violência, requerem um cuidado especial sobre nossas intervenções, cuidar para não reproduzirmos os mesmos discursos de violência. Apostarmos na fala do sujeito e numa escuta social, ou seja, apostarmos que a palavra não perdeu o seu vigor. Analisar a violência à luz de um esforço de resgate da dignidade da insatisfação. Precisamos recuperar o direito de cada um à insatisfação e ao mal-estar que alimentam o laço social. Recuperar a palavra, a linguagem que nos guia é recuperar a paz.

domingo, 7 de setembro de 2014

Todo mundo tem:

 

todo mundo tem cu

O Cão Negro da Depressão:

"A depressão é um cobertor gelado que te envolve quando você já está com frio".
(Pablo Villaça)

A Organização Mundial da Saúde resolveu criar, em parceria com o escritor e ilustrador Matthew Johnstone, um vídeo de animação que mostra de forma simples e direta o que é a depressão e, o mais importante, como é possível se livrar dela.

 

 

depressão cão preto

sábado, 6 de setembro de 2014

Os 50 Anos do Golpe Militar no Brasil. (Correio da APPOA 256):

“mesmo assim quero ver a guerra
de perto, bem de perto.
até a guerra
sumir no risco ferido da
mão”
(Manoel Ricardo de Lima)

 

O Correio da APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre, nº 256, julho de 2014, trouxe a temática “OS 50 ANOS DO GOLPE MILITAR NO BRASIL”.

Editorial - Marta Pedó

Temática
Sobre os rastros e restos deixados pela ditadura civil-militar brasileira - Gabriela Weber Itaquy
Vidas mutiladas (ainda) - Edson Luiz André de Sousa
Memória, memoriais e o futuro dos que sonharam e dos que sonham com a democracia - Paulo Endo
E o Exílio? - Flávia Schilling
Daqueles tempos - Ana Costa

Abaixar na integra: http://www.appoa.com.br/correio/edicao/236/sumario/107

 

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Foto: Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Espetáculo de rua: “O Amargo Santo da Purificação”. Uma Visão Alegórica e Barroca da Vida, Paixão e Morte do Revolucionário Carlos Marighella” conta a história deste herói popular, que lutou contra as ditaduras do Estado Novo e do Regime Militar, e que os setores dominantes tentaram banir da cena nacional durante décadas. O espetáculo é um painel dos principais acontecimentos que ocorreram no nosso país no século XX.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Leminskanções: Música e Poesia de Paulo Leminski

Estrela Ruiz Leminski selecionou um diversidade fantástica de canções da obra musical de Paulo Leminski, o poeta marginal de Curitiba, para o álbum 'Leminskanções'.

O disco duplo separa-se em dois momentos distintos da obra de Leminski – o disco um, 'Essa Noite Vai ter Sol', apresenta um punhado de composições próprias do poeta, enquanto o disco dois, 'Se nem for Terra, se Transformar', mostra diversas parcerias com grandes nomes da música brasileira, como Itamar Assumpção, Moraes Moreira, Zé Miguel Wisnik, Edvaldo Santana e até William Shakespeare.

Com produção musical de Fred Ferreira e Natalia Malo, o álbum trás participações especiais de gente como Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Zelia Duncan, Ná Ozzetti, Serena Assumpção e Bernardo Bravo. Os músicos que gravaram o disco com a cantora receberam o nome de 'Os Paulêra', enquanto ela se apresenta agora como Estrelinski.

Vai lá e abaixa o disco no Eu Ovo: http://euovo.blogspot.com.br/

Eu Ovo Som no Face.

lemisnki

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Política e Psicanálise

Ricardo Goldenberg

Coleção Passo-a-Passo Psicanálise

Assunto: Psicanálise

Esse livro mostra que a política e a psicanálise não se opõem e erra quem pensa que uma se ocupa do coletivo enquanto a outra cuida do individual. Na verdade tratam do mesmo objeto – a felicidade (gozo ou res publica, o referente é o mesmo) –, mas o abordam de maneira diferente. É dessa diferença que se ocupa o autor, analisando a questão do poder na relação entre analista e analisando e na política.

Baixar Livro.

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Psicanalista política: Maria Rita Kehl fala sobre sua paixão pela polêmica e seu encantamento com a psicanálise

TAGS: Maria Rita Kehl, psicanálise

Marília Scalzo
Fotos Marcelo Naddeo

Publicação Original Revista Cult

Maria Rita Kehl está no centro da polêmica. Vencedora do Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção – com O Tempo e o Cão: a Atualidade das Depressões –, a psicanalista, ensaísta e poeta foi ovacionada pelo público ao subir ao palco da Sala São Paulo para receber seu prêmio, no último dia 4 de novembro. Em parte, as palmas comemoravam a premiação, mas também eram um desagravo ao cancelamento de sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo cerca de um mês antes. Os maiores prêmios do Jabuti deste ano foram muito discutidos – o de Maria Rita menos; o de Chico Buarque de Holanda, com o Livro do Ano de Ficção, mais. A maior crítica que se fez é a de que havia um viés político nas escolhas. Nas trincheiras, amigos e inimigos, como se o mundo fosse ainda dividido em dois, saíram na defesa ou no ataque aos premiados. Bem, mas essa é outra polêmica.

O fato é que Maria Rita Kehl está onde gosta de estar. “Gosto de polêmica”, diz a psicanalista, que, depois de muita análise, garante que aprendeu a não ser chata, pelo menos nesse ponto. “É uma paixão.” No consultório, atendendo seus pacientes, tem de refrear essa paixão. “Aqui, é a vitória do espírito sobre a carne”, brinca. Ouve coisas que gostaria de discutir com alguns pacientes, mas seu papel não é polemizar. Recolhe-se durante 40 horas por semana. Mas, fora dali, a coisa muda. O que aconteceu no mês de outubro, em plena ferveção das campanhas eleitorais, entre ela e o jornal em que assinava uma coluna quinzenal é sinal de que, fora das 40 horas semanais de consultas, o gosto pela polêmica prevalece. Depois de escrever e publicar uma coluna em que falava sobre o voto dos pobres (“Dois Pesos”), sua colaboração foi cancelada – “não chamo de demissão porque não era contratada”. A direção do jornal disse que a coluna foi cancelada por um movimento normal de troca de colunistas que acontece de tempos em tempos.

A coluna, que ela desde o início defendeu que não fosse “de psicanalista”, com Freud explicando todos os porquês, abordava temas diversos. Desde os mais subjetivos e íntimos, como os textos em que falava de suas memórias, do interesse despertado pelo julgamento do casal Nardoni ou sobre o mistério de “o que quer uma mulher”, até os temas políticos, que esquentaram durante o período eleitoral. “A discussão política é muito arrebatadora”, diz. Maria Rita escreveu uma coluna sobre o aborto (“Repulsa ao Sexo”), com “coisas que queria dizer há anos”. Em seguida, revoltada com as correntes que dominavam a internet, fez a última coluna sobre o voto.

