Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

As Três Novas Teologias Contemporâneas (Os Velhos e os Novos Pecados - Leandro Karnal):



As três novas teologias contemporâneas (Teologias que respondem ao novo homem da contemporaneidade)

- A Auto Ajuda (Teologia da Autoestima):
Quem escreve ganha dinheiro, logo é autoajuda, ou seja, ajuda a quem escreveu o livro. A autoajuda tem dois dogmas teológicos: 1° Se você não se amar, ninguém vai te amar. 2° O que você pensa acontece. É uma teologia vaidosa e que nos torna deuses demiurgos, o que eu penso acontece. Ex, livro “O Segredo”. Podemos empurrar a autora de um prédio e dizer a ela: “Agora voa, pensa que você pode voar, por que o que você pensa acontece”.  A auto ajuda é uma teologia porque nos faz crer que somos deuses.

- Teologia da Prosperidade: (A teologia das igrejas neopentecostais):

“Reze e você sairá do SERASA!”; “Acredite que você adquirirá teu carro novo!”; “Siga essa religião que você alcançará a gloria!”; “Adquira essa fé e você se tornará uma pessoa bem sucedida!" Nesta teologia não encontramos mais o deus sofredor crucificado, aquele deus de tradição medieval. Encontramos o deus vitorioso. “Com Jesus, eu venço minhas dívidas!”. Ninguém mais prega o deus sofredor, ele não tem mais lugar. Um deus sofredor não orna mais. Pois, nós queremos um deus vitorioso de sucesso. Um Cristo na cruz, chicoteado e sofrendo no deserto, não é mais o modelo para as pessoas. O Cristo vitorioso é o modelo ideal, pois, ele me faz vencer naquilo que me atrapalha, principalmente no êxito material; na família feliz, na saúde perfeita. Com este Cristo livre e vitorioso os bens materiais, também são conquistados a partir da fé.

Historicamente a Teologia da Prosperidade, é um ensino surgido nas primeiras décadas do século XX nos Estados Unidos, a partir da interpretação de alguns textos bíblicos como Gênesis 17.7, Marcos 11.23-24 e Lucas 11.9-10. Aqueles que são verdadeiramente fiéis a Deus devem desfrutar de uma excelente situação na área financeira. O pioneiro desse movimento foi o estado-unidense E. W. Kenyon, enquanto o maior divulgador foi Kenneth Hagin, que influenciou a muitos pregadores nos Estados Unidos que ganharam reconhecimento mundial. (É bem bacana pesquisar estes nomes na Wikipédia)

No Brasil, igrejas que não negam tal ensino são: a Igreja Universal do Reino de Deus, do Bispo Macedo; a Igreja Internacional da Graça de Deus, do Missionário R. R. Soares; os dissidentes da IURD, a Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada pelo Apóstolo Waldemiro Santiago; também os dissidente da Igreja Universal, a Igreja Apostólica Renascer em Cristo, fundada pelo casal Estevam e Sônia Hernandes; além da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, de Valnice Milhomens.

Edir Macedo, Silas Malafaia, Waldemiro Santiago e o estadunidense Pat Robertson***, que chama essa teoria de "Lei da Reciprocidade", são defensores da Teologia da Prosperidade pregando, em suas igrejas, para a salvação e sucesso de seus seguidores.

***Marion Gordon "Pat" Robertson é pastor pentecostal, advogado e ex-candidato à presidência da República dos Estados Unidos e criador do clube dos 700. Fundou a rede de televisão TBN, Christian Broadcasting Network e a Christian Coalization, organização destinada a influenciar a política norte-americana. Foi acusado de colaborar com o ditador Charles Taylor, da Libéria, em troca dos direitos de exploração de uma mina de diamantes, utilizando-se desonestamente de meios destinados à caridade (Operação Blessing). Pat Robertson também é conhecido por afirmações polêmicas sobre vários temas, como, por exemplo, ter dito que Hugo Chávez deve ser assassinado.

O programa 700 Club (O Clube 700, no Brasil é veiculado pela Rede 21) recebeu esse nome porque Robertson conseguiu reunir 700 empresários para financiar o programa. Desde então passou a ser um programa religioso. Após as eleições de 1988 passou a ser mais do que um programa religioso. Robertson passou a fazer mais frequentemente comentários políticos. Entre as afirmações feitas estão a de que Jesus voltaria em 1982.

Também condenou o feminismo dizendo que é "matar os seus filhos, praticar feitiçaria, destruir o capitalismo e tornarem-se lésbicas".

Pat Robertson disse que os ataques de 11 de Setembro foram "juízos da ira divina contra os homossexuais, ateus e liberais".

Recentemente, afirmou que a sequência de desastres naturais são um sinal da volta de Jesus, para iniciar uma "nova era".

Pat Robertson também é defensor do criacionismo, chegando a condenar a cidade de Dover por não ter aceitado o criacionismo nas escolas pública.

