Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

* A Peste Onírica é um delírio subversivo. Postamos aqui nossas réles "produçõezinhas"; nossos momentâneos surtos de divagações em nome do Real do Simbólico e do Imaginário. Estão aqui nossos ensaios para que possamos alçar outros vôos num futuro próximo. Aproveitem os links, os materiais, as imagens, as viagens. Sorvam nossas angústias, nossas dores e masquem nossa pulsão como se fosse um chiclete borrachento com sabor de nada. Pirateiem, copiem, contribuam e comentem para que possamos alimentar nosso narcisismo projetivo. E sorvam de nossa libido, se assim desejarem.


domingo, 15 de novembro de 2009

ESTUDO PRELIMINAR DO CASO DORA – NOTAS SOBRE O FEMININO


Por: Luciana V. K. Mai

O presente trabalho é um estudo (parcial) do Caso Dora, de Freud. Objetiva levantar questões e discorrer sobre algum conceito que nos salte aos olhos. Detivemo-nos apenas na primeira parte do texto, antes de alcançar a descrição dos sonhos de Dora. Na introdução do Quadro Clínico, encontramos as descrições e conjecturas de Freud sobre Dora, sua família e os sintomas histéricos que a fizeram chegar até o seu consultório. Freud nos oferece uma espécie de biografia de Dora e das circunstâncias de sua atual condição, bem como, das circunstâncias familiares. Assim, nos inteiramos da vida e da história da paciente.


É notório dizer que no Caso Dora se faz presente os conceitos fundamentais da psicanálise, como o Recalque, as Pulsões, o Inconsciente, a Repetição, a Transferência e a Teoria dos Sonhos[1]. Todos os conceitos permeiam o Caso, de forma que podemos, inclusive, pensar densamente, a Sexualidade (Teoria da Sexualidade), o Complexo de Édipo, o Complexo de Castração e assim, discorrer sobre a estrutura histérica e a “complacência somática”, associando conceitos para culminar na histeria propriamente, com singulares características.


Observa-se, no Caso Dora, o que se poderia chamar de um malogro de Freud e, que Lacan vai discorrer inúmeras vezes em seus seminários. Aquilo que escapou a Freud seja por “preconceito de época” ou por não ter conseguido sustentar a análise de Dora por mais tempo, pois que esta o abandona após três meses de análise, é analisado por Lacan – aquilo que a estrutura histérica traz em seu discurso – o que sou? No caso, “o que é ser uma mulher?” O Caso nos remete a discutir a questão da feminilidade, tema que podemos encontrar em dois textos de Freud – um de 1931 e o outro, de 1932. Mas, para além deles, Lacan foi quem melhor elucidou ou problematizou a questão do feminino, pois para ele, “não existe um significante que diga o que é ser uma mulher”. A questão de sustentação do discurso histérico parece ser o ‘colocar-se’ (identificar-se) com a posição do Outro, para responder a demanda do que é ser (homem/mulher) de forma a assim se sustentar. Qual é o desejo da histérica? Ora, saber o que uma mulher deseja.


O que nos faz querer saber de Dora? Pensemos na fantasia e no desejo desta adolescente. Sim, uma adolescente envolvida numa trama sexual – um emaranhado de relações cuja base situa-se num quarteto amoroso. Não seria de estranhar o quão absurda é a sua história – o pai e a Srª K; Dora e o Sr K. O pai barganha com o Sr K para, em troca da filha, ter a esposa deste. O caso é implícito, feito de “inocentes intenções”, diga-se de passagem. Ambos movidos por seus desejos, não é mesmo?! Mas pensemos particularmente no desejo de Dora[2].


Primeiramente vamos aludir de que a adolescência não é uma estrutura, mas tem papel de “revalidação” dos processos infantis, ou seja, a sexualidade infantil terá um novo ideal e o sujeito uma nova posição discursiva. Para tanto citamos Freud:


Um estudo aprofundado das manifestações sexuais da infância provavelmente nos revelaria os traços essenciais da pulsão sexual, desvendaria sua evolução e nos permitiria ver como se compõe a partir de diversas fontes. (FREUD, 1905 – Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade – Cap. II v. VII – Edição Eletrônica das obras Completas de Freud).

Com a chegada da puberdade introduzem-se as mudanças que levam a vida sexual infantil a sua configuração normal definitiva. Até esse momento, a pulsão sexual era predominantemente auto-erótica; agora, encontra o objeto sexual. (FREUD, 1905 – Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade – Cap. III v. VII – Edição Eletrônica das obras Completas de Freud).