Depois que a notícia de seu desligamento do jornal circulou pela internet – e que seu texto ganhou mais leitura e repercussão do que jamais alcançaria nas páginas do diário –, choveram elogios, mas as críticas foram ferozes. Não foi a primeira vez. Talvez não seja a última. Nos anos 1980, ela se lembra de ter sido insultada pelo jornalista Paulo Francis. “Eu me expus a isso. Ele era muito preconceituoso e, na época da eleição da Erundina, que é nordestina, ele escrevia Ééééérundina. Aí eu escrevi um artigo dizendo que ele era um jornalista ééééruditoporque achava que morar em Nova York lhe dava um status de pensar melhor que os outros. Ele ignorou esse artigo, mas um ano depois, na derrota do Lula em 1989, escreveu um artigo com insultos pessoais a mim, dizendo que eu era uma petista de cabeça quente, que meus pacientes tinham de ser todos internados, uma coisa horrível.”

"A discussão política é muito arrebatadora"

O gosto pela polêmica vem do berço. Mais velha e única mulher entre os quatro filhos de um casal de engenheiros, Maria Rita nasceu em Campinas e se criou em São Paulo, no que chama de uma “família excêntrica”. “Meus pais tinham certa dificuldade de inclusão na vida social. Nenhum dos dois era de São Paulo – ele do Rio, ela de Campinas. Não tinham uma grande circulação, mas vejo hoje que eram, com estilos diferentes, muito originais no modo de ver o mundo.” A casa da infância, com seus três irmãos – depois, o pai casou-se de novo e ela ganhou mais um casal de irmãos –, tinha um ambiente de muita conversa, muita discussão. “Era o ambiente que meu pai gostava de criar. Ele gostava de polemizar com os filhos e nós entramos na polêmica, cada um a seu jeito. Isso certamente me influenciou”, conta.

Outra coisa que a influenciou foi, apesar de formada em psicologia, ter começado sua vida profissional como jornalista. “Precisava trabalhar, bati na porta do Jornal do Bairro, cujo dono era o escritor Raduan Nassar, e os editores, muito simpáticos, resolveram me ensinar como escrever um texto jornalístico”, conta. “Depois, comecei a trabalhar nos jornais de esquerda, na década de 1970.” Foi editora de cultura do Movimento, que, ao lado do Opinião e d’O Pasquim, foi um dos mais importantes órgãos da imprensa alternativa durante o regime militar. Foi aí que Maria Rita se politizou: “Cursei os cinco anos da psico na USP [Universidade de São Paulo] entre 1971 e 1975, um período de violenta repressão política. Não fui para a clandestinidade e nunca apostei na luta armada como algumas pessoas cuja coragem eu admiro até hoje. Minha luta sempre foi no campo ideológico.

A formação (informal) como jornalista, anos antes de se tornar psicanalista, talvez tenha contribuído com o que pode ser visto como uma qualidade de Maria Rita: a capacidade de transitar por muitos campos e de ter um olhar mais abrangente sobre as coisas. Mas, para ela mesma, durante muito tempo, esse foi um problema. “Era como se eu não tivesse uma definição muito clara de mim mesma”, diz. Hoje, aos 58 anos, reconhece que sua dificuldade de se enquadrar – “tenho fobia de pensar que vou entrar em uma forma” – e de seguir dogmas acabou favorecendo esse olhar.

Tanto na universidade como na formação como psicanalista, os caminhos que escolheu não foram ortodoxos. “Fiz meu mestrado na USP e não defendi a tese, porque nasceu meu filho e me atrapalhei com a vida cotidiana. Não foi um conflito com a academia. Na época – 1978 a 1980 – eu quis pesquisar a influência da televisão no Brasil durante a década de 1970. Naquela época não se pensava em tomar a televisão como objeto de estudo. Minha pesquisa foi entre a teoria crítica e o jornalismo”, lembra. Na década de 1990, sua tese de doutoramento –Deslocamentos do Feminino – foi um estudo crítico sobre a mulher na psicanálise freudiana e lacaniana. “Fui pesquisar quem era a mulher na Europa do século 19: um período em que a ideia de feminilidade começava a sofrer um deslocamento que só viria a se completar com os movimentos feministas da década de 1960. “Instintivamente, minha sorte nos dois casos é que escolhi orientadores que não orientavam, então fiquei livre para pensar sem tantas amarras da formatação acadêmica.”

Ao decidir tornar-se psicanalista, Maria Rita procurou preservar a mesma liberdade. “Tornei-me psicanalista sem passar por nenhuma instituição de formação em psicanálise”, diz. “Fiz análise, fiz supervisão, estudei, fiz muitos grupos de estudo, mas não me formei em instituições. Sei que essa escolha é questionada entre os psicanalistas. Mas tenho clara a filiação teórica que orienta meu percurso: Freud, Lacan. “Lacan considerava o autodidatismo um traço dos paranoicos”, diverte-se. “Então acho que sou uma autodidata que deu certo, porque achei meu caminho.”

Mas Maria Rita não recebeu tantas críticas por sua formação à margem das instituições, o que ela atribui a uma característica da sociedade brasileira. “No Brasil, quem tem um nome – e eu já tinha nome como jornalista – deixa de ser questionado, a não ser por adversários do campo político.” Ela acredita que em seu próprio campo ninguém mais a questiona para valer. “É muito estranho isso, nem nas minhas bancas de tese fui questionada como imaginava e como gostaria de ter sido.”

Entretanto, ela, que se vê como lacaniana mesmo não tendo a formação rígida, hoje é pouco chamada para debates nas instituições lacanianas. “É como se dissessem: ‘Ela não é dos nossos’.” Seu último livro, o vencedor do Jabuti, que tem enfoque lacaniano, por exemplo, foi discutido em muitos lugares, mas em pouquíssimas instituições ligadas à teoria de Lacan.

A resistência a entrar na forma aparece novamente: “Não escrevo lacanês, faço questão. É uma questão ética. Acho que uma teoria que se fecha em seu jargão para de pensar. A aplicação automática do jargão fecha a indagação”. Em suas opções políticas, a psicanalista também não é dogmática: “Acho que procurar uma ordem social que promova justiça social e igualdade de direitos é uma tarefa tão complexa que é preciso começar a pensar a cada dia”.

