Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mal Estar na Cultura: Freud



* Luciana V. K. Mai - Psicologia Unijuí.


Quando da escritura do texto “Mal Estar na Cultura”, Freud teceu as seguintes considerações:

“Em nenhum de meus trabalhos anteriores tive, tão forte como agora, a impressão de que o que estou descrevendo pertence ao conhecimento comum e de que estou desperdiçando papel e tinta.... para expor coisas que, na realidade, são evidentemente por si mesmas”.

“O que eu haveria de fazer? Não se pode fumar o dia inteiro e jogar cartas; não tenho mais firmeza para andar, e a maior parte do que se pode ler não me interessa mais. Eu escrevi, e passei muito agradavelmente o tempo com isso”.

As reflexões de Freud suscitam a sua dúvida, como também, uma necessidade teórica da psicanálise em consonância com uma leitura mais sociológica da civilização para que se possa dar conta daquilo que vem dos homens pelo social. Em carta para Lou Andréas-Salomé, ele diz: “Este livro trata da civilização, do sentimento de culpa, da felicidade e de outras coisas nobres do mesmo gênero....” Mas segue dizendo que, “(...) Enquanto me dedicava a este trabalho, descobri as verdades mais banais”.

Quando Freud se refere às verdades banais, nos reportamos ao Capítulo II, onde ele nos ilustra varias formas de se obter a felicidade. Ora, existiria coisa mais banal do que a chamada felicidade? Na seqüência do Capítulo III, a sua premissa nos leva a crer que sim: “(...) A nossa investigação sobre a felicidade não nos ensinou quase nada, que já não pertença ao conhecimento comum”. No entanto, esta coisa chamada felicidade é o que o homem mais persegue e, para compreender este percurso da civilização humana, a grande questão não é propriamente o que o faz feliz, mas o que o homem faz, no sentido da ação, da atividade na cultura, para evitar o sofrimento.

Quais seriam as fontes do sofrimento humano? Freud nos indicou três elementos:
- O poder superior da natureza;
- A fragilidade de nossos próprios corpos.
- A inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade.

Quanto aos dois primeiros elementos, não há como discordar: “Nunca dominaremos completamente a natureza, e o nosso organismo corporal, ele mesmo parte dessa natureza, permanecerá sempre como uma estrutura passageira, com limitada capacidade de adaptação e de realização”.

Mesmo que o homem domine toda tecnologia, ciência, arte e intelectualidade, o que permanece, transforma-se em processo da civilização – um processo sócio-histórico; seu corpo propriamente se desintegra; sua matéria é incorporada ao grande todo da natureza. Como em poesia de Augusto dos Anjos: “Eu filho do carbono e do amoníaco, digerido e carcomido pelos abomináveis vermes da morte que fazem parte da terra”. No entanto, nada disso paralisa o homem, pelo contrario, ele se serve de seus conhecimentos para aprimorar aquilo que lhe traga momentânea parcela de prazer e felicidade. O saber da morte e sentimento de sofrimento move a civilização, a impulsiona na criatividade das próteses da vida. A contemporaneidade nos prova isto de maneira muito clara, se pensarmos nos elixires, cremes, cirurgias estéticas e toda gama de ciência e tecnologia médica e estética a procura da longevidade. Afora as logosofias, espiritualismos, religiões e auto-ajuda para o homem melhor desfrutar aquilo que chama de vida. Desta forma, o movimento da vida procura, de todas as formas, evitar o movimento da morte. Aquilo que Freud, lá no texto das Pulsões e no texto Além do Princípio do prazer, já antecipava, uma luta constante de EROS e Thanatos.

A terceira fonte do sofrimento humano, poderíamos dizer que é o próprio homem em ação sobre si mesmo. Freud chama de “A Fonte Social do Sofrimento Humano” e acrescenta dizendo que esta fonte é uma parcela de nossa própria constituição psíquica. Ou seja, não há como fugir, ela faz parte de nós. Então, nossa fuga é fuga de nós mesmos. “Todas as coisas que o homem busca a fim de se proteger contra ameaças oriundas das fontes de sofrimento, fazem parte da cultura”. Freud usa o seguinte argumento: “O que chamamos de nossa civilização é em grande parte responsável por nossa desgraça e que seríamos muito felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas”.

