Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Salmo de Repúdio à Schreber: O Deus dos Nervos.



Enoja-me a arrogância de Schreber.

Sinto nojo de sua loucura e de sua capacidade de loucura.

Vontade de dar na cara desse maluco!

Desespera-me a sua incredulidade e seu poder de Deus.

Porque ele e não eu?

Queria poder sentir os raios divinos percorrendo com ânsia o meu corpo anoréxico e hipocondríaco.

Queria ser homem e sentir-me mulher no momento da cópula.

Schreber, eu te abomino, filho do sol. Filho de um louco, mais louco que tu.

Quisera ter o poder de recomposição para fugir de minhas sombras de pensamentos.

Desgraça! Desgraça!

Náusea-me que Deus, na sua decadente onipotência, o reconstrua novamente.

Rogo-te todos os venenos dos cadáveres de teu pai – apodreça verme! E que em teu estupor alucinatório, aquele Deus de teus delírios, te faça sofrer sem vísceras.

Que ao contrário da ordem das coisas, Miss Schreber, Deus te coma pelo rabo, seu maldito!

Redentor, progenitor ah como te detesto!

Eu quero, na minha agridoce inveja, nem que seja uma pena dos teus pássaros negros. Quem sabe mesmo, que você sinta pena de mim.

Schreber diga, diga alto e em bom tom, para as almas do teu inferno particular, para que elas encontrem a minha alma e, então, possam me dar um nervo de teu Senhor. Pois preciso disto para aliviar as minhas fantasias e os meus pensamentos sem grandeza – esses pensamentos duvidosos que temem demasiadamente o Deus Arimã.

Schreber seu arrogante e narcisista, quem mais poderia dizer dos pássaros miraculosos e dos pássaros falantes? Que outra alma mais infame que a tua?

Teu eu não existe! Ninguém te avisou? Não te avisaram que o veneno da ptomaína é veneno de tua bastarda mãe e untado por teu pai tirano? Coitado! O veneno é teu espelho decadente. Quisera poder sussurrar em teus ouvidos esta frase.

Louco arrogante extraordinário filho do sol, és uma águia. Serias capaz de furar meus olhos e, assim, me cegar por completo até o cair de minha pena e de minha voz?

Eu engulo a seco o meu fraco e franco narcisismo melancólico, pois não sou hábil o suficiente nem para ver o demônio – tenho sim, confesso, uns demônios pobrezinhos, diabinhos dentro de mim – diabinhos do prazer de repetir rituaiszinhos diminutos sem qualquer beleza translúcida.

Meu pobre eu é dominado por uma dívida avulsa, sem preço e impagável. De que me adianta arrancar-me a pele para purificar bactérias, se não sou capaz nem de um leve delírio de grandeza? Os vírus e as bactérias riem de mim, então tenho que amortece-las sob a etílica vontade de morrer.

Meu pai talvez seja filho do coco de teu pai miraculoso, ou seja, um verme. E eu filha deste verme.

Schreber Deus dos Nervos tu és um assassino de almas, de sonhos e de fantasias. Eu te vomito te defeco e te enclausuro na minha dor.

Tu és um veado, louco para dar o rabo!

Deus dos Nervos eu te rumino em eletrochoques dos meus neurônios incandescidos. Enquanto eu pensar, mais te eletrocuto seu ordinariozinho.

Ah! Schreber Semideus espedaçado tenha piedade de mim!


- Luciana Mai -  (07.04.2010)

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