“Tanto a psicanálise quanto o materialismo histórico não são teorias a ser aplicadas sobre o real. Essas grandes teorias que atravessaram o século 20 e não perderam a atualidade no século 21 são, antes de tudo, métodos de investigação sustentados por alguns pressupostos teóricos. Não podem ser tomadas como dogmas. Ajudam-nos a observar, entender e operar sobre o mundo à nossa volta.” Nesse ponto, a clínica psicanalítica encaixa-se perfeitamente em seu jeito de ser. “Mesmo tendo lido as obras completas de todos os psicanalistas do mundo, a cada paciente novo começa-se do zero. O background da psicanálise opera entre a fala do paciente e a escuta do psicanalista e do paciente”, diz. “A clínica nos obriga a ter humildade; não se faz teoria aplicada.”

E é seu encantamento com a psicanálise que faz questão de frisar: “A psicanálise é um dispositivo político, no sentido mais amplo da palavra: libertador, de uma potência extraordinária”. “O fato de o final de uma análise ser um compromisso do sujeito com seu desejo expõe uma condição que Lacan chama de trágica, mas que dá para chamar de cômica também”, fala. “Quando o sujeito depara com a fantasia que sustenta sua neurose, é como se dissesse: ‘Nossa, era só isso? Eu estava sofrendo há tanto tempo só por causa disso?’. Tem uma nota cômica, ou irônica, nesse fim da análise. Você ri um pouco das suas pretensões, do seu superego, da sua escravidão voluntária.” Isso encanta a psicanalista até hoje: “Não tem tédio, é uma profissão sem tédio”.

O tédio não existe também no serviço que presta, desde 2006, na Escola Nacional Florestan Fernandes, que forma militantes políticos e lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Maria Rita dá ali um plantão quinzenal como psicanalista e maravilha-se não só porque atende pessoas de uma classe social que jamais atenderia, mas porque acha que essas pessoas têm uma formação humana diferenciada, difícil de encontrar. “Eles distinguem o que é o problema deles, que é sua situação de classe. As inseguranças amorosas e indagações afetivas, que estão no centro da nossa clínica, não comparecem muito na clínica do MST. Parece que o valor das pessoas não depende tanto de se fazerem amar ou desejar pelo outro; está mais ligado à sua relação com o ideal que norteia a militância. O que também é problemático, claro, mas é interessante encontrar uma formação subjetiva um pouco diferente daquela a que estava habituada.” Uma diferença política, claro.

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Aaron Swartz–Documentário:

Aaron Swartz

No início de 2013, Aaron Swartz – criador do RSS 1.0 e um dos fundadores do Reddit – cometeu suicídio. Ele tinha 26 anos. Ele queria tornar públicos os artigos da base acadêmica JSTOR, e por isso poderia ser condenado a até 50 anos de prisão e a US$ 4 milhões em multas.

O filme The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz foi legendado de forma não-oficial, por um esforço coletivo, e está disponível abaixo - clique no botão “Legendas” para ativá-las. Vale lembrar que o filme está disponível em licença Creative Commons.

O documentário foi produzido por Brian Knappenberger – que dirigiu um documentário sobre o Anonymous e financiado através do Kickstarter que superou a meta: Knappenberger pediu US$ 75.000, mas recebeu quase US$ 94.000. O filme estreou em janeiro no festival de cinema em Sundance, e nos cinemas americanos e video on demand em junho.

O Menino da Internet: a História de Aaron Swartz conta como o jovem criou o protocolo RSS, usado em inúmeros sites até hoje; como ajudou a criar o Reddit, uma das maiores comunidades online; e sua luta contra o projeto de lei antipirataria SOPA através da entidade Demand Progress.

Mais informações: http://gizmodo.uol.com.br/documentario-aaron-swartz/

 

O Menino da Internet: a História de Aaron Swartz

 

 

Perdão, Aaron Swartz:

A morte de um gênio da internet, aos 26 anos, é um marco trágico do nosso tempo. É hora de pensar sobre nossas ações – ou omissões

ELIANE BRUM - 21/01/2013.

– Eu sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo como ele é e fazer o que os adultos disseram que você deve fazer, ou o que a sociedade diz que você deve fazer. Eu acredito que você deve sempre estar se questionando. Eu levo muito a sério essa atitude científica de que tudo o que você aprende é provisório, tudo é aberto ao questionamento e à refutação. O mesmo se aplica à sociedade. Eu cresci e através de um lento processo percebi que o discurso de que nada pode ser mudado e que as coisas são naturalmente como são é falso. Elas não são naturais. As coisas podem ser mudadas. E mais importante: há coisas que são erradas e devem ser mudadas. Depois que percebi isso, não havia como voltar atrás. Eu não poderia me enganar e dizer: “Ok, agora vou trabalhar para uma empresa”. Depois que percebi que havia problemas fundamentais que eu poderia enfrentar, eu não podia mais esquecer disso.

Aaron Swartz tinha 22 anos quando explicou por que fazia o que fazia, era quem era. Aos 26, ele está morto. Foi encontrado enforcado em seu apartamento de Nova York na sexta-feira, 11 de janeiro. Provável suicídio. Talvez a maioria não o conheça, mas Aaron está presente na nossa vida cotidiana há bastante tempo. Desde os 14anos, ele trabalha criando ferramentas, programas e organizações na internet. E, de algum modo, em algum momento, quem usa a rede foi beneficiado por algo que ele fez. Isso significa que, aos 26 anos, Aaron já tinha trabalhado praticamente metade da sua vida. E, nesta metade ele participou da criação do RSS (que nos permite receber atualizações do conteúdo de sites e blogs de que gostamos), do Reddit (plataforma aberta em que se pode votar em histórias e discussões importantes), e do Creative Commons (licença que libera conteúdos sem a cobrança de alguns direitos por parte dos autores). Mas não só. A grande luta de Aaron, como fica explícito no depoimento que abre esta coluna, era uma luta política: ele queria mudar o mundo e acreditava que era possível.

E queria mudar o mundo como alguém da sua geração vislumbra mudar o mundo: dando acesso livre ao conhecimento acumulado da humanidade pela internet. E também usando a rede para fiscalizar o poder e conquistar avanços nas políticas públicas. Movido por esse desejo, Aaron ajudou a criar o Watchdog, website que permite a criação de petições públicas; a Open Library, espécie de biblioteca universal, com o objetivo de ter uma página na web para cada livro já publicado no mundo; e o Demand Progress, plataforma para obter conquistas em políticas públicas para pessoas comuns, através de campanhas online, contato com congressistas e advocacia em causas coletivas. Em 2008, lançou um manifesto no qual dizia: “A informação é poder. Mas tal como acontece com todo o poder, há aqueles que querem guardá-lo para si”.