A cultura humana é algo superficial, não faz parte da natureza. As regras, a família, o Estado, a religião, a sociedade, são criações do homem civilizado numa tentativa de conter os efeitos devastadores daquilo que ele mais anseia – o prazer de um gozo ilimitado, a plena e desconhecida felicidade que tanto o homem almeja para sair de uma condição de prótese artificial. Pois se a natureza goza, então, o homem se sente, também, no direito de desfrutar o impossível, sendo que ele é uma extensão da natureza, mesmo numa condição de artificialidade.

Freud afirma: “Não nos sentimos confortáveis na civilização atual”. E ainda, “a felicidade é algo essencialmente subjetivo”. Então, cada homem, por sua vez, procura da melhor forma e de acordo com sua época, produzir o que lhe traga prazer e alivio do sofrimento. Pois não existe um estado pleno e geral de felicidade e prazer, isto seria o Caos, um estado primordial de origem. Mas se ele existiu, o homem procura ainda este efeito de estado nas coisas e na vida. Diríamos que é uma constante e, então, voltamos às vicissitudes da pulsão. Neste processo de cultura o homem aprendeu a se proteger e criou mecanismos para tolerar as suas frustrações numa sociedade que lhe impõe limites, por isso, doravante, a proteção se faz por meio de um sintoma social, onde o mesmo é fonte e alivio do sofrimento. Freud nos traz como exemplo a religião, ou como ele mesmo nos diz “a vitória do cristianismo sobre o paganismo”, ao qual supomos a neurose – a estrutura ou enfermidade neurótica como uma forma de fuga da sociedade que faz o homem sofrer. Na impossibilidade de tolerar a frustração cultural ele retorna para aquilo que, supostamente, o realizaria na felicidade – viver na fantasia os ideais culturais.

Freud nos provoca a pensar na natureza da civilização. Então, o que é a civilização? “... a palavra civilização descreve a soma integral de realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber, o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos”.

Na história da civilização o homem dominou a língua, o fogo; atravessou o oceano e conquistou novos mundos e povos; aprendeu a escrita e, assim, representou o mundo. A aquisição cultural do homem o transformou num semi-deus – uma concepção de onipotência e onisciência; Freud o chamou de Deus de Prótese. No entanto, o homem com seus ideais culturais e em seu papel de semelhante a deus, não se sentiu feliz. Não basta ser deus é preciso ser belo. Talvez possamos pensar que a civilização realmente começa quando o objetivo primário de satisfação de necessidades é abandonado. O homem civilizado reverencia a beleza, a cultura e passa a ter preocupações para além do valor prático.

O homem se serviu de toda uma gama de criações culturais para regulamentar e ordenar os relacionamentos mútuos, pois, substituiu o poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade. Saiu da barbárie para se civilizar. “A liberdade do indivíduo não constitui um dom da civilização”. Isto quer dizer que o homem cria o Estado e as Leis para servirem de exemplo e regra a um todo maior; essas Leias passam a ser inseridas de forma natural na convivência entre os homens, com o objetivo de conter as pulsões primitivas que ainda o habitam. De qualquer forma, a ordem sempre está por um fio tênue; então, a cultura exige sublimação contínua. A limpeza, a beleza e a ordem são os primeiros indicativos da cultura civilizada. Freud, inclusive ironiza, citando o sabão como um símbolo da real civilização. Ora, a profilaxia, a higienização são movimentos de prazer e que podem reverter-se em sofrimento. A natureza conserva o estado primordial, então, consequentemente, conserva o principio de prazer, que por ora nos aventuramos a comparar com a estética e com o estado de liberdade. Nada que lembre a sujeira da morte faz o homem ser livre. A ordem estética, em nome do belo, produz um efeito de liberdade.

