Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Acerca do Autismo no Fantástico:

De ALFREDO JERUSALINSKY

O difundido até agora pela série dirigida por Drauzio Varella, no programa televisivo Fantástico, acerca do autismo constitui um ataque público contra os CAPS (porque de acordo com a lista os CAPS ficam excluídos dos sistemas de tratamento), contra o SUS (porque ao dizer que nada funciona a proposta oculta é eliminá-lo), contra as intervenções precoces (porque se é incurável o momento da intervenção perde valor), contra os autistas que poderiam se curar se recebessem um tratamento que oferecesse a eles a chance de se constituírem como sujeitos (porque sendo incuráveis e doentes inatos - segundo o difundido pelo Drauzio Varella e seus escolhidos - só caberia treiná-los para que se acomodem às exigências familiares ou institucionais). Tudo isso mostra o caráter puramente político e anticientífico dessa difusão. É uma exibição de poder daquelas instituições que escolhem o pior caminho para os autistas: as que se equivocaram com a Sindrome de Asperger – que não existe mais segundo o DSM V -; as que produziram uma falsa epidemia de autismo e TDAH usando instrumentos diagnósticos inspirados no DSM IV; as que levaram a invalidar pesquisas genéticas potencialmente valiosas porque os métodos de diagnóstico por elas escolhidos criaram amostras heterogêneas e indefinidas; porque determinam antecipadamente para os bebês que apresentam riscos de autismo o uso de métodos “terapêuticos” que elas justificam e fundamentam na suposta incurabilidade generalizada de todos os autistas com o qual – pelas consequências da aplicação desses métodos – acabam precipitando o risco na efetivação do quadro autístico e, por acréscimo, criando condições reativas que conduzem para a incurabilidade; porque se sustentam no método diagnóstico proposto pelo DSM IV e pelo DSM V, que o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos de América deixou de usar pela baixa validade e pelos efeitos negativos de seu uso.

O abuso de poder se configura, nesse caso, pela imposição de concepções unilaterais, pela ignorância e desconhecimento ativo de contribuições clínicas e psicanalíticas desenvolvidos internacionalmente nos últimos 70 anos (o autismo foi descrito em 1943), pela ostensiva tentativa de deixar fora da demanda e do conhecimento públicos as instituições (CAPS) que se ocupam comunitariamente das terapias do autismo nos mais diversos cantos do país e as quais o conjunto da população têm mais imediato e gratuito acesso.


A dor e o sofrimento não justificam – nem inconscientemente - o abuso de poder, simplesmente porque tal abuso somente se torna necessário quando os atos não estão inspirados pela razão. Nesse caso tais atos somente podem produzir mais sofrimento.




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