Indignado com a passividade dos acadêmicos diante do controle da informação por grandes corporações, ele conclamava a todos para lutar juntos contra o que chamava de “privatização do conhecimento”. Baixou milhões de arquivos do judiciário americano, cujo acesso era cobrado, apesar de os documentos serem públicos. Chegou a ser investigado pelo FBI, mas sem consequências jurídicas. Em 2011, porém, Aaron foi alcançado.

>> O risco de criar um mártir da pirataria

Em alguns dias, ele baixou 4,8 milhões de artigos acadêmicos de um banco de dados chamado JSTOR, cujo acesso é pago pelas universidades e instituições. Aaron usou a rede do conceituado MIT (Massachusets Institute of Technology) para acessar o banco de dados, fazendo download de muitos documentos ao mesmo tempo, o que era – é importante ressaltar – permitido pelo sistema. Não se sabe o que ele faria com os documentos, possivelmente dar-lhes livre acesso. Mas, se era esta a intenção, Aaron não chegou a concretizá-la. Ao ser flagrado, ele assegurou que não pretendia lucrar com o ato e devolveu os arquivos copiados para o JSTOR, que extinguiu a ação judicial no plano civil.

Havia, porém, um processo penal: Aaron foi enquadrado nos crimes de fraude eletrônica e obtenção ilegal de informações, entre outros delitos. “Roubo é roubo, não interessa se você usa um computador ou um pé-de-cabra, e se você rouba documentos, dados ou dólares”, afirmou a procuradora dos Estados Unidos em Massachusetts, Carmen Ortiz (United StatesAttorney). Aaron seria julgado em abril. E, se fosse acatado o pedido da acusação, esta seria a sua punição: 35 anos de prisão e uma multa de 1 milhão de dólares.

Aaron Swartz morreu antes, aos 26 anos. E, como disse Kevin Poulsen, na Wired: “O mundo é roubado em meio século de todas as coisas que nós nem podemos imaginar que Aaron realizaria com o resto da sua vida”. Na The Economist, ele assim foi descrito: “Chamar Aaron Swartz de talentoso seria pouco. No que se refere à internet, ele era o talento”. Susan Crawford, que foi conselheira de tecnologia do governo de Barack Obama, afirmou, como conta John Schwartz, noThe New York Times: “Aaron construiu coisas novas e surpreendentes, que mudaram o fluxo da informação ao redor do mundo”. E, acrescentou: “Ele era um prodígio complicado”.

Li em vários artigos que Aaron seria depressivo. Em alguns textos, a suposta depressão foi citada como causa de sua decisão, como se a doença pudesse estar isolada – e não associada aos possíveis abusos cometidos contra ele no curso do processo judicial. É evidente que qualquer pessoa, e especialmente se ela for saudável, sofreria com a perspectiva de passar as próximas três décadas na cadeia – mais ainda se isso significasse um tempo superior à toda a sua vida até então. Esta é uma possibilidade capaz de abater até o mais autoconfiante e otimista entre nós, o que não equivale a dizer que todos lidariam com esse pesadelo da mesma forma. Se é perigoso encontrar um culpado para uma escolha tão complexa quanto o suicídio, também é perigoso quando a depressão é vista como algo apartado da vida vivida – e a patologia é colocada a serviço da simplificação. Se as doenças falam do indivíduo, falam também do seu mundo e de seu momento histórico. (leia mais sobre a trajetória de Aaronaqui e aqui.)

Se Aaron Swartz encerrou a própria vida, esta foi a sua decisão. Tornar-se adulto é também bancar as suas escolhas – e, neste sentido, estar só. Digo isso para que a nossa dor não esvazie de protagonismo o último ato de Aaron, o que equivaleria a desrespeitá-lo. Aaron é responsável por sua escolha, por mais que ela possa ser lamentada. E só ele poderia afirmar por que a fez.

Isso não significa, porém, que vários atores do caso judicial que envenenou a vida de Aaron nos últimos dois anos, com aparentes excessos, não precisem também assumir responsabilidades e responder por suas respectivas escolhas.Um dos mentores de Aaron, Larry Lessig (escritor, professor de Direito da Universidade de Harvard, cofundador do Creative Commons) afirmou que ele tinha errado, mas considerou a acusação e a possível punição uma resposta desproporcional ao ato. Logo após a morte de Aaron, escreveu: “(Ele) partiu hoje, levado ao limite pelo que uma sociedade decente só poderia chamar de bullying”.

Colunistas como Glenn Greenwald, do Guardian, acreditam que o processo penal era uma resposta do governo dos Estados Unidos contra o seu ativismo libertário: “Swartz foi destruído por um sistema de ‘justiça’ que dá proteção integral aos criminosos mais ilustres – desde que sejam membros dos grupos mais poderosos do país, ou úteis para estes –, mas que pune sem piedade e com dureza incomparável quem não tem poder e, acima de tudo, aqueles que desafiam o poder”. Em declaração pública, a família afirmou: “A morte de Aaron não é apenas uma tragédia pessoal. É produto de um sistema de justiça criminal repleto de intimidações”. A família também responsabilizou o MIT pelo desfecho.

Em comunicado, o presidente do MIT, L. Rafael Reif, anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar a responsabilidade da instituição nos acontecimentos que levaram à morte de Aaron. Reif escreveu: “Eu e todos do MIT estamos extremamente tristes pela morte deste jovem promissor que tocou a vida de tantos. Me dói pensar que o MIT tenha tido algum papel na série de eventos que terminaram em tragédia. (...) Agora é o momento de todos os envolvidos refletirem sobre suas ações, e isso inclui todos nós do MIT”.

É tarde para o MIT, é tarde para nós. Mas, ainda assim, necessário. É importante pensar sobre o significado da tragédia de Aaron Swartz. E, para começar, só o fato de ela poder significar algo para todos, sendo ele um jovem americano encontrado morto num apartamento em Nova York, é bastante revelador desse mundo novo que Aaron ajudava a construir. Esse mundo que nos une em rede, simultaneamente, que faz o longe ficar perto. Nesse contexto, a tragédia de Aaron Schwartz não é apenas um episódio, mas o marco de um momento histórico específico. Nele, diferentes forças econômicas, políticas e culturais se batem para impor ou derrubar barreiras no acesso ao conhecimentona internet. E este é, junto com a questão socioambiental, o maior debate atual. E é ele que está moldando nosso futuro.

Como disse Tatiana de Mello Dias, em seu blog no Estadão, “poucas pessoas traduziram tão bem a época em que nós estamos vivemos quanto Aaron Swartz”. Isso faz com que possamos pensar que sua morte é também, simbolicamente, um fracasso da geração a qual pertenço. Essa geração que testemunhou o nascimento da internet, que está decidindo – na maioria dos casos por omissão – como o conhecimento vai circular dentro dela e que, por ter crescido num mundo sem ela, nem chega a compreender totalmente o que está em jogo. E por isso deixa a geração de Aaron tão só.