O homem é um ser protético e a sua liberdade também é uma prótese ou, na melhor das hipóteses, uma garantia de ilusão, pois a humanidade só entrou em relações humanas civilizadas por meio de um contrato social que conferiu ao Estado o poder de coerção. A justiça é feita exclusivamente pela comunidade dos homens, só a ela cabe fazer o que é justo, nenhum indivíduo está autorizado a fazer justiça com as próprias mãos sem a devida punição da comunidade. Liberdade, então, é uma ilusão.

Em suma, as instituições sociais são, sobre tudo, barreiras contra o assassinato, o estupro e o incesto. A vida em sociedade é como uma imposição; tais barreiras funcionam para proteger a sobrevivência da humanidade, apesar de que também geram seu mal estar... Cabe à cultura interferir no desejo dos indivíduos, suprimindo, reprimindo as necessidades pulsionais primitivas, que continuam a supurar no inconsciente e buscam constantemente uma vazão de força ilimitada.

Referências:

FREUD, Sigmund. O Mal Estar na Civilização – (1929 [1930]) v. XXI. In: ____ Edição Eletrônica das Obras Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
GAY, Peter. Freud: Uma Vida Para Nosso Tempo. Tradução de Denise Bottmanns. SP: Companhia das Letras – 1989.
HENRIQUEZ, Eugène. Da Horda ao Estado: psicanálise do vínculo social. Tradução de Teresa Cristina Carreteiro e Jacyara Nasciutti. RJ: Jorge Zahar Editor – 1996.
MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Tradução de Álvaro Cabral. RJ: LTC Editora, [199?] – 8º Edição.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A campanha eleitoral assumiu um tom fascistóide, diz Maria Rita Kehl



Celso Marcondes 15 de outubro de 2010 às 16:02h


Em entrevista a CartaCapital, a psicanalista responsabiliza Serra pelo nível do debate eleitoral, fala de aborto e corrupção.

O fim da coluna da psicanalista Maria Rita Kehl no O Estado de S.Paulo foi um dos assuntos da semana, em particular na internet. Seu artigo “Dois Pesos” foi pesado demais para os donos do diário paulista. Neste espaço, publicamos vários artigos a respeito. A repercussão enorme gerou até um abaixo-assinado que corre pela rede em sua defesa. Passado o impacto, Rita Kehl conversou com CartaCapital a respeito das eleições presidenciais, que ela acompanha de perto, com o olhar da profissional conceituada em sua área e também com a visão de cidadã e jornalista, carreira que seguiu nos tempos da ditadura. Ela se diz escandalizada com os temas que tomaram conta do debate eleitoral e responsabilizou a campanha do PSDB por isso.

*

CartaCapital: Teu artigo no Estadão discutia a disseminação de um grave preconceito através da rede. Essa parece ter sido uma característica do uso do veículo nestas eleições, em particular entre a chamada classe média.Você acredita que a internet, pelas suas especificidades, ajuda a este tipo de comportamento?

Maria Rita Kehl: Ajuda de fato. A internet, pela facilidade de acesso, pelas características que só ela tem, apresenta este potencial terrível de ser lugar da fofoca, de blábláblá. Mesmo quando não é um uso irresponsável, como são os casos destes tuites para dizer ”olha, eu estou aqui”, “eu existo”, “olha a foto do meu filho”, “do aniversário do fulano”. Mas tem também um potencial incrível, como a possibilidade de convocar uma passeata da manhã para a tarde, como aconteceu antes da guerra do Iraque, em vários países do mundo, e reunir milhões de pessoas. Então, eu não condenaria a internet, ela tem grande potencial, é um veiculo que dá justamente a possibilidade de você se incluir, de você escrever, pelo menos para quem é da classe média ou que tem acesso a uma lan house. Ela serve a essas duas coisas. Talvez com o tempo os leitores comecem a criar sua própria capacidade de discriminar.

CC: O preconceito que você identifica no teu artigo, este incomodo com a ascensão dos mais pobres, e por consequência com um governo mais identificado com eles, não é uma marca das nossas elites que aparece muito na rede?

