Quadro "O Pesadelo" de Henry Fuseli (1741-1825)

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domingo, 5 de julho de 2009

Obsessão Norte Americana pela “Personalidade Múltipla”: as querelas do inconsciente

"A extração da Pedra da Loucura - Hieronymus Bosch"
Por: Luciana Mai
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A síndrome da “personalidade múltipla” teve uma ampliação considerável nos Estados Unidos à medida que o DSM III e IV adotava uma nomenclatura da qual desaparecera a nosologia Freud-bleuriana – abandono da teoria da sedução e “descoberta” da teoria da fantasia. Os “estudiosos” estadunidenses lidavam com o conceito de inconsciente como algo dissociado, como se fosse um campo a mais na mente humana.

O fenômeno da “personalidade múltipla” foi definido como um distúrbio da identidade, tal conceito desenvolveu-se no século XIX e desaparece por volta de 1910. No entanto, posteriormente, descrita por Henri F. Ellenberger, essa síndrome deu margem a inúmeros relatos literários. No plano clínico, traduziu-se pela coexistência, num mesmo sujeito, de uma ou mais personalidades separadas umas das outras, e cada uma das quais podia assumir alternadamente o controle das demais.

A partir de 1986, estimou-se em 6.000 o número de pacientes afetados por essa síndrome. Em 1992, considerou-se que uma em cada vinte pessoas sofria desse mesmo distúrbio, a tal ponto que, em todas as cidades norte-americanas, clínicas se especializaram no tratamento da nova epidemia.

A obsessão Norte Americana não para por aqui, os tribunais estadunidenses andavam cheios de casos, assim como os psiquiatras e psicólogos, diga-se de passagem, que, praticamente, todos trabalhavam numa proposta antifreudiana – uma espécie de intifada Norte Americana contra Freud.

Em 1989 com a ajuda do DSM, diagnosticou-se uma mulher com “distúrbio de personalidade múltipla”. Quando foi sexualmente agredida por um homem e levou o caso aos tribunais, o promotor sustentou que a mulher tinha 21 personalidades, nenhuma das quais havia consentido em manter relações sexuais. Os juristas e os psiquiatras puseram-se então a discutir se as diferentes personalidades dessa mulher seriam capazes de depor sob juramento e se cada uma delas tinha ou não suas próprias aventuras sexuais. Em 1990, o homem foi julgado culpado, pois três das personalidades da vítima depuseram contra ele. Após uma contra-perícia, entre tanto, realizou-se um novo julgamento. Alguns psiquiatras afirmaram, na verdade, que a mulher tinha 46 personalidades, e não 21. Assim, era preciso saber se essas novas personalidades também prestariam depoimento no processo...

Casos como esse tornaram-se freqüentes nos EUA. Eles mostram com clareza a que fanatismo pode levar a idéia de que todo ato sexual é em si um pecado, um estupro, um trauma, e de que todo inconsciente é uma instancia dissociada, sem dar margem alguma a subjetividade.

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