Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


sábado, 3 de janeiro de 2009

SIAMÉSICO*


“E não se esqueçam que em vossos lares tudo é muito mais falso do que aqui.”
- Jean Genet –

*


Acredita em espíritos superiores? São como víboras que comem energias das pobres almas – sugando eu’s dos reflexos...
Sabe, durante a noite eu não durmo, fico fazendo listas, lembrando rostos, lendo Nietzsche e a lista telefônica. Uma vez arrisquei um nome, corri o dedo de olhos bem fechados até marcar stop crazy. Ela atendeu ao telefone após três chamadas, acho que esperava a minha indiscrição. Ela possui uma passividade bem humana – sobrevivente e artificial. Confessei desejos e misteriosamente presenças, que não quero revelar, materializaram-se, senti um perfume na pele e o coração pulsou mais forte. Fiz uma caçada silenciosa por longas semanas, meses... beber, lamber, saciar a sede atrevidamente. Os nossos olhos queimavam-se neles mesmos, nada mais além de tua íris castanha e tuas pupilas dilatadas... Milagres não acontecem todos os dias e juntar corpo com corpo é uma estupidez emocionante, coisas que o ser racional aprimora diariamente, distraidamente para fugir do cotidiano – não é uma epifania? Para aceitar o imprevisto, nós premeditamos. Tudo bem, eu confesso o meu crime, sou impessoal demais! E minha bondade de caráter é uma arte.
Todos os dias eu te segui e todos os dias até te morder, me abstive de outros corpos. Posso, nesse instante, desenhar as violetas de tua janela, lembro da cor, da dor e do sabor. Posso te conjugar no pretérito mais que perfeito, porque é uma mulher de imprevisível sabor... olhos de víbora, assim como os meus. Você me comeu e roubou o meu reflexo. E agora, quem sou?

* Vínculo Siamésico é o mais angustiante de todos os vínculos mãe-bebê, no sentido de que a criança pode experimentar a separação da mãe como se acarretasse a morte das duas, ou a impossibilidade de sobrevivência de uma delas, o que poderia acontecer, por exemplo, na situação parasitária ou na simbiótica, tal como observamos em determinadas esquizofrenias e em certos processos psicóticos. (Teoria do Vínculo – Pichon-Rivièe)

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