Ele também disse que a doença de Ariel Sharon foi castigo divino por ter "dividido a terra de Israel". Foi muito criticado pela Liga Anti-Difamação.

Pat Robertson, em 1960 criou a primeira rede de televisão cristã, a CBN, em Virginia Beach. Hoje, está presente em mais de 70 países. A Criação pioneira de Pat influenciou a criação, em várias partes do mundo, dos canais religiosos, em sua maioria pertencentes as igrejas neopentecostais.

- Teologia do Empreendedorismo: (usada, também, como modelo espiritual uni-se a Teologia da Prosperidade):

Hoje, empreendedorismo é a pedra de toque de todas as pessoas, especialmente no mercado, para entenderem que sucesso e fracasso só podem existir se você não tiver ou não conseguir controlar seu empreendedorismo. Empreendedorismo é a chave do futuro.

Empreendedorismo é tudo!

A ideia de empreendedorismo é uma das ideias teológicas mais insidiosas, porque traz para dentro de mim a censura. Se eu fracassei a culpa é minha. É a internalização absoluta dessa censura. O sucesso é minha responsabilidade, o fracasso é minha culpa. Ele (sucesso) ajuda as pessoas porque ele estabelece que coragem, ousadia, autoestima, iniciativa, fazem parte do sujeito vitorioso. Isto é o empreendedorismo como processo. O novo homem que atinge a salvação não é mais São Francisco, não é mais Santo Antônio, não é mais Tomás de Aquino, mas é o empreendedor. Ele é o modelo de uma teologia imanente, uma teologia da matéria, que atingindo aquele ponto leva os outros à felicidade.

Este novo homem adquire a salvação mediante sua iniciativa pessoal, tal como o homem medieval, mas não é uma iniciativa pessoal em busca de um além, mas é de um hic et nunc, de um aqui e agora. E o inferno dessa teologia é o fracasso financeiro e pessoal. Para isso, há livros sobre empreendedorismo. Para isso há treinadores pessoais que fazem coach, que ficam dizendo "você precisa confiar em você", "você precisa ter metas", "você precisa se desenvolver", "você precisa colocar essas metas e repetir 'eu posso', 'eu sou vitorioso'". Isso que, há alguns anos seria tido como esquizofrenia ou bipolaridade, hoje é tido como consistência pessoal. O inferno atual é o fracasso. Vai para o inferno quem não tem iniciativa. Vai para o inferno quem não se planeja. Vai para o inferno a pessoa que não tem metas. Vai para o inferno a pessoa pessimista. Este é o inferno atual. Aquele pessimista que possivelmente seria salvo na Idade Média, hoje ele é o condenado.

Nós precisamos estabelecer medidas para esse empreendedor. Há uma nova soteriologia - sotero, em grego, salvador. Há uma nova teologia da salvação. Esta salvação não é mais uma salvação abstrata ou metafísica. Esta salvação é uma nova forma de evitar os seguintes  pecados, pecados que todo RH, que são os novos departamentos teológicos do planeta, sabem: quem não é pró-ativo, quem não colabora com a sinergia da empresa, quem não veste a camiseta, quem não tem metas, quem não recebe aquela notícia "vamos fazer um treinamento sabe lá onde", "oba! É tudo o que eu quero! Que bom! É a coisa que eu mais gosto", e assim por diante, quem não tem criatividade, e assim por diante, quem não sai da caixinha, e outras fórmulas catequético-teológicas. São fórmulas e essas fórmulas são feitas, como toda teologia, para prometer felicidade, como toda teologia, para dizer quem erra, quem é pecador, e como toda teologia, se baseia numa prática em grego, ascesis, ascese, que é a prática teológica. E para isso vocês precisam de atividades e novos cultos, e esses cultos litúrgicos, em qualquer empresa hoje se chamam reuniões. As reuniões, como toda liturgia, tratam de um tema abstrato. Tem que ter fé para acreditar na reunião. Existe um sacerdote oficiante e existe um rito. Este rito tem frases ditas por um e repetidas por todos. Há uns anos era "o Senhor esteja convosco", "Ele está no meio de nós". Hoje é "bem-vindos à nossa reunião" e as pessoas sorriem porque é importante ser feliz. Pelo menos é importante parecer ser feliz para fazer parte da equipe, porque essa não é uma equipe de losers, é uma equipe de winners. Gente vitoriosa cresce.

“Dentro dessa ideia do empreendedorismo, é muito curioso que nós nunca fizemos tantas coisas e nunca fomos tão improdutivos na história humana”.


(Compilação da Apresentação, “Os velhos e os novos pecados”, Leandro Karnal, no Café Filosófico):


No Tube:


No Vimeo:

Os velhos e os novos pecados | Leandro Karnal
from instituto cpfl | cultura on Vimeo.


Um comentário:

Anônimo disse...

Teologias para o homem ocidental, no oriente, tlvz, tenhamos uma outra forma de expressão teológica.

Postar um comentário

AddThis