Obviamente sou capaz de perceber os poderosos interesses envolvidos nas decisões relacionadas à internet, boa parte deles conduzidos também por gente da geração a qual pertenço. Mas me refiro aqui à passividade de muitos, no exercício da cidadania, diante de um dos debates cruciais do nosso tempo. E aqui vale uma observação: quando se diz que a juventude atual é alienada, que não trava lutas políticas como seus pais e avós, não é também deixar de enxergar o que se passa na internet, a “rua/praça” de uma série de movimentos políticos levados adiante pelos mais jovens? Já não é um tanto estúpido pensar em mundo real/mundo virtual como oposições? Criticar o “ativismo de sofá” dos mais jovens, menosprezando as ações na rede, não seria má fé ou ignorância? Talvez, como pais e adultos desse tempo, parte de nós tenha apenas medo e vergonha daquilo que não compreende. E, em vez de tentar compreender, num comportamento humano tão triste quanto clássico, desqualifica e rechaça. Afinal, literalmente, a internet tirou o chão que acreditávamos existir debaixo dos nossos trêmulos pés. Ou, pelo menos, nos mostrou que não havia nenhum.

Aaron não era apenas um gênio da internet, ainda que essa palavra “gênio” já tenha sido tão abusada. Talvez o maior ato político de Aaron tenha sido o que fez com seu talento. Ele usou-o para lutar pelo acesso livre ao conhecimento, via internet. Isso, em si, já o tornaria perigoso para muitos. Mas há algo que pode ter soado ainda mais imperdoável: Aaron não queria ganhar dinheiro com o seu talento. Ele não era aquilo que as crianças são ensinadas a admirar: um jovem gênio milionário da internet, como Mark Zuckerberg, o criador do Facebook. Aaron Swartz era um jovem gênio que não queria ser milionário. E, convenhamos, nada pode ser mais subversivo do que isso.

Ao ler sobre a morte de Aaron Swartz, lembrei de dois versos. Ao fim ou diante dele, apesar de todos os argumentos, é só a poesia que dá conta da tragédia. Um é do eternamente jovem Rimbaud (1854-1891): “Por delicadeza, perdi minha vida”. E o outro foi escrito por um Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) já velho: “Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer”.

Quando lemos o que Aaron Swartz escreveu, ouvimos o que disse, ele que acreditava tanto em mudar o mundo, é difícil não pensar: por que ele desistiu de nós, ele que acreditava tanto? Que mundo é esse que criamos, onde alguém como Aaron Swartz acredita não caber?

Então, é isso. Ele nos deixou sozinhos no mundo que legamos à sua geração. Entre os tantos feitos admiráveis deixados por Aaron em sua curta trajetória, ao morrer ele deixou também um outro legado: a denúncia do nosso fracasso.

Perdão, Aaron Swartz.

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domingo, 3 de agosto de 2014

Norman Finkelstein

"Norman Finkelstein é um conceituado cientista político norte-americano, filho de judeus sobreviventes do Holocausto e crítico feroz do governo sionista de Israel. Ele é um dos mais conceituados analistas sobre o conflito Israel-Palestina.

Neste episódio (Vídeo abaixo) ocorrido no final de uma conferência na Universidade de Waterloo, no Canadá, ao ser interpelado por uma jovem judia, em lágrimas, que tenta contrapor aos seus argumentos, Finkelstein arrasa, denunciando a hipocrisia de suas lágrimas. O vídeo faz parte do documentário "American Radical: The Trials of Norman Finkelstein".

 


*PS: Constrangedor, teria me escondido embaixo da mesa, tiraria a roupa e sairia cantando pra disfarçar.

Site oficial:

http://normanfinkelstein.com/

Download do Livro:

A Industria do Holocausto-Norman-G.-Finkelstein-em-ePUB-mobi-e-pdf

  A Industria do Holocausto, Norman Finkelstein

 http://lelivros.club/book/download-a-industria-do-holocausto-norman-g-finkelstein-em-epub-mobi-e-pdf/

sábado, 2 de agosto de 2014

CONFISSÃO DE UM TERRORISTA (Mahmoud Darwish):

 

pregos

Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista
Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista
Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam
E me chamaram de terrorista
Assassinaram minhas alegrias,
Seqüestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
Eles… mataram um terrorista!

*Mahmoud Darwish (Palestina, 1941-2008).

 

O jovem Mahmoud Darwish

#Darwish Mahmud Darwish ou Mahmoud Darwich (Al-Birweh, 1942 - Houston, 2008), poeta e escritor palestino. A vila em que nasceu foi inteiramente arrasada pelas forças  de ocupação israelenses,  em 1948, durante a Nakba, e a família do poeta refugiou-se no Líbano, onde permaneceu por um ano. Voltou clandestinamente ao seu país e descobriu que o vilarejo onde nasceu fora substituído pela colônia agrícola israelense de Ahihud. Mahmoud Darwish foi preso diversas vezes entre 1961 e1967,  e a partir da década seguinte passou a viver como refugiado até ser autorizado a retornar à Palestina, para comparecer a um funeral, em maio de 1996. Darwish é o autor da Declaração de Independência Palestina, escrita em 1988 e lida pelo líder palestino Iasser Arafat, quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino. Membro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), afastou-se do grupo em 1993, por discordar dos Acordos de Oslo. Darwish é considerado o poeta nacional da Palestina. Seu trabalho foi traduzido em mais de 20 línguas.

Mais poesia:

*ZUNÁI - Revista de poesia & debates:

http://www.revistazunai.com/editorial/23ed_mahmouddarwish.htm

*Passarin:

http://eupassarin.wordpress.com/2011/03/13/mahmoud-darwish-palestina-1941-2008/Eu

*Mahmoud Darwish: O poeta da Palestina e a sua amada judia:

http://margaridasantoslopes.com/2014/06/21/10347/

*Poesia Árabe:

http://www.poesiaarabe.com/Mahmud%20Darwish.htm

 

darwish1

 

Rede de Olhares - 29/07/2014 - Israel x Palestina

Quando "Israel" nos diz, "O Hamas  deve parar para haver a paz." Se buscarmos as raízes de existência disso que chamam de terrorismo, vamos compreender que, na verdade, Israel deseja o terrorismo. 


#FreePalestine

Documentário Cinco Câmeras Quebradas, 2011:

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“5 Broken Cameras”. Dirigido por: Emad Burnat Guy Davidi. 94 min.