A afeição infantil pelos pais é sem dúvida o mais importante, embora não o único, dos vestígios que, reavivados na puberdade, apontam o caminho para a escolha do objeto. Outros rudimentos com essa mesma origem permitem ao homem, sempre apoiado em sua infância, desenvolver mais de uma orientação sexual e criar condições muito diversificadas para sua escolha objetal. (FREUD, 1905 – Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade – Cap. III v. VII – Edição Eletrônica das obras Completas de Freud).

Trouxemos estas citações para melhor ilustrar o caminho que percorre a sexualidade e, assim, pensarmos que Dora, achava-se em plena crise subjetivante da adolescência. Freud não estava tratando de uma mulher histérica, mas de uma adolescente (ainda assim histérica) que lidava com o seu desejo – desejo que se escrevia gradativamente como um desejo de mulher. O grande impasse na história desta paciente era identificar o seu desejo que, por momentos, pensamos estar enamorada do Sr. K. – assim insistiu Freud. Dora, na verdade, estava sim enamorada da Srª K. – e por identificação toma o Sr. K. como objeto do seu afeto, produzindo recorrentes manifestações somáticas e psíquicas – um interessante revés na interpretação: estar no lugar do masculino para responder sobre o feminino. Mas como se tornar uma mulher sem ser como um homem? No texto “A Feminilidade” de 1932[3], Freud procurou responder sobre o feminino, mas logo avisou “(...) A Psicanálise não tenta descrever o que é a mulher – seria uma tarefa difícil de cumprir – mas se empenha em descobrir como a mulher se forma, como a mulher se desenvolve desde a criança dotada de disposição bissexual.”.


Quando Freud nos fala da bissexualidade, não se trata de dois sexos ao mesmo tempo, mas de dois gozos distintos, duas maneiras de buscar a satisfação. Pois, sem um objeto que de conta da falta e considerando-se, que o desejo é insatisfatório, o que se busca é o que falta; então, para satisfazer-se parcialmente, qualquer objeto que carregue as marcas do objeto perdido, pode ocupar lugares que dêem sentido ao vazio. Assim, podemos responder a questão de como Dora desejou a Srª K. identificando-se com o Sr. K. Ela coloca-se numa posição masculina, pois quem deseja é um sujeito que não tem sexo, sendo que é um efeito de significantes.


(...) A realização da posição sexual no ser humano está ligada, nos diz Freud – e nos diz a experiência – à prova da travessia de uma relação fundamentalmente simbolizada, a do Édipo, que comporta uma posição que aliena o sujeito, isto é, o faz desejar o objeto de um outro, e possuí-lo por procuração de um outro. (...) É na medida em que a função do homem e da mulher é simbolizada, é na medida em que ela é literalmente arrancada ao domínio do imaginário para ser situada no domínio do simbólico, que se realiza toda posição sexual normal, consumada. É pela simbolização a que é submetida, como uma exigência essencial, a realização genital – que o homem se viriliza, que a mulher aceita verdadeiramente sua função feminina. (LACAN – Seminário 3 – p. 203)

Lacan nos diz ainda mais, “é na ordem do imaginário que se situa a relação de identificação ($<>a).” Assim, entendemos que, no decurso do infantil é com uma imagem de sujeito que a família se relaciona, antecipando esse sujeito. Estamos no campo dos ideais narcísicos, consequentemente, no campo dos referenciais significantes que operam através de um circuito pulsional e que vão amarrando o desejo a partir deste Outro. A imagem contém uma significação fálica composta de elementos simbólicos. Então, o que o Outro quer de mim? Aderir a uma imagem que é formadora do eu, tomar para si a imagem que é do Outro – uma morte simbólica. O que Dora fez foi, senão, identificar-se com um homem para responder sobre a sua feminilidade – e ainda identificar-se com o Sr. K como que identificar-se com o pai que, por hora, relacionava-se com a Srª K, ou seja, “a fantasia é uma identificação do sujeito com o objeto”. Pois que, a questão histérica gira em torno do pai. Embora o objeto cause desejo, quem o mantém é a fantasia e como tal só busca desejar.


Aventuramo-nos a falar do Caso Dora, tomando os estudos sobre a sexualidade e a feminilidade, um caminho longo e denso. A satisfação foi parcial, pois necessitamos de mais leituras e estudos; sentimos dificuldade, mas avançamos gradativamente. Adentramos por este viés, porque a questão do feminino e do desejo de Dora pela Srª K é o que mais marca o Caso. Então, o desafio foi posto e queremos saber mais... Queremos saber do desejo feminino. Queremos saber o que quer uma mulher...