MRK: Veja, a internet divulgou essas correntes preconceituosas, apócrifas, que sempre começavam assim: “uma prima minha”, “um parente meu”, “um amigo da minha empregada”, sempre assim. Mas por outro lado, o que tem de legal, é que, por exemplo, este meu artigo foi mais lido que qualquer outra coisa que eu jamais tenha escrito. Se ele tivesse ficado apenas no Estadão, ele teria sido lido, mas jamais deste jeito. Isso é uma coisa muito legal.

CC: Falemos de ética: você acha que o caso Erenice atingiu eleitoralmente esta classe média?

MRK: Eu acho que sim. Eu li um artigo dizendo que o caso Erenice foi mais decisivo para exigir o segundo turno que essa “fofocaiada” toda sobre o aborto. E, infelizmente, está certo. O governo para o qual eu voto e continuo votando tem uma leniência com a questão da corrupção, que deixa até difícil um petista defender, tenho que dizer isso. Lula naturalizou a corrupção, como sendo parte do jogo político. E aí, está bom, quando fica mais escandaloso, demite. Mas “deixa acontecer”, entendeu? Renan Calheiros, Sarney, são vergonhas que a gente tem que engolir, fica parecendo que é culpa da oposição agitar isso. Claro que ela vai agitar. Nós agitaríamos isso se aparecesse uma coisa tão escandalosa na outra campanha. A diferença aí – que é a favor da atitude do governo Lula, mas que ao mesmo tempo não o torna vítima – é que o governo Lula não consegue blindar a imprensa como o governo do PSDB consegue, porque tem a imprensa na mão. Então, quando surge alguma coisa, surge como fofoca que desaparece no dia seguinte. Como a coisa do Paulo Preto, que o Serra não respondeu no debate e ficou por isso mesmo. A gente sabe que é um governo que blinda. O Alckmin, como a candidatura dele estava bem, teve a campanha toda em céu de brigadeiro, do começo ao fim, não tinha ninguém que pudesse pegar alguma coisa e contestar. E se pegasse, não ia sair na imprensa. De fato, a grande imprensa se encarrega de censurar quaisquer denúncias sobre os governos que ela apoia. Mas mesmo que a imprensa seja parcial ao denunciar um caso como o da Erenice, o caso em si está errado, não poderia aparecer.

CC: O governo não poderia ficar surpreso com a “escandalização” feita pela grande imprensa, certo?

MRK: Claro! Ele sabe qual é o jogo e não era para ter corrupção deste jeito. Uma coisa ou outra você não controla, uma coisa pequena, mas para mim é difícil responder quando as pessoas dizem: “mas, como? Estava no nariz dela! Era uma coisa que estava a família inteira metendo a mão”. Coloca os petistas numa situação difícil.

CC: Esta eleição está sendo marcada também pela discussão de temas no campo da moral: aborto, religião. O que te parece isso?

MRK: Eu acho que isso mostra o atraso da sociedade brasileira. Porque, claro, nenhum candidato vai ser eleito se estiver em descompasso com a maioria da sociedade. O Plínio foi um exemplo ótimo, de um cara que falava tudo o que tinha na cabeça, tudo o que ele pensa de verdade, de uma forma consistente, porque ele não tinha compromisso de se eleger. O que me espanta é o atraso da sociedade brasileira. E a ignorância aí é apoiada pelo Serra de misturar questões religiosas com questões políticas. Como é que as igrejas começam a pautar a lei agora? Uma coisa é eles decidirem o que é pecado e o que não é, outra coisa é eles decidirem o que é ilegal e o que não é.

CC: E isso acabou virando pauta de campanha presidencial, não é?

MRK: Vira pauta e vira motivo de constrangimento. A campanha do PSDB tem responsabilidades sim, de acirrar esta intolerância religiosa neste momento da campanha. A Dilma respondeu duas vezes no debate da Band que neste País não tem intolerância religiosa. Fica esta irresponsabilidade feia do PSDB estar acirrando isso, mas ao mesmo tempo a sociedade mostra neste ponto como é atrasada. Aparecem comentários de que a Dilma é a favor do aborto como se ela tivesse o poder de decidir, se ela apoia o aborto, vai ter aborto. Como se isso não tivesse que passar pelo Congresso. Além de tudo joga muito com a ignorância do povo.

