Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


quarta-feira, 27 de março de 2013

Suzana Herculano-Houzel: Programa Roda Viva

Suzana Herculano-Houzel, nesta entrevista, nos fala da pesquisa no Brasil, de seu percurso nas instituições estrangeiras e pontua de forma muito direta a falta de investimentos na pesquisa brasileira, nos diz ainda de que em nossas universidades não temos pesquisadores mas, professores que não recebem incentivo para a pesquisa.

Nos fala da distinção entre mente e cérebro e responde de forma muito interessante sobre os estudos da psicanálise e a neurociência.

Formada em Biologia Modalidade Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992). Fez mestrado pela universidade americana Case Western Reserve (1995), doutorado na França pela Pierre et Marie Curie (1998) e pós-doutorado na Alemanha pelo Instituto Max Planck (1999), todos em neurociências.
Em 1999 voltou ao Brasil e passou a dedicar-se à divulgação científica, lançando também o site Cérebro Nosso de Cada Dia.
É autora de alguns livros, produziu inúmeros artigos científicos, além de textos e colunas para revistas e jornais como Folha de S. Paulo.
Exerce o cargo de professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 2002, além de dirigir o Laboratório de Neuroanatomia Comparada.
É membro do corpo editorial da Revista Neurociências e colaboradora de Jorge Zahar Editor.



 Livros:

O Cérebro Nosso de Cada Dia (Vieira & Lent, 2002)
Sexo, Drogas, Rock and Roll... & Chocolate (Vieira & Lent, 2003)
O Cérebro em Transformação (Objetiva, 2005)
Por que o Bocejo É Contagioso? (Jorge Zahar Editor, 2007)
Fique de Bem com seu Cérebro (Sextante, 2007)
Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor (Sextante, 2009)

Site oficial

Cérebro Nosso de Cada Dia

Entrevista para o programa Roda Viva em 2008

"É hora de parar de mentirinhas e fazer campanha pela razão certa: não porque maconha é "leve" (não é, maconha vicia, e bem rápido), muito menos porque "não faz mal" (faz, sim), e sim porque a proibição obviamente não funcionou para conter a expansão do tráfico. Eu mesma fui, por muito tempo, contrária à legalização, por acreditar que era papel do Estado proteger os cidadãos contra suas próprias más escolhas. Mas deixei disso: agora acho que cada indivíduo deve ser responsabilizado por suas próprias escolhas, boas ou ruins, e é papel do Estado proteger os cidadãos contra as más escolhas DOS OUTROS, com penas severas para quem causar danos a terceiros sob influência. Legalizar a maconha é um bom começo, que espero que logo seja estendido para todas as outras drogas formadoras de vício. Isso deve ser bem mais produtivo do que a tentativa de conter o tráfico, que tem se mostrado tão eficaz quanto enxugar gelo, aqui e em outros países".
(Palavras da Suzana, a neurocientista de plantão, lá em sua página)


segunda-feira, 25 de março de 2013

Jacques Lacan - Seminário Inédito:


Jacques Lacan, Seminário inédito em francês:

Jacques Lacan, l’insu que sait de l’une-bévue s’aile à mourre (1976-1977)

Organização de Patrick Vallas.

Página Oficial de Patrick Valas (Baixe arquivo):

 

domingo, 24 de março de 2013

Verdade Criadora

(Conjecturas de uma amanhecer cinza)

A linguagem nos aprisiona, isso como uma premissa. Mas, nos aprisiona porque e em que sentido?
Por uma "vontade" de saber!
Porque Édipo fura seus olhos?
Pois, que a tragédia do conhecimento nos cega!
Édipo quando descobre que Jocasta é, verdadeiramente, sua mãe, ele não suporta a verdade e fura os olhos..
Então, saber a verdade carrega em si uma tragédia. O saber é trágico?! Saber a verdade é ficar cego... Pois, que a verdade carrega uma potência...
Querer saber desta potência é um ato trágico, por isso, furar os olhos, já que nos revelam a verdadeira natureza da realidade...
Vontade de potência significa criar algo...não desejar dominar a vontade, pois que a vontade é criadora... E onde se encontra toda essa verdade criadora? Na linguagem..."

(Imagem da Divina Comédia de Dante)
  Illustration by Gustav Dore

(Pela cabeça ele tinha o membro para servir como lanterna do sábio. Pendente na mão, olhando para nós ele disse: "Ai sou eu!")

Dante - Canto 28, lines 116-119.

sábado, 23 de março de 2013

Espanando a Peste ao som de Kusturica

Retomando e recauchutando o blog da Peste.... vamos reciclar, customizar e passar o espanador...
Vamos ver o que acontece...
Como disse Nelson Rodriguês:
"Sem paixão não dá nem pra chupar um picolé."

Peço desculpas pelo tempo que me afastei, mas foi essencialmente necessário para realizar um intento.
Voltamos e vamos escrever, debater e utopizar o mundo.
 Enquanto espano que tal escutar Emir Kusturica....