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BIBLIOGRAFIA:

FREUD, Sigmund. Conferência XXXIII – A Feminilidade – v. XXII – 1932. Edição Eletrônica das Obras Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. A Sexualidade Feminina – 1931 v. XXI. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. Algumas Observações Gerais Sobre Ataques Histéricos – 1908 v. IX. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. Algumas Conseqüências Psíquicas da Distinção Anatômica Entre os Sexos –1925 v. XIX. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. O Inconsciente – 1915 v. XIV. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. As Pulsões e suas Vicissitudes (Os Destinos das Pulsões) – 1915 v. XIV. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. Além do Princípio de Prazer – 1920 v. XVIII. In:____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. A Interpretação dos Sonhos – 1900 v. V, Cap. VII. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. Sobre o Narcisismo: Uma Introdução – 1914 v. XIV. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. O Recalque – 1915 v. XIV. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. Os Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade – 1905 Cap. II v. VII. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. Os Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade – 1905 Cap. III v. VII. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]
____. A Dissolução do Complexo de Édipo – 1924 v. XIX. In: ____ Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Freud. RJ: Imago [200?]

LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 1: Escritos Técnicos de Freud (1953-1954) – 2º ed. – RJ: Jorge Zahar Ed. 1998.
____. O Seminário, Livro 3: As Psicoses (1955-1956) – 2º ed. – RJ: Jorge Zahar Ed. 1998.
____. O Seminário, Livro 4: A Relação de Objeto (1956-1957) – 2º ed. – RJ: Jorge Zahar Ed. 1998.
____. O Seminário, Livro 5: As Formações do Inconsciente (1957-1958) – 2º ed. – RJ: Jorge Zahar Ed. 1998.


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NOTAS:


[1] Na Interpretação do Sonho de Freud encontramos todas as bases fundamentais para falarmos de Recalque, Fantasia e Desejo. Alias, vale lembrar que o estudo do Caso Dora deveria chamar-se originalmente “Sonhos e Histeria”, pois seria este uma extensão dos estudos sobre os Sonhos. Diz-nos Freud: “(...) De onde se origina o desejo que se realiza nos sonhos? (...) Desejos são imortais como os titãs – desejos mantidos sob recalcamento são eles próprios de origem infantil, são moções inconscientes.” (FREUD – A Interpretação do Sonho 1900 – Cap. C. – Edição Eletrônica das Obras Completas de Freud).


[2] Lacan fez a seguinte questão: “Ele (Freud) se pergunta o que Dora Deseja, antes de se perguntar quem deseja em Dora.” (LACAN, Seminário 3 – p. 200.)

[3] FREUD – Conferência XXXIII – A Feminilidade – Vol. XXII – 1932. Edição Eletrônica das Obras Completas de Freud.

Letargia


Por: Gonzalo Penalvo


Como quizera me desfazer, partir-me num infinito de pedaços, dissolver meu Eu no todo, anulando toda tensão em mim contida. Sem mais conflito, medo ou dor, minha essência dissipada na escuridão. Em meus pensamentos ressoa uma canção de morte, melodia inerte proibida para os ouvidos dos vivos. Morte, em suas mãos quero fazer meu leito, repouso absoluto, descanso eterno. Em ti encontrarei liberdade e salvação. Resolve, por fim, a incompletude de minha existência. Faz-me pleno em sua negra profundidade, absorva-me em seu vazio de perfeição. Meu ser a busca numa ansiosa passividade, letargia. Letargia me consome. Letargia, me consuma!

Desejo e Surrealidade

Deusa Isís

Um efêmero detalhe pode (e vai) trazer a mais viva lembrança da memória (para a memória). Com os desejos mais profundos também funciona assim, um signo – basta um signo para que voltemos ao tempo – um lugar, é bem verdade, atemporal.

Quando as Psyques flutuavam, bastava que elas sugassem uma pequena gota de sangue para voltarem a relembrar. Nossos desejos são iguais, basta que molhem os lábios, em alguma reminiscência, para que revivam, renasçam do escuro que tentamos deixá-los. Desejos não podem e nunca serão estancados, perpetuam até o último momento de nossas vidas. “Desejos são imortais como os deuses”.