Sinopse: “Em 2005, uma pequena cidade na Cisjordânia foi dividida por um muro, construído pelo governo israelense. Com o argumento oficial de proteger um povoado das redondezas, eles prepararam o terreno para a tomada de posse de 150 mil judeus israelenses. Mas o agricultor Emad, morador da região, decidiu armar-se de uma câmera e de formas pacíficas de protesto para tentar conservar suas terras”.

"Cinco (5) Câmeras Quebradas" é o documentário mais honesto e sincero que já assisti até então. Sincero por sua perseverança e sensibilidade. Honesto por sua genial originalidade. Que olhar é esse?! Os olhos atrás das 5 câmeras foram "uma das maiores contribuições para o cinema mundial e humanidade".

Corajoso, justo e emocionante!

Emad Burnat, diretor do primeiro filme palestino indicado ao Oscar, tem uma proximidade com o Brasil, afinal sua esposa é meio brasileira. O documentário mostra alguns momentos peculiares dessa proximidade Brasil-palestinos.

*Ganhe 1h34min na vida assistindo o documentário.

Filme completo:
http://youtu.be/iPoYYbF8hjk

 

Diretor fala sobre filme "5 Câmeras Quebradas":
http://youtu.be/4U7EDJwmPLE

 

cinco cameras quebradas

Mais loucos e perversos do que nos imaginamos:


Foi com seu mestre, o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), que Contardo Calligaris aprendeu que o transtorno mais grave que uma pessoa pode ter é ser, digamos, “normal”. Consequentemente, aprendeu também o pupilo que, para ser saudável, o ser humano necessita ter, ao menos, uma neurosezinha aqui e outra ali. Assuntos como esses fascinam tanto Contardo que, aos 65 anos, o psicanalista italiano, nascido em Milão, mas radicado no Brasil desde os anos 1980, assume continuamente o seu maior gosto: trabalhar. Não é fora do comum, portanto, encontrá-lo em seu consultório durante 12 horas diárias e saber que, no tempo restante, além de poucas horas dedicadas ao sono, ele ainda faz exercícios, lê três livros por semana, produz uma coluna semanal para a Folha de S.Paulo e ainda preserva suas idas a cinema, teatro e restaurante. Quer mais? De um ano para cá, ele vem se dividindo entre os roteiros e as gravações da série Psi, que estreia dia 23 deste mês no canal HBO Brasil – e simultaneamente em mais 22 países da América Latina –, e é baseada em seus livros O conto do amor e A mulher de vermelho e branco. Em foco estão as aventuras de Carlo Antonini (vivido por Emílio de Mello), psicólogo, psiquiatra e psicanalista que tem a vida fora do consultório destrinchada junto com a história de outras personagens que exemplificam diferentes perfis psicológicos.

Membro da Escola Freudiana de Paris há quase quatro décadas, Contardo Calligaris não se importa em chocar seus colegas freudianos e lacanianos ao revelar que gostaria de fazer um ano de pscioterapia junguiana, assim como também não tem problema algum em encarar a sociedade ao expressar que a infância é uma idade totalmente idealizada e que as crianças são seres extremamente cruéis. Completa a descrição dizer que ele é encrenqueiro, intervencionista, gosta de se meter em brigas – claro que não como há 30 anos – e de resolver problemas sobre os quais não foi pedida sua opinião. Enfim, o psicanalista está bem longe de ser a pessoa normal que tanto abomina. Sorte a nossa! Afinal, Lacan não estava errado em dizer que a vida é realmente mais interessante quando há uma neurosezinha aqui e outra acolá.

Por muito tempo você teve oportunidades, mas optou por não adaptar os livros O conto do amor e A mulher de vermelho e branco para o cinema ou TV. O que, dessa vez, fez com que você mudasse de ideia?

É uma pergunta interessante. Primeiro, porque, claro, é uma mudança de ofício, mas, enquanto romancista, eu sou um contador de histórias. Não sou fascinado por nenhum experimentalismo. Então, um seriado é uma maneira de contar uma boa história e, sobretudo, construída ao redor de personagens que têm de ser sólidos, porque eles têm de durar de alguma forma, pelo menos o personagem principal. Isso, no fundo, não é muito afastado do trabalho do narrador e do romancista. Tem uma grande diferença que é de ser um trabalho coletivo; então, é preciso, realmente, se acostumar a isso, porque o romancista é Deus e todo mundo. Não tem problema, mas o escritor de cinema, sobretudo do Brasil, é inserido em um processo muito mais complexo. Agora, ainda por cima do ponto de vista da televisão brasileira, foi uma coisa relativamente nova. Aliás, na verdade, absolutamente nova como tipo de seriado brasileiro. Acho que nunca foi feito algo parecido. Não tem! Então, nasceu essa ideia, e procurei alguém que escrevesse comigo, porque é uma tarefa hercúlea. O roteiro de uma série de 13 episódios tem 800 páginas, não menos do que isso, em várias versões e andando em companhia. Mas, rapidamente, me encontrei com Thiago Dottori, que é o roteirista com quem, aliás, eu continuo trabalhando a segunda temporada.

O que as pessoas que já conhecem o personagem Carlo Antonini vão encontrar de diferente em Psi?

Várias coisas. Primeiro, os amores e os amigos são completamente diferentes, porque ele não mora mais em Nova York, voltou para São Paulo. Mas, no fundo, espero que eles encontrem certa permanência que é ele: essa figura um pouco bizarra, um cara que é psiquiatra, psicólogo, psicanalista – geralmente existem casos famosos, mas são poucos. Na maioria das vezes, alguém é ou psiquiatra e psicanalista, ou psicólogo e psicanalista, mas as três coisas são mais raras juntas. E um cara que tem um espírito, pelo menos aventureiro, tanto na sua prática quanto com poucas obediências de qualquer tipo, inclusive, de alguma forma, morais. Não por isso ele seria um devasso – não é nada disso, ao contrário. Mas digo “morais” no sentido em que acha que as escolhas morais são questões próprias, singulares de cada um. E um fascínio com essa profissão. Fascínio no bom sentido, não no sentido de ficar boquiaberto – é um pouco burro –, mas um interesse muito grande pela diferença extrema que, na verdade, é sempre muito menos extrema do que parece. É muito mais próxima, muito mais parecida com a gente. E essa relação com a diversidade da vida acontece na clínica, mas acontece também na sua vida cotidiana, na sua vida amorosa, por exemplo. É um cara que se aventura, faz escolhas amorosas que podem parecer um pouco bizarras.

E você também acompanhou as gravações?

