Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


sábado, 16 de outubro de 2010

Adolescência e Violência:

Recentemente escrevi este textinho que vou postar aqui. A sua escritura se deu por conta do meu estágio em Ênfase Social no curso de psicologia. O projeto de estágio trabalha com o tema dos adolescentes em conflito com a lei. No mês de setembro tivemos um triste episódio com um dos adolescentes do projeto, o que me deixou, particularmente, tomada por algumas questões, como também, ávida pela pesquisa e o desenvolvimento teórico. A dor nos faz escrever, não tenho vergonha de dizer isso. Um sofrimento reconhecido é uma motivação, parafraseando Calligaris.

***

    “É preciso conviver com os homens.
É preciso não assassiná-los!”

- Carlos Drummond de Andrade –


A nossa surdez e a indiferença frente ao outro, denunciam o potencial destrutivo que habita em cada um de nós. Partindo desta reflexão, queremos conjugar adolescência e violência, dois termos que agregam em si mesmos, infinitas e diferentes abordagens de estudo e discussão. Para nos guiar neste texto fizemos a seguinte interrogação: Por que os jovens são apontados como os representantes dos maiores índices de violência, se os dados de 2002 apontam que apenas 10% do total de crimes ocorridos no Brasil são praticados por eles, e desses, cerca de 90% são delitos contra o patrimônio? Em contra partida os adolescentes são as principais vítimas deste fenômeno social, dados da UNICEF de final de 2009 apontam que aproximadamente 16 crianças e adolescentes morrem assassinados no Brasil por dia.

A partir da escuta dos adolescentes em conflito com a lei e dos seus respectivos familiares parece-nos muito ingênuo querer responder de forma direta, apontando aqui ou ali os problemas dos adolescentes e da violência, pois são questões singulares e sociais, que se mesclam e interagem. O social é feito de nossas singularidades, portanto, o social do qual falamos aqui é uma configuração humana que passa a ter sentido pela ordem do discurso. Ou seja, é um Outro que me dá a condição de existência subjetiva, singular e, consequentemente, social.

Quais seriam os agentes potencializadores que levariam os adolescentes a desafiar a Lei, depredando o patrimônio público, violando o semelhante através de agressões físicas, furtos e roubos? Uma das questões que devemos levar em consideração é o processo de subjetivação da adolescência na contemporaneidade como um agente potencial para a produção da violência. O desafio constante dos limites da Lei, e os atos agressivos e destrutivos evidenciam a fragilidade dos adolescentes seja do vínculo familiar, seja da vulnerabilidade social – o que aparece é uma posição de angustia frente aos seus desamparos.

Diante disso, podemos afirmar que, “ninguém nasce mau, ninguém nasce bandido, é tudo uma questão de subjetividade, transmissão e oportunidade”. Há poucos dias a mídia noticiou a morte de um jovem de 17 anos, assassinado. Para muitos ele não passava de um delinqüente, um marginal, porém era um jovem, um adolescente jogado na solitária e individualista rede da contemporaneidade, mais um número para os índices da violência. Ele era um sujeito – um sujeito de angústia e de desejo. Na busca desesperada por uma lei que lhe dê suporte desde a infância, muitos adolescentes transgridem, fazem uma busca desesperada por um olhar que lhe diga algo, em outras palavras, buscam que o Outro lhe reconheça e se faça ver.

Esse ato violento, da morte desse jovem, que testemunhamos em nossos jornais, não deve ser vista como um exemplo a outros jovens, pois, violência nenhuma deverá servir como método pedagógico ou coercitivo. Devemos, sim, sermos solícitos e oferecermos a nossa alteridade. Pensar a violência e a adolescência não é matéria fácil e muito menos de uma página, mas deixaremos três questões para serem pensadas: “violência enquanto resposta aos impasses da condição de adolescer; a fragilidade da função paterna e os ideais sociais contemporâneos”. Sem estas conjugações, é improvável que se possa falar deste tema de forma plausível.


* Luciana Valquíria Kremin Mai - Acadêmica de Psicologia Unijuí.


# Sugestão de Leitura:

BAIXE AQUI: Correio da APPOA nº 189 de abril de 2010 (Associação Psicanálitica de Porto Alegre)
Tema: Ato e Transgressão.

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