É surreal?! (eu acho) Porém, não é um código, não é mensagem cifrada é, no mínimo, uma coisa louca, profunda e bem direta – na veia.
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"Murmuras hen?
E é tudo tão simples, um azul seboso, um passar sobre, alguns tombos.
O que?
A vida, azul seboso. Tu crias um caminho de dores para ti, o coração e o UMM são ilusões, descansa.
Não posso, as coisas pulsam, tudo pulsa, há sons o tempo inteiro, tu não ouves?
Mas, são os sons da cor, teu som Srª K.
Como é o meu som?
Quando caminhas pela casa me dizendo mentiras, te fazendo leve, é estridente, uniforme, o apito do homem do trem antes do trem sair, tu sabes... aos poucos te incorporas ao existir do trem e começas a ser o som nevoento das rodas, expulsas uns chiados.
Senhora K, teu som do UMM, me assusta, sabes?
Depois quando te deitas e me tocas, uns graves curtos vão se fazendo, olhe, se os figos emitissem sons quando os abrimos seria esse teu som nessa hora quando me tocas
E depois?
Quando os cães raspam uma terra úmida
Sim, afundam o focinho também, aspiram
Expectativa, alguma coisa viva por ali
Alguns só raspam a terra para espojarem-se depois,
De costas
Não tu, Srª. K., é como se o vento, a terra, a dura cartilagem, em saliva e cheiro
me tocassem, tubas, flautas
Deves ouvir... nem sonatas, nem trios, nem quartetos de cordas, só vida, palpitação. Se pudesses esquecer, Srª. K., teias, torções, sentir a minha mão sem o teu vivo-morte, te acaricio apenas, olha, é a mão de uma mulher, vê que simples, dedos, mornura, te acaricio apenas, e a tua pele teu corpo vai sentir a minha mão como se a água te circundasse, mas não sou eu experienciada em ti, me vês como nunca me pude ver, eu não sou essa que vivencias em ti, és Srª. K. apenas, Srª. K. que pode ser feliz só sendo assim tocada, não é bom? Fecha os olhos procura imaginar o vazio, o azul seboso, pequenos tombos, eu uma mulher te tocando porque te amo e porque o corpo foi feito para ser tocado, toca-me também sem essa crispação, é linda a carne, não mete o Outro nisso, não me olhes assim, o Outro ninguém sabe, Srª. K., Ele não te vê, nem te ouve, nunca sabe de ti, sou eu, sopro e ternura, sim claro que também avidez e sombra muitas vezes, mas é apenas uma mulher que te toca, e metemos vida, é isso Senhora K., é apenas isso, agora vamos, maldita vem viver, vem ser feliz. Vamos, tira essa roupa poeirenta de passado, pega, beija, abre a boca e grita pro invisível, pra luz, pro nojo e fornicas o mundo e aspira as expectativas que nem um cão."


*É meio uma mistura de coisas – Temperos da Vida – Misturei as coisas pra dá certo ou errado o que desejo, então ficou assim...

(Pulsão de Morte)(?)


Por: Gonzalo Penalvo


“Noite passada encontrei-me nos braços de uma implacável dama. Em seu abraço repousei perdendo a realidade. Ela insiste em cravar-me suas presas noite após noite. Extrai-me a vida - e não para servir-se dela – despreza-a e o faz por deleite. Dormi em seu colo, envolto por hipnótico manto, que tal qual negro vórtice absorve minha essência subjugada.

“Siren” obscura, Senhora da noite, entoará novamente sua doce melodia, passaporte para a morada de Morpheus? Magnífica mansão etérea onde anseio refugiar-me. Mundo de ilimitados mundos, de infinitas portas. A cada adormecer vago errante por seus corredores onde o amado e o odiado se unem e pelos quais Desejo perscrutar entre a beleza sublime e a loucura.

Cara Dama, empresta tuas asas à minha percepção, para que nela encontre a chave da noite. Será que adentrando a senda do desconhecido verei o mundo além das aparências? Apenas fantasio o que lá encontraria: angústia? verdade? Êxtase e desespero poderiam surgir entrelaçados, não me admiraria, pois não é esse o caminho do impossível?

Diante dela ergue-se frágil, torpe e insignificante toda construção humana, cujo destino está assegurado na poeira do universo. Serenamente vê isso tudo, apenas observa a transitoriedade das coisas, sorrindo orgulhosamente por estar além destas, por transcendê-las.

Através da morte, tens o controle da vida. Comanda pela passividade. De ti emana uma aura pulsante, constante, letárgica. Em ti aposto minha esperança, oh pulsão de morte!
Dominadora do universo, guia da dispersão, tens assegurada a vitória final.”

sábado, 14 de novembro de 2009

O que é Escrever? Que Implicações tem este Gesto?

Por: Lu May


É estranho chamar de delicado aquilo que nos angustia. A arte, seja ela qual for, é de alguma forma, uma obra de angústia. É um processo criativo ligado ao inconsciente.


Existe um desejo que está presente em toda produção, está inclusive em nossa fala, em todos os versos possíveis. Então, escrever ou fazer arte é falar em nome do desejo movido pelas pulsões; é, sem dúvida, falar de vida e morte (princípio de prazer versus princípio de realidade).


