Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os Estupros Fantasmas da Bolívia e o Filme Dogville:


Olhem essa matéria. Ela causa calafrios, além de provocar uma angústia frente à estranheza com algo tão REAL, ao ponto de não acreditarmos e supormos que se trata de uma ficção jornalística:





"Durante algum tempo, os residentes da colônia de Manitoba acharam que demônios estavam estuprando as mulheres da cidade. Não havia outra explicação. Como explicar o fato de uma mulher acordar com manchas de sangue e sêmen nos lençóis e nenhuma lembrança da noite anterior? Como explicar o caso de outra residente, que foi dormir vestida e acordou nua, coberta de impressões digitais sujas por todo o corpo? Como explicar que, depois de ter um pesadelo que consistia num homem a possuindo à força num campo, outra das colonas acordara na manhã seguinte com grama em seus cabelos?

O mistério de Sara Guenter era a corda. Às vezes, ela acordava em sua cama com pequenos pedaços de corda atados firmemente a seus pulsos e quadris, a pele embaixo deles azulada e dolorida. No começo do ano, visitei Sara em sua casa na colônia Manitoba, na Bolívia. Era uma construção simples de concreto pintado para se assemelhar a tijolos. Os menonitas são similares aos amish em sua rejeição à modernidade e tecnologia, e a colônia Manitoba, como todas as comunidade menonitas ultraconservadoras, é uma tentativa coletiva de se afastar o máximo possível do mundo dos não crentes. Uma leve brisa de soja e sorgo vinha dos campos próximos enquanto Sara me contava como, além das estranhas cordas, nas manhãs depois dos estupros ela também acordava com lençóis manchados, dores de cabeça arrasadoras e uma letargia paralisante.

Suas duas filhas, de 17 e 18 anos, estavam agachadas na parede atrás dela e me encaravam com seus ferozes olhares azuis. O demônio tinha penetrado na casa, disse Sara. Cinco anos atrás, suas filhas também começaram a acordar com lençóis sujos e reclamar de dores “lá embaixo”.

A família tentou trancar as portas. Em algumas noites, Sara fez de tudo para ficar acordada. Em outras ocasiões, um trabalhador boliviano da cidade vizinha de Santa Cruz chegou a montar guarda durante a noite. Mas, inevitavelmente, quando sua casa de um andar — afastada e isolada da estrada de terra — não estava sendo vigiada, os estupros aconteciam novamente (Manitoba não é ligada à rede de energia elétrica, então, a comunidade fica submersa na escuridão completa durante a noite). “Aconteceu tantas vezes que eu perdi a conta”, Sara me disse em seu baixo-alemão nativo, a única língua que ela fala, como a maioria das mulheres da comunidade."

(...)

(Click AQUI para ler toda a matéria.)




Isso dá um seminário, nem sei sobre o quê, pois fiquei atordoada e paralisada pensando nessa história. Horda Primitiva? Futuro de uma Ilusão? Perversão? Domínio do Patriarcado? Poder da Alienação? Poder da Religião? O que querem essas mulheres, se elas nem sabem o que é ser sujeito? Não tem sujeito! É estranho pensar que uma história dessas, em plena contemporaneidade, possa existir fora de um filme. É real demais! Tanto que demoramos a acreditar que não se trata de ficção jornalística.

Fiquei pensando que corremos o risco de silenciar frente a tal informação, justamente por ver tantos sinais de natureza primitiva nessa sociedade. Naturalizar, pois o que mais poderíamos esperar deste lugar, tomado de arcaísmo e moralismo religioso? Não, também não pode ser somente isso. As pessoas que ali vivem, parecem presas a um reduto extremamente limitado, com suas próprias regras e leis. Que leis são essas? Como podem estar a parte do nosso sistema? É possível? A todo instante me reporto a estudos de antropologia e lembro-me das sociedades primitivas, mas não é o primitivo que está em questão. Pois, o que existe ali de primitivo? A religião/mito? O domínio do macho sobre as fêmeas? Ou o que se coloca é justamente o que temos de mais contemporâneo em nossa sociedade, ou seja, controlar a verdade como forma de poder?!

Lembrei-me do filme Dogville (Lars von Trier), uma cena forte do filme é quando Grace é estuprada, como "pagamento" para que não seja denunciada às autoridades policiais. Neste filme temos a nítida percepção de que todos sabem o que se passa, mas fingem não ver. Existe uma cumplicidade entre os moradores, pois o que eles falam passa longe de significar o que realmente querem dizer. Neste filme a personagem Grace tem uma dívida com a comunidade que só cresce e ela torna-se uma escrava não só de trabalhos físicos como sexual.



A história da matéria em questão e a história do filme trazem a tona o quê de nós, sujeitos humanos? Um retrato de pessoas cruéis, mesquinhas, egoístas e arrogantes? A nossa perversão? O quê, afinal?

Sabe o que me parece? Justamente, por tamanho mal-estar, penso que se trata de uma eminente tragédia grega contemporânea!


Filme - DOGVILLE:




Kierkegaard e Dogville: a desumanização do humano:
A capacidade criativa humana está desumanizada, constata o filósofo Fransmar Barreira Costa Lima, ao analisar o filme Dogville, de Lars von Trier. A cidade fictícia metaforiza as grandes metrópoles, onde a natureza humana está contida e desaprendida.
AQUI o artigo completo sobre o filme Dogville.

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