Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


domingo, 15 de novembro de 2009

Desejo e Surrealidade

Deusa Isís

Um efêmero detalhe pode (e vai) trazer a mais viva lembrança da memória (para a memória). Com os desejos mais profundos também funciona assim, um signo – basta um signo para que voltemos ao tempo – um lugar, é bem verdade, atemporal.

Quando as Psyques flutuavam, bastava que elas sugassem uma pequena gota de sangue para voltarem a relembrar. Nossos desejos são iguais, basta que molhem os lábios, em alguma reminiscência, para que revivam, renasçam do escuro que tentamos deixá-los. Desejos não podem e nunca serão estancados, perpetuam até o último momento de nossas vidas. “Desejos são imortais como os deuses”.

É surreal?! (eu acho) Porém, não é um código, não é mensagem cifrada é, no mínimo, uma coisa louca, profunda e bem direta – na veia.
***

"Murmuras hen?
E é tudo tão simples, um azul seboso, um passar sobre, alguns tombos.
O que?
A vida, azul seboso. Tu crias um caminho de dores para ti, o coração e o UMM são ilusões, descansa.
Não posso, as coisas pulsam, tudo pulsa, há sons o tempo inteiro, tu não ouves?
Mas, são os sons da cor, teu som Srª K.
Como é o meu som?
Quando caminhas pela casa me dizendo mentiras, te fazendo leve, é estridente, uniforme, o apito do homem do trem antes do trem sair, tu sabes... aos poucos te incorporas ao existir do trem e começas a ser o som nevoento das rodas, expulsas uns chiados.
Senhora K, teu som do UMM, me assusta, sabes?
Depois quando te deitas e me tocas, uns graves curtos vão se fazendo, olhe, se os figos emitissem sons quando os abrimos seria esse teu som nessa hora quando me tocas
E depois?
Quando os cães raspam uma terra úmida
Sim, afundam o focinho também, aspiram
Expectativa, alguma coisa viva por ali
Alguns só raspam a terra para espojarem-se depois,
De costas
Não tu, Srª. K., é como se o vento, a terra, a dura cartilagem, em saliva e cheiro
me tocassem, tubas, flautas
Deves ouvir... nem sonatas, nem trios, nem quartetos de cordas, só vida, palpitação. Se pudesses esquecer, Srª. K., teias, torções, sentir a minha mão sem o teu vivo-morte, te acaricio apenas, olha, é a mão de uma mulher, vê que simples, dedos, mornura, te acaricio apenas, e a tua pele teu corpo vai sentir a minha mão como se a água te circundasse, mas não sou eu experienciada em ti, me vês como nunca me pude ver, eu não sou essa que vivencias em ti, és Srª. K. apenas, Srª. K. que pode ser feliz só sendo assim tocada, não é bom? Fecha os olhos procura imaginar o vazio, o azul seboso, pequenos tombos, eu uma mulher te tocando porque te amo e porque o corpo foi feito para ser tocado, toca-me também sem essa crispação, é linda a carne, não mete o Outro nisso, não me olhes assim, o Outro ninguém sabe, Srª. K., Ele não te vê, nem te ouve, nunca sabe de ti, sou eu, sopro e ternura, sim claro que também avidez e sombra muitas vezes, mas é apenas uma mulher que te toca, e metemos vida, é isso Senhora K., é apenas isso, agora vamos, maldita vem viver, vem ser feliz. Vamos, tira essa roupa poeirenta de passado, pega, beija, abre a boca e grita pro invisível, pra luz, pro nojo e fornicas o mundo e aspira as expectativas que nem um cão."


*É meio uma mistura de coisas – Temperos da Vida – Misturei as coisas pra dá certo ou errado o que desejo, então ficou assim...

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