A produção artística tem uma força (drag) que faz a simbolização e traz para a realidade a subjetividade do sujeito. É uma força voraz de significantes – uma vez instituída a linguagem, o sujeito não pára mais. A rede de associações significantes vai circulando infinitamente envolta do buraco faltoso. E não sabemos para onde isso vai nos levar.


Existe algo (que podemos dizer – um algo a mais nas escrituras)... Figuras que o sujeito oculta e revela simultaneamente – os mitos da estrutura do sujeito. A escritura não se faz por si só. Ao tomarmos a obra de algum autor, logo casamos com sua vida. Impossível tomá-la em separado.


Todos nós fazemos ficção, todos nós marcamos a vida com escrituras... A vida de qualquer sujeito daria um livro – escrever é fazer mitos e é representar esses mitos. Escrever é uma tragédia! Quem tem vivência, tem material e esse material tem um sentido. A fala é uma escritura (a escritura é uma fala) com sentido representativo que tenta dar conta do real...

O Louco


Por: Luciana Valquíria Kremin Mai


No Tarô de Marselha, a carta “O Louco”, é marcada pela ausência de numeração, para significar que está à margem de qualquer ordem ou sistema. As alegorias da figura mostram um homem de costas, caminhando com um bastão na mão e segurando no ombro um pau em cuja extremidade há uma sacola – simbologia comum para ilustrar um viajante, retirante – alguém que parte para o mundo desprovido de posses, ou ainda, sem lugar para ficar no mundo. O traje do Louco é de várias cores que se organizam de forma incoerente. Lembra um bufão, figura que fazia a caricatura da corte, de reis e senhores. O Louco lembra um homem solitário e errante que atravessa os campos, sendo agredido por um animal, pois ele não se preocupa com os perigos do caminho porque se sabe invulnerável e imortal, por isso mesmo exposto a todo tipo de faltas.

A representação mística desta carta fala de incoerências, impulsividade e ausência de racionalidade, perda do livre-arbítrio, passividade, inconsciência, perigo de se isolar da sociedade, entre outros auspícios, digamos, negativos, sob um ponto de vista do senso comum. Mas, três características fecham os desígnios do Louco: instinto ativo; irracionalidade e caos.

Na Renascença viu-se surgir uma nova e estranha figura ao longo dos canais flamengos e dos rios da Renânia: a Nau dos Loucos, como ilustrou Hyeronimus Boch. Já por aquela época, os loucos tinham uma existência errante. Escorraçados das grandes cidades, expulsos de suas fortificações e condenados à peregrinação, foi-se firmando o costume de confiá-los, também, aos barqueiros. Desta prática surgia a certeza de que os insanos iriam para longe o quê – nas palavras de Foucault – “os tornava prisioneiros de sua própria partida”. É o mesmo autor quem assinala o caráter simbó1ico da atitude: "A navegação entrega o homem à incerteza da sorte; nela, cada um é confiado ao seu próprio destino; todo embarque é, potencialmente, o último. É para outro mundo que parte o louco em sua barca louca; é do outro mundo que ele chega quando desembarca"[1].

A loucura, a partir do século XVI, passa a ser vista como o oposto da razão – loucura como sinônimo de irracionalidade. O Louco ultrapassou a loucura, no sentido estrito de uma preocupação ligada ao imaginário da renascença, para tornar-se um problema sócio-político-cultural e econômico. Ele passou a ser um transgressor da norma e, consequentemente, uma fonte de problemas, ligado ao coletivo/social, que presa pela moral e os bons costumes. Portanto, os loucos eram todos aqueles que, de alguma forma, transgrediam as leis da sociedade civil – vagabundos, prostitutas, agitadores, pobres, mendigos, criminosos – tratados de maneira uniforme. No mais, eram sempre aqueles que estavam a margem de um padrão considerado normal.

A partir do século XVII, a loucura perpassa por uma classificação de ordem médica, uma espécie de higienização dos costumes. O louco começa a dialogar com o médico, mas a dinâmica da exclusão ainda encontra-se presente, pois é sempre uma classificação por conta dos opostos normal/anormal, razão/desrazão. Novas práticas suscitam uma relação de cura – a loucura é uma doença que pode ser tratada, o louco é um doente que deve ser curado para poder integrar-se e cumprir seu dever de individuo, numa sociedade trabalhadora e produtora de normas.

A exclusão do diferente permeia os discursos no modo como a loucura é vista nas diferentes épocas, seja o louco um personagem da caridade religiosa ou do tipo ocioso e perturbador da ordem ou ainda, um indivíduo doente que perturba a sociedade e é incapaz de integrar-se a ela e produzir, além de representar um perigo social. É a partir desta nova sensibilidade em relação à loucura que nasce a idéia de reclusão – as casas de internação ligadas à ciência da medicina, que no século XVIII desponta e então classifica, emergindo assim, a relação da loucura com a medicina.