CC: E os candidatos chegam a “endireitar”, fazer campanha nas igrejas e citarem Deus à exaustão. Não acha que isso tem um papel deseducador, em particular para crianças e adolescentes?

MRK: Isso é o pior. Por um lado, eu acho que o problema da corrupção não é da responsabilidade do PSDB, eles vão extrair o máximo de vantagens que puderem arrancar deste caso da Casa Civil. Por outro lado, é responsabilidade sim, do PSDB e da campanha Serra o tom fascistóide que estas coisas estão adquirindo. É horrível que os candidatos tenham que aparecer ajoelhados comungando, dizendo que são a favor da vida…claro que são a favor da vida, quem é que não é?Agora, é a Igreja que não é a favor da vida. Aí é uma opinião minha. A ONG Católicas pelo Direito de Decidir me convidou para debater e elas pensam assim: a criminalização do aborto é uma questão contra a liberdade sexual da mulher, ponto.Não pode usar camisinha, porque a Igreja também é contra. Então é uma questão de dizer: sexo só dentro do casamento e só para ter filho. É isso, que não está escrito assim, mas é o que está dito. Se não pode usar preservativo, não pode evitar filho, não pode nem evitar infecções, epidemias como o HIV que mata milhões na África, que “a favor da vida” é esse?

CC: O Dafolha divulgou uma pesquisa que diz que a posição contra o aborto na sociedade aumentou depois destas semanas de discussão na campanha, veja o efeito nocivo.

MRK: Claro, porque o que circula é uma desinformação, “coitadinha da criancinha”, “eu poderia ter sido abortado” e “porque eu não fui abortado eu estou aqui”, não é neste grau. E a Marina tem responsabilidade nisso. Mesmo que a Dilma ganhe, a sociedade retrocedeu muito e isso é responsabilidade da campanha. É terrível.


* MARIA RITA KEHL (Site)

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(Abaixo-Assinado (#7204): Dois pesos e a medida do Estadão: manifesto de perplexidade diante do afastamento de Maria Rita Kehl:  (Assine este abaixo assinado): MANIFESTO 

É com espanto, tristeza e indignação que recebemos a notícia de que a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl foi afastada de O Estado de S.Paulo, devido ao texto “Dois pesos...”, publicado em sua coluna no último sábado, 02/10/10. 
(clique http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php  para ver o texto completo).

Consideramos perigoso e estarrecedor que um órgão de imprensa importante como o Estadão, com 135 anos de lutas em prol da liberdade democrática (como ele próprio assinalou em seu editorial de 26/09), um jornal avesso à censura por história e tradição (como ficou demonstrado nos anos da ditadura militar), que este mesmo jornal se sinta hoje à vontade para afastar um de seus colaboradores apenas por manifestar opiniões que desagradam à sua direção.

Com essa atitude, O Estado de S. Paulo vai contra a sua política de praticar a diversidade de opinião e viola os valores básicos que fundamentaram a sua criação.

O que será colocado no lugar do texto da colunista? Os Lusíadas? Receitas de bolo?

Pedimos aos diretores de O Estado de S.Paulo que reflitam sobre essa atitude autoritária, que nega a seus leitores o livre-arbítrio de decidir se concordam ou não com as ideias contidas num artigo assinado, como acontece com frequencia com os de Maria Rita Kehl...

Com o afastamento da colunista, perdem os leitores, o Estadão, a democracia e o país.

Para aderir a esse pronunciamento, clique no link acima do texto.