Totalmente. Mas, em certos momentos, foi complicado... Na segunda temporada, acho que vou ter que levar isso mais a sério porque, fisicamente, a massa de trabalho foi superior, muito superior, ao que eu vagamente imaginava, como número de horas. As noturnas acabam às 4h30, 5h da manhã. Mas, tudo bem, digamos que, às 2h, eu desistisse, mas às 7h30 estava no consultório.

Não podia abandonar nem o consultório e nem as gravações...

Claro, mas, na segunda temporada, certamente vou, durante a produção propriamente dita, suspender os atendimentos. Não tenha dúvida! Porque, se não, caso eu não suspenda, não tem como. Tem isso. E tem antes e tem depois. Porque você não para de escrever ao longo, sempre tem o “vamos mudar essa cena, vamos fazer aquilo, se muda aquilo tem que mudar o outro e companhia”. Participei muito ativamente de todo o processo de edição. E aí você realmente aprende! E olha que tenho um passado ligado ao cinema, digo, eu fui tudo, até figurante. Fui figurante muito cedo, de Barbarella [filme dirigido por Roger Vadim, em 1968] e de alguns outros horrores cujo título nem me lembro. Já fui gladiador romano, já fui várias coisas quando morava em Roma.

Essa curiosidade do Carlo por situações diferentes, de sair atrás de um problema e tentar resolvê-lo, também existe em você?

Sim. Ou, então, quando não tem um problema, criá-lo (risos). Que também é outra maneira de ter que sair atrás de um problema. Sim, sou intervencionista, sou encrenqueiro, sou do tipo que, se tem uma briga, me meto. Sou briguento. Paguei a metade da minha faculdade com uma bolsa pelo boxe. Fui campeão suíço universitário. Só para dizer que sou encrenqueiro.

Nada como uma boa confusão então...

Gosto de uma pequena confusão, sim. Muito menos agora do que há uns 25, 30 ou 40 anos. Mas ainda entro em alguma confusão. Compro briga, sim. Peito!

E você, assim como ele, também tem repulsa pelo que é normal?

Também. Aprendi isso com o meu mestre, [Jacques] Lacan. Eu segui, durante muitos anos, as apresentações de pacientes que ele fazia a cada sexta-feira, ao meio-dia, no [Centre Hospitalier] Sainte-Anne, em Paris. Uma apresentação de paciente, você sabe o que é? Um paciente que foi internado, o residente que se ocupa desse paciente tem questões, então, ele é apresentado. Lacan apresentava-o para um público limitado, de pessoas convidadas, autorizadas, digamos que eram umas 70 pessoas, mais ou menos. Fiz isso no Hospital Raul Soares, na Clínica Pinel, em Porto Alegre, em Rosário. Existe cada vez menos, e é uma pena, porque é um instrumento pedagógico incrível. E também porque não existem mais hospitais psiquiátricos no sentido tradicional. Cada vez menos existem. Então, uma vez, Lacan disse sobre um paciente: “Qual é o problema dele?”. O residente falou: “Não consigo diagnosticá-lo”. E Lacan disse: “Ele é absolutamente normal”. Todo mundo deu uma risadinha, e Lacan acrescentou, o que deixou uma espécie de frio entre nós: “De todos os diagnósticos, a normalidade é o diagnóstico mais grave, porque ela é sem esperança”.


Então, a “normalidade” é um transtorno como outro qualquer...

Certamente. Não... Na verdade, é mais grave.

E o que é ser “normal”?

Pois é... Será que as pessoas querem ser normais? Normais ou não julgadas? Eu acho que o neurótico médio – que somos todos nós – sonha, idealiza o louco. Ele acha que o louco é “o cara”. E sonha em ser perverso. Ou seja, em ser alguém que realmente não teria todos os impedimentos que a neurose nos coloca, ou seja, os registros de culpa, as inibições. O que é uma pessoa normal? Uma pessoa realmente normal é uma que tem um registro de experiência miserável, extremamente pobre. Pode ser que seja relativamente pouco sofrido, mas é também dramaticamente desinteressante. Às vezes, quem pode ser normal são pessoas que têm ou tiveram uma insuficiência cultural-afetiva muito grande. Então, não conseguem... Não é elaborar a experiência no sentido de falar as suas experiências, mas sabe aquela coisa que você atravessa a vida, vê as coisas e isso não lhe evoca nada? Tudo acontece como está acontecendo e isso não me evoca nenhuma lembrança. Normal é quem não tem nada disso. É quem tem uma experiência miserável, no sentido de pobre. Um registro de experiência extremamente pobre.



Não tem interesse também?

É a mesma coisa. Interesse muito limitado. Por exemplo, o sexo parece ser fisiológico. Ausência de fantasias sexuais. O sexo é: “23h30 a gente apaga a luz, está na cama, transa”. Está previsto.

E essa normalidade é atribuída ao quê?

De certo ponto de vista, aquilo pode ser considerado um tipo de saúde mental. Porque você, sem dúvida, tem um nível de tormento individual, de angústia, muito menor do que o neurótico médio. Mas, geralmente, aquele tipo de normalidade é construída de maneira extremamente sólida e eficiente em cima de um vulcão adormecido.


Pensando dessa maneira, uma neurose é sempre interessante.

Somos todos neuróticos, em tese. Graças a Deus, realmente normais são muito poucos. Somos todos neuróticos. Mais loucos do que nos imaginamos – loucos, digo psicóticos –, e em certo número, somos todos, enquanto neuróticos, capazes de ser perversos de vez em quando. O problema mais interessante não é o de viver tranquilo, é o de ter uma vida interessante. Isso que é importante. Inclusive, a que uma psicanálise se propõe? Se propõe a tornar a vida de alguém mais interessante. Não garanto que os meus pacientes venham, sei lá, a sofrer menos ou a ter uma vida mais tranquila. Aliás, o que eu espero é que tenham uma vida mais interessante.

Existe algo como uma cura ou alta, do ponto de vista da psicanálise, para os pacientes?

Existe, mas é uma transformação. Porque na medicina, em tese, curar significa trazer você ou levar você a uma espécie de volta à situação anterior. Quer dizer, você está com gripe, você quer ficar como antes da gripe. No campo “psi”, isso não existe. Você tem uma depressão, você não vai poder voltar ao que era antes da depressão. Pode se tornar outra coisa, que não é nem a depressão que você tem agora, nem o que você era antes. O processo é transformador. Então, “curar” é sempre um pouco problemático. E, além do mais, a apreciação é subjetiva, porque, afinal, é o paciente quem vai dizer que está melhor ou que está suficientemente bem para poder, por exemplo, parar um tratamento. A apreciação é dele. Posso verificar que você não tem mais febre, que você não tem mais um tumor. Tudo bem: não tem mais, não está lá. É muito diferente.