Iniciamos com uma pequena ilustração histórica da loucura para, agora, nos questionarmos: O que é normal? O que é patológico? A partir de dois materiais ilustrativos, um de origem literária e outro do cinema – O Alienista, de Machado de Assis e o filme Estamira, de Marcos Prado – produziremos algumas considerações. Pensemos sobre as histórias dos personagens, até onde eles nos levam e o que querem? O que é a psicopatologia? E o que é a Psicopatologia Fundamental?

De acordo com o texto de Manoel Tosta Berlinck, “O que é Psicopatologia Fundamental”, podemos nos referir, ao sofrimento do corpo e ao sofrimento da alma. “(...) Phatos não nasce no corpo, pois vem de longe e de fora. Mas passa necessariamente pelo corpo, ele brota no corpo e rege as ações humanas.” Phatos é relativo à paixão, passividade, sofrimento, passível de tirar proveito para que se transforme em experiência – um discurso sobre o sofrimento, tornando-se patológico como entendimento terapêutico. A Psicopatologia Fundamental é uma posição – uma posição de escuta do Phatos, lugar de transformação do Discursus em experiência terapêutica, ou seja, ouvir a ficção e dar conta da arqueologia do sujeito. Enquanto isso podemos entender a Psicopatologia Geral tão somente como uma classificação das morbidades de um indivíduo, com um discurso voltado às doenças, um logos que prima pelo sentido pragmático e eficaz, na luta para manter uma normalidade hegemônica e herdeira do positivismo, mas nem por isso as duas posições psicopatológicas deixem de se visitarem e relativamente se respeitarem.

Em Estamira, vemos a história de uma senhora que trabalha em um aterro sanitário no Rio de Janeiro. Ela tem 63 anos e foi diagnosticada como esquizofrênica. Estamira nos traz a sua verdade, a sua loucura, o seu Phatos. Logo, nos amparamos não menos do que em Machado de Assis e o seu Alienista. São dois discursos permeados por aquilo que nos assusta, por aquilo que Michel Foucault melhor tematizou – a arqueologia da loucura.

Num primeiro momento queremos dissecar duas palavras. Aliénus, que do latim significa pertencente a outrem, de outrem, em conexão com o grego torna-se allótrios que significa afastar, tornar estrangeiro. De acordo com o Dicionário Houaiss, ALIENADO é que ou aquele que sofre de alienação mental; louco, maluco, doido. E ainda, que ou aquele que sofre de alienação, que vive sem conhecer ou compreender os fatores sociais, políticos e culturais que o condicionam e os impulsos íntimos que o levam a agir da maneira que age. E por último, que ou aquele que, voluntariamente ou não, se mantém distanciado das realidades que o cercam; alheado. Logo, ALIENISTA é o médico especialista em doenças mentais e que diz respeito ao tratamento dos alienados mentais.

A outra palavra é ESTAMIRA. Bem, Estamira é o nome da personagem do filme, não tem uma etimologia, pois que é única: “Eu sou Estamira”. Mas queremos, apenas a título de associação pessoal, dizer que o nome Estamira nos remete à palavra ESTAMINA, que no dicionário Houaiss, significa “capacidade vital de resistência, especialmente, a manutenção por longo tempo de uma atividade ou esforço”. Estamina é uma substância produzida pelo organismo capaz de gerar resistência física. Eis, então o que nos faz, realmente, pensar em Estamira como alguém capaz de gerar capacidade vital, frente a tantas adversidades da vida. Vemos Estamira como uma sobrevivente...

Vamos procurar algumas peculiaridades nas personagens Estamira e Alienista (citarei sempre a personagem de Machado de Assis como Alienista; refutamos o nome de Simão Bacamarte). Ambos nos oferecem um estatuto da verdade.

Em Estamira, vemos o saber religioso – o delírio místico de falar/manter contato com um ser que possui um controle remoto sobre todos os seres e que a escolheu, por assim dizer, como a transmissora da verdade. Em suas palavras: “A minha missão, além de ser Estamira, é mostrar a verdade, capturar a mentira e tacar na cara”. Estamira é o testemunho de uma condição e da condição de outros homens.

No Alienista, também encontramos o estatuto da verdade – uma condição de saber, por hora, um saber da ciência que o escolheu, ou que ele escolheu – um suposto saber, governado pela razão, mas que, no entanto, passará de Alienista para alienado. Vejamos suas palavras: “A saúde da alma, é a ocupação mais digna do médico”. Segue o narrador: “A ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas”. O nosso médico, mergulha, inteiramente, no estudo e na prática da medicina.