"Amor" letal

Por Contardo Calligaris*
Folha de S. Paulo, 31/01/2013

Por que sempre chega um dia em que ninguém aguenta mais cuidar?

Algumas reflexões depois de assistir a "Amor", de Michael Haneke. Adolescente, eu já achava bizarra a certeza com a qual alguns amigos se expressavam: "Se eu ficar 'assim'", diziam, "eu me mato na hora. E, por favor, se eu não me matar, seja generoso comigo, mate-me você”. O "assim" que justificava tamanha convicção dependia de relatos, leituras e filmes --ia desde uma impotência sexual talvez passageira (mas que parecia acabar com o charme da vida) até a condição terrificante do protagonista de "Johnny Vai à Guerra", livro e filme de Dalton Trumbo: o soldado Joe, sem braços, sem pernas, sem rosto, parece ser apenas uma carne disforme, enquanto amente dele continua funcionando. Eu não concordava com a certeza suicida de meus amigos; imaginava que, antes de decidir me matar, seria bom experimentar minha nova condição durante um tempo. Afinal, em geral, as imperfeições nunca impediram os humanos de viver --ao contrário. Na época de minha adolescência, não dispúnhamos do exemplo do físico Stephen Hawking ou de Christy Brown, o protagonista de "Meu Pé Esquerdo", de Jim Sheridan. Em compensação, um amigo de meus pais, severamente inválido, disse-me, uma vez: "Você, por exemplo, não pode voar como as aves e é desafinado como um sino quebrado; ou seja, tem coisas que não pode fazer, e você vai procurar o valor de sua vida em outras coisas, que você pode fazer. Comigo não é diferente". Entendi. Mas me sobrou um certo medo (justamente, pela leitura precoce de "Johnny Vai à Guerra"): poderia acontecer que, de imediato, por causa de um acidente cerebral ou, sei lá, de um incidente de carro, eu me encontrasse numa condição na qual eu não quisesse viver de jeito nenhum e na qual eu não tivesse sequer a capacidade material e mental de pôr fim à minha vida ou de pedir para um próximo que ele me ajudasse a morrer .Anos atrás, conheci alguém realmente preocupado (muito mais do que eu) com essa eventualidade. Ele envelheceu desesperado, oscilando entre o medo de se matar cedo demais, quando ainda poderia viver um tempo que valesse a pena, e o perigo de esperar além da conta e decidir sair de cena quando ele não tivesse mais condição de se matar ou de pedir a alguém que o matasse. O mesmo alguém se consolava pensando assim: no caso extremo em que eu não pudesse mais pedir, quem me ama (ou melhor, quem amava aquela pessoa que eu era antes) saberá decidir que eu, embora impedido de me manifestar por minha invalidez, não estou querendo mais viver. Nessa situação, para quem me ama (ou amava, que seja), me ajudar a morrer seria um gesto de amor. Pois é. Não é tão fácil assim nem tão claro. Na sua coluna de sexta passada, Barbara Gancia escreveu, com razão, que "o fardo de cuidar dos idosos tornou-se um dos maiores dramas da atualidade". Os avanços da medicina fazem que, hoje, sejam cada vez mais numerosos os que cuidam de próximos que sobrevivem transformados pela idade, pela invalidez ou pela demência. E sobrevivem, muitas vezes, tanto irreconhecíveis quanto incapazes de reconhecer os que cuidam deles. Perguntas básicas. 1) Será que o outro que nós amávamos, se ele pudesse escolher, toparia viver como ele está agora? 2) Será que o ser do qual cuidamos hoje é o mesmo que nós amávamos antes do acidente, da invalidez ou da demência? Se ele não for o mesmo, será que esse "novo" ser não tem seus próprios critérios do que é uma vida que valha a pena de ser vivida --critérios diferentes dos do nosso amado de antes? 3) Difícil continuar amando alguém que não nos reconhece mais. Mas será que por isso o deixaríamos morrer --por ele não ser mais aquele ou aquela que amávamos? 4) Por que sempre chega um dia em que ninguém aguenta mais cuidar? É porque o custo (em todos os sentidos) é excessivo e queremos recuperar nossas vidas? Ou é porque é quase impossível fazer o luto de um amado que já se foi, mas continua de corpo presente? Acontece que alguém se suicide depois de ter matado um amado inválido e demente, de quem não consegue mais cuidar. É mais que uma maneira de evitar a culpa: renunciando a viver sem você, confirmo que foi por amor que matei você --ou melhor, que matei o desconhecido que tinha tomado seu lugar. Pois é, foi mesmo por amor que matei você? Ou por vingança, por você ter me deixado sozinho? Seja como for, fica confirmado, embora num sentido inabitual, que o amor resiste dificilmente ao tempo.

*Contardo Calligaris, italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas na versão impressa de "Ilustrada".

AddThis