Quem faz análise geralmente fala que todo mundo tem que fazer. E quem não faz, fala que não é assim. Como é, na verdade?

Acho que não é verdade que todo mundo tem que fazer. Acho que é um equilíbrio complicado, uma alquimia complexa. Não sei nem se a gente pode dizer que todo mundo pode fazer. “Poder”, do ponto de vista de ter, sei lá, isso a grande maioria pode, tem a possibilidade de fazer uma análise, mas é preciso uma predisposição subjetiva. É um equilíbrio curioso, porque é tempo, é uma complexidade na vida. Não é necessariamente penoso. Pode ser extremamente interessante; e deveria ser. Teve uma época em que estava na moda pensar que uma análise deveria ser necessariamente um processo penoso e angustiante. Que, aliás, se você não se angustiasse, isso demonstraria que você não estava tocando nas questões importantes. Pode ser um processo divertido – divertido, além de interessante, no sentido de que um paciente e um analista podem tranquilamente rir em uma série de circunstâncias. E não é raro que seja um processo em que o cara espera o dia da sua sessão ansiosamente.

Você faz análise?

Neste momento, não. Minha última análise foi nos Estados Unidos. Faz bastante tempo que não me reanaliso. Deveria acontecer daqui a pouco, aliás.

Como funciona com você?

São situações assim, na verdade, na minha idade – não sei se tem muito a ver com idade, mas, enfim – houve pessoas com as quais eu fiquei a fim de fazer uma fatia de análise. Porque eu queria ver, queria ouvir uma coisa diferente do que já tinha ouvido. Pessoas que justamente não eram da minha formação. Hoje, provavelmente – coisa que vai chocar a maioria dos meus colegas –, acho que eu faria um ano de psicoterapia junguiana, me interessaria.

Eles ficariam chocados de que forma?

Ah, porque a maioria dos meus colegas freudianos – lacanianos nem se fala – não iria entender; é como se eu dissesse que vou me confessar com alguém de outra denominação. Tipo: “Vou parar de ir à missa. Agora vou à mesquita no domingo”. Ou, então, começo a frequentar a sinagoga no sábado. Em regra, é bem assim.

Você acredita ser mais flexível do que eles?

Não, não. Não é que acredito, eu sei que sou muito mais flexível. Mas eles não chamam isso de flexível, porque parece uma coisa positiva. Acho que eles consideram que tem uma dívida específica com a disciplina. Acho que eu tenho uma dívida com a psicanálise. Com o desejo, sem dúvida, de Freud muito mais do que com a doutrina de Freud. Me interessa tudo o que saiu do desejo de Freud, inclusive Jung, por exemplo. E mesmo coisas que não saíram do desejo de Freud, porque tem um monte de psicoterapeutas. Fiz psicoterapias rogerianas (método de Carl Ransom Rogers, 1902-1987) e companhia, que não são propriamente pós-freudianas, e achei superinteressante.


Uma, das muitas questões discutidas na série, é que ninguém gosta de ser mudado...

Isso. A gente passa a vida inteira circundado por pessoas que têm o projeto de nos moldar. Na hora, pode até parecer normal, mas é um saco, né?!  E isso continua. Mas na infância e na adolescência é muito mais, inclusive depois, até no trabalho. Você se lembra daquele filme bonito, Mestre dos mares? É uma história de Russell Crowe, que é comandante, e tem esses dois meninos de 13 ou 14 anos que, na verdade, são oficiais a bordo do navio. É um deles que comanda as baterias de bombardeio do navio. Eles são oficiais da Marinha! Um deles perde um braço e fica lá sem braço. Sobrevive. O espectador médio hoje vê aquilo e não entende. Não processa como sendo normal. Você entrava na escola militar de guerra aos 12, 13 anos, fazia os seus cursos, passava, saía. Valeu. Um aprendiz saía de casa aos 7 anos, na França da Idade Média. Se eu era marceneiro, o meu filho se destinava à marcenaria – naquela época, o que se previa era a reprodução; então, aos 7 anos, o meu filho ia aprender a ser marceneiro. Mas não podia aprender comigo, porque eram inteligentes, eles entendiam que não era com os pais que se aprende. Então, eu tinha que mandá-lo para outro marceneiro dentro da confraria, mas não era na mesma cidade. Era 600 km, 700 km... Eu ia rever meu filho dez anos depois, formado. E ninguém morria. Você vai dizer isso para uma mãe hoje?

Você diz em relação à superproteção extrema, não?

Nós somos totalmente infantólatras e a infantolatria é um dos grandes traços da contemporaneidade. E dizer que as crianças são capazes de grandes crueldades, isso é uma coisa que hoje é quase um escândalo. A criança pode ser extremamente agressiva. Não tenho uma simpatia, a priori, por crianças. Acho que crianças são seres cruéis, extremamente cruéis, capazes das maiores maldades. Freud dizer em 1905 que as crianças tinham uma sexualidade era um negócio! Como? As pessoas não viam as criancinhas se masturbando em casa?

A grande maioria não quer enxergar isso...

Não quer, absolutamente. A infância continua sendo uma idade totalmente idealizada. Aliás,  continuamos, cada vez mais, tentando criar uma idade durante a qual as crianças, esses seres, não vão ter preocupações de nenhum tipo. Bom, claro que isso funciona como pode, mas a nossa idealização da criança é muito grande, muito forte.

E quem resolve não seguir por esse caminho recebe muitas críticas...

Sim, claro. Imediatamente. Mas a gente não pode se queixar tanto assim, no fundo, porque, sobretudo a partir dos anos 1970, progressivamente, a sociedade ocidental criou uma espécie de ideologia positiva da diferença. Tanto que a diferença parece ser ou é apresentada como um valor em si. Por exemplo: é bom que o ambiente de trabalho seja repleto de diferenças étnicas e o caramba, pessoas de todos os tipos, porque essa inclusão vai – e agora tem toda uma justificação positiva – ter um efeito positivo na decision making. Porque, claro, vão participar pessoas que pensam, sentem e veem o mundo de maneiras tão diferentes. Isso é realmente muito novo. Se falasse isso em qualquer empresa nos anos 1950 ou 1960, iam achar que você estava louco. Então, certamente a margem de convivência das diferenças aumentou muito. Hoje não é, pelo menos nas grandes cidades do Ocidente, impossível ser homossexual, não é impossível conviver com um casal homossexual. Até os anos 1980, era tipo aquela política Clinton: “Don’t ask, don’t tell”. Mas você não imaginava chegar ao seu escritório e colocar a fotografia de um namorado ou namorada do mesmo sexo em cima da mesa em um porta-retratos. Não, você não ia fazer isso não.


Fonte:






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