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Para saber mais:




sábado, 16 de outubro de 2010

Adolescência e Violência:

Recentemente escrevi este textinho que vou postar aqui. A sua escritura se deu por conta do meu estágio em Ênfase Social no curso de psicologia. O projeto de estágio trabalha com o tema dos adolescentes em conflito com a lei. No mês de setembro tivemos um triste episódio com um dos adolescentes do projeto, o que me deixou, particularmente, tomada por algumas questões, como também, ávida pela pesquisa e o desenvolvimento teórico. A dor nos faz escrever, não tenho vergonha de dizer isso. Um sofrimento reconhecido é uma motivação, parafraseando Calligaris.

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    “É preciso conviver com os homens.
É preciso não assassiná-los!”

- Carlos Drummond de Andrade –


A nossa surdez e a indiferença frente ao outro, denunciam o potencial destrutivo que habita em cada um de nós. Partindo desta reflexão, queremos conjugar adolescência e violência, dois termos que agregam em si mesmos, infinitas e diferentes abordagens de estudo e discussão. Para nos guiar neste texto fizemos a seguinte interrogação: Por que os jovens são apontados como os representantes dos maiores índices de violência, se os dados de 2002 apontam que apenas 10% do total de crimes ocorridos no Brasil são praticados por eles, e desses, cerca de 90% são delitos contra o patrimônio? Em contra partida os adolescentes são as principais vítimas deste fenômeno social, dados da UNICEF de final de 2009 apontam que aproximadamente 16 crianças e adolescentes morrem assassinados no Brasil por dia.

A partir da escuta dos adolescentes em conflito com a lei e dos seus respectivos familiares parece-nos muito ingênuo querer responder de forma direta, apontando aqui ou ali os problemas dos adolescentes e da violência, pois são questões singulares e sociais, que se mesclam e interagem. O social é feito de nossas singularidades, portanto, o social do qual falamos aqui é uma configuração humana que passa a ter sentido pela ordem do discurso. Ou seja, é um Outro que me dá a condição de existência subjetiva, singular e, consequentemente, social.

Quais seriam os agentes potencializadores que levariam os adolescentes a desafiar a Lei, depredando o patrimônio público, violando o semelhante através de agressões físicas, furtos e roubos? Uma das questões que devemos levar em consideração é o processo de subjetivação da adolescência na contemporaneidade como um agente potencial para a produção da violência. O desafio constante dos limites da Lei, e os atos agressivos e destrutivos evidenciam a fragilidade dos adolescentes seja do vínculo familiar, seja da vulnerabilidade social – o que aparece é uma posição de angustia frente aos seus desamparos.

Diante disso, podemos afirmar que, “ninguém nasce mau, ninguém nasce bandido, é tudo uma questão de subjetividade, transmissão e oportunidade”. Há poucos dias a mídia noticiou a morte de um jovem de 17 anos, assassinado. Para muitos ele não passava de um delinqüente, um marginal, porém era um jovem, um adolescente jogado na solitária e individualista rede da contemporaneidade, mais um número para os índices da violência. Ele era um sujeito – um sujeito de angústia e de desejo. Na busca desesperada por uma lei que lhe dê suporte desde a infância, muitos adolescentes transgridem, fazem uma busca desesperada por um olhar que lhe diga algo, em outras palavras, buscam que o Outro lhe reconheça e se faça ver.

Esse ato violento, da morte desse jovem, que testemunhamos em nossos jornais, não deve ser vista como um exemplo a outros jovens, pois, violência nenhuma deverá servir como método pedagógico ou coercitivo. Devemos, sim, sermos solícitos e oferecermos a nossa alteridade. Pensar a violência e a adolescência não é matéria fácil e muito menos de uma página, mas deixaremos três questões para serem pensadas: “violência enquanto resposta aos impasses da condição de adolescer; a fragilidade da função paterna e os ideais sociais contemporâneos”. Sem estas conjugações, é improvável que se possa falar deste tema de forma plausível.


* Luciana Valquíria Kremin Mai - Acadêmica de Psicologia Unijuí.


# Sugestão de Leitura:

BAIXE AQUI: Correio da APPOA nº 189 de abril de 2010 (Associação Psicanálitica de Porto Alegre)
Tema: Ato e Transgressão.

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