É digno de nota que, a ficção do Alienista, é uma crítica à ciência da época de Machado de Assis e, claro, permanece contemporânea. No seu conto, encontramos todas as referências ao movimento antipsiquiátrico, a classificação das patologias e a higienização dos costumes sociais, o que nos faz pensar numa associação ao texto lacaniano A Ciência e a Verdade. No entanto, por mais que nos sentimos tentados, o rumo dessa “prosa”, deveras, será outro.

Voltemos à Estamira. O mais provável, é imaginar Estamira, dentro do conto machadiano, sendo avaliada pelo Alienista e encaminhada imediatamente à “casa verde”. Mas, o Alienista transforma-se numa Estamira “moderada”. E, porque o médico passa a ser o Louco? Excessos! Tanto um quanto o outro, transbordam e passam a interagir com discursos delirantes, que sustentam verdades – a verdade de cada um.

O excesso é um critério para a maneira de ser, portanto, será sempre em relação a uma ordem de normalidade que, digamos, regula a diversidade. A palavra norma está na origem do termo normal, que significa “esquadro”.

Aparentemente, se quiséssemos classificar Estamira numa nosografia psiquiátrica e, ainda, o próprio Alienista, que realmente o fez a si próprio, quando se recolheu à “casa verde”, poderíamos ler os seus sintomas e procurá-los nos manuais de transtornos mentais e classificar, ambos, como esquizofrênicos ou algo do gênero – uma estrutura psicótica – pois, a relação deles com os outros e com o mundo que os rodeia, é delirante. Mas, essa leitura, nos coloca numa posição de observador enraizado numa cultura que reconhece a realidade e o valor da doença como relação de normal/anormal, saúde/doença. Mas, também, poderíamos embarcar na Nau de Estamira e do Alienista e, juntos, contradizermos o mundo, e dizê-lo delirante, pois só nós sabemos a verdade do indizível – e, nesse “trocadilho”, solicitarmos um controle remoto para parar tudo, pois, segundo Estamira, “o trocadilho faz as pessoas viverem na ilusão, e acreditar em coisas que não existem”. É aqui que damos ouvidos à Psicanálise e à Psicopatologia Fundamental, para que possamos ouvir o testemunho de nossa protagonista Estamira, diante das violências que sofreu, mas, sobretudo, da vitalidade e poder de criação, para suportá-las. Eis o poder da palavra.

Na renascença, os loucos foram levados por barqueiros a terras distantes, para bem longe da sociedade. Para Estamira, o aterro sanitário – a sua “terra distante” – transformou-se num refúgio, longe da cidade, mas muito próximo de seus resíduos...

A legenda que aparece escrita no quadro de Boch diz, Meester snyt die Keye ras, myne name is lubbert das, que significa Mestre, extrai-me a pedra, meu nome é Lubber Das. Lubber Das era um personagem satirico da literatura holandesa que representava a estupidez.



Algumas questões que nos nortearam e que podem, sempre, suscitar produções e interlocuções:

O que é a loucura?
O que é o normal?
O que é a psicopatologia?
O que é a psicopatologia fundamental?
Quem é estamira?
Quem é o alienista?
Quem somos nós?

[1] Michel Foucault – História da Loucura. SP: Ed. Perpectiva; 1972. (p. 10 – 12)

A Depressão na Literatura

(Anjo da Melancolia I - Albrecht Dürer - 1471-1528)

Por: Gonzalo Penalvo Rohleder


O termo depressão utilizado na atualidade remete-nos à antiga “patologia dos humores tristes”, citada desde a Grécia como “Melancolia”. Nessa época filosofia e tragédia andavam próximas. Para uma melhor compreensão de suas emoções, os gregos deslocaram-na para seus heróis e deuses. Homero descreve na Ilíada os sofrimentos do herói Belerofonte, condenado a vagar na solidão e desespero.

A melancolia fez-se presente desde os escritos filosóficos de Aristóteles aos textos de Hipócrates. “A melancolia, sintetizou o “pai da medicina”, é a perda do amor pela vida, uma situação na qual a pessoa aspira à morte como se fosse uma bênção.” (Scliar, 2003, p.70)

Enquanto Hipócrates a considerava doença (bílis negra), Aristóteles a relacionou entre a genialidade e a loucura. Associou a melancolia à criatividade: o homem triste é também um homem profundo. O melancólico seria, para ele, excepcional por natureza, não por doença.

São concepções contrárias que marcaram o pensamento ocidental e fundamentam o antagonismo presente ainda nos dias de hoje.

Mesmo na bíblia, podemos encontrar referências à melancolia. Temos “As aflições e paciência de Jó”, passagem bíblica que relata as angústias de um homem fiel a Deus ante todo tipo de provação. Sentado sete dias e sete noites, com amigos que vieram em seu auxílio, Jó passou a falar de suas tristezas:

Pereça o dia em que nasci

e a noite em que se disse:

Foi concebido um homem!

...

Por que não morri em minha mãe?
Por que se concebe luz ao miserável

e vida aos amargurados de ânimo,

que esperam a morte, e ela não vem?
Pois agora eu estaria deitado e quieto;
Teria dormido e estaria em repouso.

(onde se percebe uma transposição da máxima suicida que declara “Queria nunca ter nascido”.)

A passagem acima nos remete ainda à idéia de pulsão de morte. Vemos um sujeito que em seu sofrimento busca radicalmente na morte o alívio, a tranqüilidade e a paz. De certa forma, quisera poder dissolver-se em seu objeto primário de satisfação, a mãe.
Jó caminha pela negação de sua existência, maldiz o nascimento, lamenta e deseja a morte. “Deus, tu me lançaste na lama, e me tornei semelhante ao pó e à cinza”.

Na Renascença, seguindo os ideais de Aristóteles, a arte e a intelectualidade mostraram-se permeadas pela melancolia. Esta, sendo apreciada por seu teor erudito, fez-se muito presente no barroco.

Através do romantismo podemos fazer uma breve associação entre a depressão (melancolia) e sua influência na literatura. O movimento surgiu nas últimas décadas do século XVIII, na Europa. Manifestou oposição ao racionalismo vigente, com uma visão de mundo mais centrada no indivíduo e na subjetividade. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo (fuga da realidade).

Uma temática envolvendo pessimismo e morte também pode ser encontrada em autores como Byron, Goethe, Álvares de Azevedo, entre outros.

Para Manoel Berlinck e Pierre Fédida, no romantismo não é feito o luto da perda. “É assim na alma dos românticos, cultores do vazio da depressão por meio de atividades que visam sempre o encontro de um objeto de satisfação. Perambulam pelas cidades, bares, lugares habitados por outros, que expressam uma incessante agitação, porém, animados por um persistente vazio.”

O paraibano Augusto dos Anjos pode ser um exemplo mais próximo. Cético em relação às possibilidades do amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma, / Nem há mulher talvez capaz de amar-me"), Augusto dos Anjos fez da obsessão com o próprio "eu" o centro do seu pensamento. Não raro, o amor se converte em ódio, as coisas despertam nojo e tudo é egoísmo e angústia. Tal materialismo, longe de aplacar sua angústia, sedimentou-lhe o amargo pessimismo ("Tome, doutor, essa tesoura e corte / Minha singularíssima pessoa").

O romancista sempre revela algo de si nos personagens, e às vezes autor e obra se confundem. Foi o caso, por exemplo, de Virgínia Woolf, escritora britânica, autora de "Orlando" e "Ondas", que se suicidou por afogamento após uma crise de depressão, ou de Sylvia Plath, poeta norte-americana, que se matou intoxicada com o gás de cozinha. Na pintura, Van Gogh cortou a própria orelha e se matou com um tiro.

Logicamente, há autores que mantiveram certa distância entre a realidade e a ficção. É o caso, por exemplo, de Graciliano Ramos, autor de "Angústia", "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere", apenas para citar algumas.
Na filosofia, percebemos a herança pessimista legada a Nietzsche por Schopenhauer, o qual afirma-se ter sofrido de “depressão nervosa”. Para o segundo, o prazer é resumido como breve instante de alívio da dor. Todo prazer seria ponto de partida de novas aspirações, sempre frustradas e sempre procurando realização. Uma cadeia regida pelo desejo onde “viver é sofrer”.

Em 1994, Elizabeth Wurtzel lançou sua autobiografia “Geração Prozac: Jovem e deprimida na América”. No livro ela conta como era sua vida quando foi diagnosticada com depressão nervosa, de como era ao que se tornou devido ao uso de medicamentos, no caso, o Prozac.

Na mesma época, Susanna Kaysen lançava sua também autobiografia, “Moça, interrompida”. No livro ela conta uma fase de sua vida em que tentou suicídio e foi internada em uma clínica psiquiátrica. Seu diagnóstico: Transtorno de Personalidade Limítrofe (borderline personality disorder).

Foi Adolf Meyer que favoreceu a substituição do termo melancolia por depressão, já que o primeiro fazia apelo a um estado do romantismo muito presente na literatura e inadequado a ciência psiquiátrica, que estava em pleno desenvolvimento.

Esses são apenas alguns exemplos, dentre inúmeros, da ligação entre a literatura e as doenças comportamentais como a depressão.

“Ninguém atinge a aurora sem passar pela noite”. - K. Gibran -

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